A Química do Amor

Uma Tarde Conturbada

Por alguns minutos, Regininha e eu ficamos nos olhando, um encontro de olhares carregado de intensidade, principalmente por parte dela, cujos encantadores olhos transmitem uma fúria sem igual, fúria esta que, no momento, é toda dirigida a minha pessoa.

Eu sinceramente não sei qual é o problema dela, porque ela parece ter uma raiva desmedida de mim. Tudo o que sei é que nem sempre foi assim. Até três anos atrás, as coisas não eram assim, tínhamos uma relação "amigável", por assim dizer, e, ela até ria dos meus flertes. Mas então, Regininha foi passar um ano em Nova York, a fim de fazer a especialização dela em oncologia infantil, e, quando ela voltou para Washington, tudo mudou!

Nada mais de flertes inocentes, de brincadeiras e de uma relação amistosa. Muito pelo contrário, Regininha voltou parecendo uma outra mulher, dura, e, incapaz de deixar eu me aproximar dela, algo que me deixa completamente frustrado.

― Regininha! – Fátima chama a atenção da filha, tirando-me de meus devaneios – Creio que este não seja o momento para você implicar com o Edan!

― Tenho que ir agora. – fala Regininha, sem se importar com as palavras da mãe – Tenho pacientes para atender agora. Assim que possível volto para ver o Rafinha.

― Acho que também já vou. – falo, me dirigindo a Theodoro e Fátima – Tenho de terminar um relatório para enviar ao gabinete de climatologia da ONU, e, infelizmente, eu não posso atrasar a entrega deste relatório. Avisem-me se tiverem qualquer novidade a respeito de Rafael.

― Avisaremos sim, Edan. – me fala Theodoro – Não precisa se preocupar com isso.

Deixo a antessala e me dirijo para o elevador junto com Regininha, que não me dirige a palavra e parece agir como se eu não estivesse ali. O elevador para antes de chegar ao térreo e vejo Regininha sumir de vista, as portas do elevador se fechando em seguida e, ele voltando a entrar em movimento, me levando para o térreo.

Quando as portas do elevador voltam a se abrir eu sigo diretamente para o estacionamento do hospital, rumando para a vaga em que eu deixei o meu carro. Ali chegando, tiro as chaves do bolso e destravo o alarme, abrindo a porta em seguida e me ajeitando no bando do motorista.

Coloco a chave na ignição e ligo o carro, e, enquanto o motor esquenta, coloco o cinto de segurança. Piso na embreagem e no freio, solto o freio de mão, coloco o carro na primeira marcha e vou soltando a embreagem, e tão logo o carro começa a entrar em movimento, piso novamente na embreagem e já engato uma segunda marcha.

Assim que deixo o estacionamento e entro no trânsito as cidade, engato uma terceira marcha e piso no acelerador em seguida, ganhando velocidade. Sigo pela Avenida Pensilvânia com meus pensamentos todos focados em Rafael e, no medo dele não resistir, afinal, nem os médicos sabem ainda se ele vai ficar bem, o que por si só é muito preocupante.

Enquanto dirijo de volta para a minha casa, a preocupação volta a tomar conta de mim, e, por mais que eu tente, simplesmente não consigo tirar meu melhor amigo de minha mente. Durante todo o percurso de volta, quase não presto atenção no que estou fazendo e dirijo praticamente no automático.

Tão logo chego ao prédio, abro o portão eletrônico e sigo para a garagem, para a minha vaga, e, logo vejo o carro de minha mãe estacionado em minha vaga livre. Ótimo. Uma visita de minha mãe era tudo o que eu não precisava neste momento.

Estaciono o meu carro e deixo o veículo, ligando o alarme em seguida e indo direto para o elevador que, por sorte, está no térreo. Aperto o botão as cobertura e apenas espero que ele suba todos os vinte andares do prédio. Assim que chego ao último andar, deixo o elevador e tiro a chave do bolso do meu paletó, abrindo a porta e, entrando em minha cobertura, não me surpreendendo nem um pouco ao ver minha mãe de pé, no hall de entrada e com uma expressão bem impaciente, me esperando.

― Até que enfim você chegou, Edan! – ela fala, de forma exacerbada.

― Boa tarde para você também, mãe. – suspiro – Posso saber o que a senhora está fazendo aqui?

Minha mãe, Victória Vasconcellos é uma mulher de temperamento muito difícil. Ela tem uma mania infernal de querer controlar a minha vida e as nossas brigas constantes são justamente por conta disso.

― Como você não atendeu nenhuma das minhas ligações eu resolvi vir aqui e ver o que está acontecendo.

― Eu estava com a família do Rafael, deixei meu celular no carro. – falo de forma impaciente – Agora que já sabe que estou bem pode ir embora, estou cheio de trabalho para fazer.

― Aposto que estava correndo atrás daquela Regina de novo. – ela me olha com total desaprovação – Até quando vai ficar correndo atrás dela? Será que não percebe que ela não é mulher para você!

― Mãe, chega! Por favor! Eu não estava correndo atrás da Regininha! E se eu estivesse isso não é problema seu! Agora por favor, vá embora! Estou cheio de trabalho para fazer e a senhora conseguiu me deixar com uma dor de cabeça terrível!

― Meu filho, será que você não percebe que eu te amo e que eu quero o seu bem?

― O que eu percebo é que você está querendo controlar a minha vida e as mulheres com quem eu me relaciono! Mas eu já estou cansado disso! Já cansei de falar para a senhora não se meter em minha pessoal mas a senhora simplesmente não me escuta!

― Se eu me meto em sua vida pessoal é porque eu me preocupo com a sua felicidade! Sou sua mãe, sei o que é melhor para você!

― Se sabe o que é melhor para mim então é melhor que a senhora vá embora. Como eu já disse, tenho muito trabalho para fazer.

Minha mãe tenta se aproximar de mim e beijar o meu rosto, mas, eu simplesmente me afasto e abro a porta para que ela vá embora. E, quando ela se vai, suspiro aliviado.

Vou até a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa de água, em seguida, caminho até o armário e pego um copo, enchendo-o com água e bebendo todo o líquido rapidamente.

Em seguida, vou até o meu escritório e ligo o meu notebook, a fim de terminar o relatório que preciso mandar para a estação de climatologia da ONU.