"Piiiiii Piiiiii Piiiiii Piiiiii"
Dou um sobressalto na cama. Como assim já são 06:30 da manhã? Isso não é possível! Parece que acabei de deitar minha cabeça sobre o travesseiro.
"PIIIIII PIIIIII PIIIIII", o despertador parecia mais zangado do que da última vez, o som passou de desconfortável para incômodo. Era melhor me levantar.
Mais um dia super emocionante estava começando em minha vida. Acordar, tomar banho, imaginar minha vida perfeita enquanto observo o vapor subir, me trocar, escovar os dentes, mexer um pouco no celular, perceber que me atrasei e me desesperar para chamar minha carona no aplicativo e torcer que ele chegue tão rápido quanto espero ou preciso.
- Para o Edifício Faxton, na principal, por favor.
- Claro moça.
Rezo para que o meu motorista da parte da manhã seja daquelas pessoas quietas ou que sentem quando o passageiro simplesmente NÃO ESTÁ A FIM de conversa. Esses assuntos vazios e desconfortáveis logo de manhã com certeza não são a minha praia. Escutar uma musiquinha e apreciar a paisagem, isso sim é pra mim.
Pra minha sorte, Senhor Jorge era dessas pessoas, não sei se compreendeu devido a como o meu "bom dia", soou, se estava tão cansado quanto eu, ou se apenas não ligava o suficiente para tentar estabelecer uma conversa comigo. Sinceramente, pouco me importava a razão disso, fiquei contente apenas por poder desfrutar de uma viagem tranquila sem ter de me preocupar em trazer assuntos para manter um diálogo durante uma viagem de cerca de 30 minutos, a fim de evitar um clima desconfortável caso se encerrassem os tópicos.
Faltando cerca de 10 minutos para chegar ao meu destino, meu telefone começa a tocar. "Paula" está estampado na tela. Droga! Ainda não estava no horário de trabalho, o que diabos minha chefe queria de mim? Pensei seriamente em apenas ignorar a ligação, dizer que meu celular estava dentro da bolsa, não o escutei por causa do trânsito, por isso deixei passar. Mas então ela viria com todo aquele discurso de "para que serve o seu celular, se não atende uma ligação minha? E se fosse algo urgente?", se não estava com paciência de papear sobre nada com uma pessoa que provavelmente nunca mais veria na vida, com certeza não queria ouvir uma bronca da minha chefe logo pela manhã. Não havia outra saída. Atendi.
- Alô, bom dia Paula, está tudo certo?
- Bom dia Danizinha, tudo ótimo aqui, como está?
- Estou bem...
- Dani, me diz uma coisa, por acaso você está próxima do edifício, já?
- Estou há... só um segundo - tirei o telefone do ouvido e verifiquei o trajeto no aplicativo - em 7 minutos estarei aí na frente, por quê?
- Danizinha, sabe o que aconteceu... eu me atrasei hoje e não consegui comer nada, você poderia comprar um pão de queijo e um capuccino no Café do começo da avenida pra mim?
- Mas eu vou me atrasar...
- Não tem problema, todos temos os 10 minutos de tolerância e você sabe que é bem mais rápido pedir lá na loja do que solicitar uma entrega, não é? Você sabe que se conseguisse, eu mesma iria lá, mas está tudo tão turbulento aqui...
- Claro senhora... descafeinado?
- Me conhece tão bem!
Turbulento, claro, consegui ouvir pelo celular a televisão da sala dela ligada naquele bendito reality show que ela está viciada no momento.
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Lembranças de uma bela manhã de Primavera.
RomanceDaniele é uma adulta normal, com uma vida normal. Ela está acostumada a apenas ver os dias passarem à sua frente, até que em um dia desses, alguém tromba com ela à alguns metros de seu trabalho e algo a faz relembrar de um momento precioso de sua ad...