-POV SERGIO-
Ele jogou mais uma camisa sobre a cama, aumentando perigosamente o monte que precariamente se equilibrava. Suspirando alto, voltou a vasculhar entre suas roupas.
- Você está aí, eu sei que está. -Disse enquanto abria as gavetas. Ele sabia que Pilar não a teria jogado fora, mesmo que ela fizesse isso com frequência para o desespero de Sergio. Sentiu o coração palpitar. Teria mesmo perdido camisa para sempre?
-Corazón! -Se pegou gritando por Pilar, mas é óbvio que ela não responderia. Ninguém responderia. Ele estava sozinho em casa. Um homem de quase 40 anos, recém divorciado, e que não sabia onde estava uma estúpida camisa no próprio armário.
-AH! -Bem ali, entre as caixas de gravatas. Lá estava ela, a camisa mais horrenda que Sergio Ramos García já tinha visto na vida. -Eu sabia que não tinha te perdido. -Disse a abraçando contra o peito. E então se sentiu estúpido como não se sentia há anos.
A camisa era verdadeiramente horrível. De uma cor salmão que não fazia nada pela complexão de Sergio (bronzeado como as praias da Andaluzia, ele gostava de dizer), além de desenhos de palmeiras anêmicas e pássaros de pesadelo. Uma catástrofe fashion. Ele odiava aquela camisa, e odiava ainda mais que ela fosse o único presente que Piqué já tenha lhe dado.
Ele encarou a camisa.
-Definitivamente não vou fazer isso. -Disse jogando a camisa no alto da pilha, que ruiu e desabou aos seus pés. Dia de merda, pensou, e não são nem 11 da manhã ainda.
Foi quando a maldita campainha tocou.-POV GERARD-
Ele não se orgulhava do que aconteceu. Mas as coisas eram como eram e ele não podia negar.
Sergio tinha sido muito claro na mensagem: "venha na hora do almoço."
E Gerard não era burro, a "hora do almoço" claramente significava aquela janela de tempo entre o meio dia e a uma da tarde.
Mesmo assim ele estava parado na frente do portão de Sergio desde as 9:30 da manhã.
Mesmo com a noite insone que tivera, ele tinha sido cuidadoso. Se levantou tarde, demorou no banho, levou muito mais tempo do que o normal para aparar a barba, e mesmo assim o relógio ainda marcava 9:32, –para ser específico–, quando ele chegou na frente do portão branco da gigantesca mansão de Sergio.
Pegando o telefone, decidiu jogar Candy Crush para matar o tempo. Ele não era de se gabar, mas conhecia poucas pessoas que, como ele, já tinham passado do nível 7.450 no jogo. As crianças podiam ter seus FIFA e seus LOL, ele tinha alguns doces para dizimar.
19 fases depois, o relógio teimava em não andar. Suspirando alto, ele saiu do carro e vagarosamente andou até o interfone.
Já houve uma época em que ele tinha a chave da casa de Sergio.
Assim como já houve uma época na qual o mundo estava ao nossos pés, pensou, as mãos enfiadas fundo nos bolsos, mas não mais.
Tocou a campainha mesmo sabendo que Sergio preferia um homicídio duplo premeditado do que uma pessoa que chega adiantada.-POV SERGIO-
-Definitivamente, -Pensou em voz alta enquanto descia as escadas. -Foi uma má ideia.
Gerard Piqué Bernabéu era o tipo de homem que gostava de saber todas as manias de uma pessoa, e então usar esse conhecimento para irritá-la profundamente.
Sergio olhou para o relógio da sala: 11:04.
-Isso é o que você ganha por tentar ser legal, Sergio. -Disse para si mesmo.
Andando pelo jardim, em direção ao portão pode sentir como a casa realmente era fria. Uma coisa da qual Pilar sempre reclamou. Do lado de fora, o dia estava quente e seco, mas na casa uma corrente gelada corria de sabe-se-lá-da-onde para sabe-se-lá-para-onde. Não pela primeira vez, ele sentiu falta de sua antiga casa. Aquela que Gerard tinha ajudado a escolher.
Empurrando os pensamentos para longe com a concentração que ele usualmente guardava para os jogos, Sergio abriu o portão para deixar Gerard entrar.
-'Dia, Ramos. -Gerard disse com um sorriso de lado, que Sergio confundiu com um sorriso envergonhado. -Obrigado pela recepção. -Gerard continuou, passando por Sergio, e deixando que seu braço raspasse, muito brevemente pelo torso do anfitrião.
Foi só então que Sergio percebeu que ele tinha esquecido de por uma camisa.-POV PIQUÉ-
As coisas não podiam estar tão ruins. Simplesmente não podiam estar, já que lá estava Sergio, seminu e corando.
Gerard se ouviu dizendo as palavras com a mesma surpresa que Sergio as ouviu.
-Como nos velhos tempos, huh?
Merda.
-Piqué eu já disse que isso não tem absolutamente nada a ver com... com aquilo. -Sergio o empurrou com um pouco mais força do que Gerard julgou necessário e marchou para a porta da casa, deixando Piqué plantado no jardim, ao lado das rosas e hortênsias. -Não tem nada arrumado, -Disse por sobre o ombro. -Eu não estava te esperando por mais pelo menos duas horas.
Touché.
-Sempre bom te ver, Ramos. -Piqué suspirou e entrou na casa fria que ele odiava.
Seria um longo dia.
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Nos fuimos lejos 💭
FanfictionPiqué e Ramos não foram convocados para jogar na seleção espanhola pela primeira vez em... bem... pela primeira vez em muito tempo. Eles decidem afogar as mágoas no whiskey, e lembrar juntos dos bons tempos. Ótimos tempos.