Liberi Mundi

Capítulo 01 - Guerreiros de luz, mundo em trevas

Estávamos aflitos, tínhamos nos encontrado a pouco tempo em meio aos destroços do laboratório. O caos nos deixou atônitos, mesmo os guardas e pesquisadores que pude ver entre as fagulhas e fogo estavam confusos e tentando entender o que havia acontecido ali.

Por sorte, acaso, destino ou o que quer que valha, estávamos todos juntos, todos ainda vivos. Éramos apenas crianças assustadas em meio a uma súbita destruição.

Uma forte explosão havia atingido o local, destruindo praticamente tudo. Levando quase todo o laboratório ao chão.

Começamos então a tentar encontrar uma saída daquele pedaço de inferno. Passo a passo, entre a poeira e destroços começamos a trilhar nossa rota de fuga.

O local não era uma instalação militar, era uma área de pesquisa e com isso suas defesas não eram robustas, apenas o suficiente para cuidar de algumas cobaias moribundas como nós.

Nesse ponto o único pensamento era sobreviver, o local não estava preparado pra esse tipo de incidente. Talvez lugar nenhum estivesse.

Momentos após a primeira explosão, os gritos que haviam emergido do desespero inicial cessaram num silencio sepulcral.

Nos arrastávamos quando percebemos uma pequena fonte de luz entrar nas instalações destruídas. Ela aumentava cada vez mais, lentamente. Paramos e nos escondemos.

Os corações de todos pareciam querer sair do peito de tão fortes que batiam. Isso era evidente nas expressões de todos.

Logo após a aparição da luz sentimos uma onda de calor crescente vindo dela, aumentava proporcionalmente com o brilho avermelhado.

Foi então que surgia do escuro aquela macabra silhueta redonda e totalmente envolta em chamas. Uma grande bola de fogo. Os grandes olhos enegrecidos vasculhavam o local, a bocarra estava ávida para fazer uso daqueles dentes pontudos. Um monstro pronto para devorar o mundo, pensei.

Ele flutuava levemente, enquanto procurava algo nos escombros. Estávamos, mais uma vez, paralisados. Nunca havíamos tido contato direto esse tipo de criatura, apenas escutávamos histórias e lendas. E mesmo desde muito cedo acostumados com combate franco, aquela visão naquele cenário, era demasiadamente aterrorizante.

Quanto mais próximo, mais claro e quente ficava.

Algo o fez parar e com seus minúsculos braços ele removeu uma placa de ferro do chão, que ao ser jogada para o lado se mostrava agora parcialmente derretida.

Enterrou seus dentes em algo no chão e começou a mastigar. Com o mais leve contato das presas o objeto foi claramente carbonizado. Ele parecia se deleitar com o alimento.

A cada mordida fagulhas eram ritmicamente espalhadas no ar, como um ferreiro no momento de seu oficio.

Após se saciar, o monstros continuou a vagar pela sala e foi quando conseguimos perceber que o que ele havia comido não era algo, e sim... Alguém. Vimos a parte superior do corpo de um dos pesquisadores. Foi o máximo que conseguimos identificar pois estava quase totalmente carbonizado.

Uma forte vertigem me acometeu e sei que o medo também era parte pulsante nos pensamentos dos meus companheiros. Ninguém podia nos julgar, não por isso.

Aproveitamos que a criatura havia se afastado um pouco e seguimos nos arrastando até encontrarmos o que já havia sido a entrada para uma próxima sala, também destruída. Paredes caídas, buracos no teto, fios soltos, metal exposto, poeira alta.

Paramos e conseguimos alguns instantes para tentar respirar e se recompor minimamente. Enquanto tentávamos entender o que estava acontecendo ouvimos passos. Pareciam vir de onde aquela criatura estava. Ao se esgueirar conseguimos ver três soldados iluminados pelas chamas da criatura.