Transilvânia, 1666.
Vlad Drácula retirou com cuidado a capa de Collet de seus ombros e a pendurou no armário. Tomou a pequena mala das mãos da bela jovem e observou o quanto o pequeno e arrebitado nariz da moçoila ficara avermelhado após o frio que tiveram que enfrentar na ida para o castelo. O cheiro de sua vulnerabilidade e fragilidade era inebriante, seus olhos impossivelmente azuis brilhavam encantados e deslumbrados com sua nova moradia.
— Terá tempo para conhecer tudo amanhã, por hora, quero mostrar-lhe algo. — Decidiu Vlad tomando a mão delicada de Collet.
Ele a guiou pelos corredores do castelo que pareciam infindáveis, até que finalmente chegaram ao destino. A biblioteca.
Um lugar amplo, bem iluminado, possuía uma lareira que tornava tudo mais agradável nas noites de inverno. Vlad alimentava um orgulho especial por aquele salão e por suas melhorias que evidenciavam sua assinatura em cada centímetro do vasto salão. Era com certeza o seu lugar preferido de todo o castelo.
Collet encarou as paredes cobertas de livros com descrença, ela nunca havia visto tantos de uma vez só, ela quase se viu no paraíso.
Aquela era a primeira vez que a jovem meretriz conhecia algum outro lugar que não fosse os quartos do bordel de Madame Flaubert.
Vlad segurou seu rosto como uma maçã suculenta, o polegar roçava gentilmente na pele fina das bochechas rosadas, passando pelos lábios escarlates da jovem mulher apenas para lembrar se da textura. A tocava com posse, afinal de contas, havia pago por aquilo. Ele percebeu a moça se arrepiar inteira e tremer, talvez de ansiedade ou de frio. E quase podia ver a pontinha dos seios fartos se enrijecerem sob o tecido azul-claro de seu vestido simples e leve.
Ela era o único toque de cor alegre naquele castelo tão gris. Collet se aquiesceu sob as grandes mãos gélidas do conde. Ele poderia rasgar sua garganta, cortar seu coração com a mão nua e deixar seu sangue quente acumular em sua palma, ele era um predador e a coisa mais assustadora e perigosa que se pode encontrar, para todos menos para Collete. Ou assim ela pensava.
A jovem dama sorriu e o arrastou com carinho para perto da lareira de modo a se aquecer, em uma animação quase infantil. Como se ela fosse a última chama pura que queimava na escuridão, Collet se movia esbanjando graça e beleza.
— Vinho? Deseja algo para comer? — Perguntou ele, como se estivesse saindo de um transe após passar alguns instantes encarando uma pequena e saltitante veia no pescoço pálido da moça.
Ela assentiu. Ele fez uma pausa, segurando-a gentilmente.
— Tu te diferes das outras, Collet. Sabes disso, não sabe?!
Deu um beijo carinhoso em sua testa, e saiu.
Collet o observou ir.
Nos últimos cinco meses era a ela que ele escolhia todas as noites. As outras raparigas do casarão de Mme. Flaubert se derretiam em inveja aquele ponto. E agora, que ele havia comprado sua exclusividade, ela não precisava mais se sujeitar a vida noturna. Ela acreditou que ele realmente a adorava, o que a fazia feliz. Sua adoração incondicional era tudo o que ela desejava. Collet pegou um dos livros que estavam em uma das fileiras e voltou a ficar confortavelmente sentada próxima à lareira. Enquanto esperava, ela ouviu um ruído tilintar vindo por trás das prateleiras de livros. Ela olhou para a porta, assumindo que o conde viria em qualquer segundo. Ele não fez. O tilintar persistiu. Ela escaneou a sala e, hesitantemente, aproximou-se dos livros e pôs se a ouvir o som que parecia vir de um sino de ventos de metal.
Ela observou com a atenção de um detetive o padrão das lombadas ser quebrado por um livro negro ligeiramente fora do lugar. Ela pegou uma vara de aço da lareira para alcançá-lo, tentou puxá-lo para fora da estante, porém havia uma mecânica velha que repuxava aquele livro específico. Então ela tentou empurrá-lo para trás, já que tirá-lo da estante seria praticamente impossível. Exigiu um forte golpe, mas conseguiu, e foi surpreendida com o som que se assemelhava a uma alavanca sendo manuseada.
Ela foi saudada por um cheiro inesperadamente de mofo... e uma brisa inconfundível, flutuando em direção a ela por trás dos livros amarelados de capa dura e paredes frias de pedra rústica. Curiosa e surpresa, ela empurrou cada vez mais a estante e ficou boquiaberta quando um conjunto de escadas foi revelado.
O tilintar continuou, mais alto agora.
Collet olhou para trás cautelosamente. Assim que ela verificou que Vlad ainda não voltara, notou um pequeno castiçal único aceso naquele estreito corredor frio e úmido, tomou em suas mãos e desceu as escadas.
O tilintar ficou cada vez mais alto.
Collet olhou horrorizada. Acorrentadas na parede haviam quatro mulheres. O sangue seco cobria seus pulsos e tornozelos. Três estavam inconscientes, ela acreditava, e pendiam de forma limpa. Uma estava acordada, mas mal. Ela fracamente moveu os braços, causando o tilintar
Antes que ela pudesse se mover, havia um sussurro aquecido em seu ouvido.
— Collet, eu disse que você não é como as outras, — disse o conde — nenhuma das outras foi tão estúpida a ponto de...
Suas palavras foram cortadas pelo cotovelo acertando o rosto. Ele cambaleou de volta para as escadas, apenas a tempo de Collet acertar um golpe na cabeça com o atiçador de brasas da lareira, perfurando assim o globo ocular e o crânio do vampiro.
Collet ficou de pé sobre a figura do sanguessuga inconsciente, um olhar de nojo em seu rosto. Cinco meses fingindo se preocupar com esse desgraçado, cinco meses servindo de escrava de sangue, satisfazendo-o e escondendo seus verdadeiros motivos, apenas para ter acesso a essa sala.
Ela foi até a mulher consciente e soltou seus pulsos. A segurou quando ela caiu de joelhos, emagrecida e fraca.
— Está tudo bem agora, irmã — Collet disse suavemente. — Estou aqui.
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A meretriz e o Conde vampiro
VampirUma jovem prostituta foi escolhida pelo Conde apaixonado para ser sua concumbina. Porém a atmosfera de segredos sórdidos acompanham o casal até seu primeiro dia no castelo, e só será necessária uma faísca para a torre de cartas queimar até a base. C...