Ela já não conseguia correr, suas mãos tremiam enquanto seu sangue escorria dentre seus dedos mutilados. Katherine estava exausta, sentia todo seu corpo doendo, mas sabia que se parasse, não conseguiria se mexer devido ao ferimento aberto em sua perna.
Enquanto corria de sua morte eminente, Katherine viu uma luz, uma luz forte que saia de uma porta entreaberta. Ela correu até lá e então...Era por volta de 06:15 da manhã, ela estava atrasada para a aula, mais uma vez. Se vestia do mesmo jeito todos os dias, sua camisa do Guns 'n' Roses, calça jeans preta rasgada, bota de plataforma preta e uma blusa também preta. Katherine era o maior esteriótipo de gótica possível, seu quarto com quadros e fotos nas paredes representando a morte, livros de Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft espalhados pelo quarto, uma bagunça horrível. Ela terminava de se maquiar enquanto ouvia em seu celular poemas sobre a morte, ela era fascinada pela idéia de morrer, como se fosse algo bom, algo que deveria ser alcançado. Terminada a maquiagem, saiu de seu quarto e foi até a cozinha onde sua mãe, Louise, a comprimenta com um abraço:
Louise: Filha! Bom dia meu amor, como você está ? - Dizendo com uma voz leve e carinhosa.
Katherine: Não quero abraço, tô bem. - Um tom de voz sério, com um olhar vazio e indiferente.
Louise: Ok... - Se afastando.
Seu pai, Gérard, chega na cozinha também, mas com uma expressão séria:
Gérard: Está atrasada pra aula, de novo.
Katherine: Eu sei, já tô indo. Tchau. - Saindo de casa sem se despedir de sua família.
Era mais ou menos 15 minutos até chegar no colégio se ela saísse no horário correto, mas Katherine não se importava com isso, nem com o fato de sempre se atrasar para o colégio, nem com o amor e preocupação de sua mãe e pai.
Ela estava muito atrasada, mas andava lentamente como todos os dias, sem a mínima vontade. Chegando no colégio, ela vai até sua sala de aula onde recebe uma bronca de sua professora.Professora: Todos os dias é a mesma coisa, você não tem noção que seu mau rendimento pode te causar sérios problemas, Katherine ? Você está no 3° ano e age como se estivesse no fundamental!
Katherine fica em silêncio, olhando para baixo e apenas senta em sua carteira, no meio da sala de aula.
(Horas depois)
Ela sai de sua sala e vai até a biblioteca onde passa todos os intervalos procurando livros sobre vampiros, morte, ou qualquer coisa que satisfaça seus desejos pela mesma. Não achando tais obras, apenas pegou o primeiro livro que viu em sua frente, era Hamlet, de Shakespeare. Sentou-se em uma mesa e ao seu lado estava uma garota, quase da mesma idade, totalmente diferente dela, suas roupas tinham uma cor mais clara enquanto as de Katherine completamente escuras, seu cabelo castanho claro beirando o ruivo era lindo e perfeitamente penteado, o de Katherine era uma mistura de cores aleatórias, mas era fácil de identificar a garota, era Heather, ela também estava no 3° ano, mas em uma sala diferente, estava tão concentrada em seu livro que nem percebeu Katherine ao seu lado.
Alguns minutos depois sem Heather esboçar nenhuma reação sobre a presença de Katherine, ela vê o livro que Heather lia tão atenciosamente, era Hamlet. Foi uma leve surpresa, pois Katherine também tinha pego esse livro. Mas ela não deu importância a isso, apenas continuou ali, folheando as páginas sem o mínimo interesse até que Heather em silêncio se levanta e sai da biblioteca.
Diferente de Katherine, Heather tinha noção de seus horários e se obrigava a segui-los rigorosamente, ela foi até o banheiro já esperando o aviso de que o intervalo iria acabar. Ficou se olhando no espelho por um tempo, suas memórias a incomodavam, a torturavam, até que percebeu que estava atrasada, ficou tão imersa em suas memórias que não tinha percebido que o sinal havia sido tocado e precisava ir para a sala de aula. Indo correndo até lá, ela e Katherine acabam se encontrando da pior forma possível, se batendo quando as duas chegam na esquina do corredor, Katherine saia da sala e Heather ia para lá.Heather: Me desculpa, não percebi que tinha alguém vindo e... - Sendo interrompida.
Katherine: Porra! Não preciso da merda das suas desculpas!. - Com um tom de voz rude e irritado.
Heather ficou em silêncio e foi para sua sala, lá pediu desculpas ao professor pelo atraso, mas como tinha um rendimento escolar ótimo ela não teve problemas com isso.
Já estava na hora de ir embora, Heather sai da sala indo em direção do portão de saída do colégio enquanto colocava seu fone de ouvido, escolhendo uma música. Katherine estava atrás dela, vendo a garota indo embora sem olhar nem se despedir de ninguém. Elas continuaram andando, Heather ainda na frente, e isso inquietou Katherine, elas estavam indo pelo mesmo caminho, mesmas ruas e esquinas, Katherine achou isso estranho já que nunca tinha visto Heather indo por esse caminho, ou sua auto privação de contato com as pessoas fez com que ela nunca tivesse percebido isso. Devido sua música relativamente alta, Heather não percebeu Katherine atrás dela, até que ela chegou em sua casa, mas continuou observando Heather andando até entrar em uma casa próxima a dela.
Heather entrou em sua casa, trancando a porta e indo direto para seu quarto.
Chegando lá, ela jogou sua mochila ao lado da cama enquanto a mesma se jogava nela, exausta. Um pouco depois ela se levantou e foi até o banheiro com sua toalha, ao tirar a roupa em frente ao espelho, ela viu algo terrível, algo que ela odiava. Seu corpo era bonito, invejado por muitas garotas da mesma idade, suas coxas grandes e bem formadas, seus seios também grandes mas tudo em proporção a sua idade, ela também era um pouco magra e com curvas que todas desejavam, porém, havia uma coisa que aos seus olhos, destruía toda essa beleza: suas cicatrizes. Heather detestava aquilo, detestava se ver no espelho e ver apenas um amontoado de cicatrizes absurdamente grandes e profundas, ela tentou ignorar e foi tomar banho. Terminando, ela se enxugou e foi para o quarto, colocando sua roupa, teve que encarar mais uma vez o corpo que ela tanto despreza. Depois disso, foi até a cozinha e pegou uma caneca onde se serviu com café e algumas bolachas, voltou para seu quarto e foi para frente de seu computador, ela escrevia muitos poemas, mas eram sobre a vida, do quão bela e bom era viver, ter experiências novas e aprender cada dia mais que o anterior.
Suas estantes que iam desde seu escritor preferido, Shakespeare, passando por filosofia, um universo de bruxos que não usavam chapéu até chegar em Edgar Allan Poe.
Já estava ficando tarde, ela se preparava para dormir, enquanto escovava seus dentes ia fechar a cortina até que ela viu uma coisa na rua, uma silhueta, uma silhueta familiar, possivelmente uma pessoa, mas que não dava para dizer se era homem ou mulher, o ser olhava para baixo mas virado para a casa de Katherine, Heather não deu importância e fechou a cortina. Terminando sua higiene bocal, se deitou e pegou seu celular, colocou em uma playlist com músicas calmas e acabou pegando no sono.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Almas Vazias
TerrorTraumas e a falta deles, a Vida e a Morte, coisas distintas que acabam unindo Heather e Katherine, talvez para o pior.