Capítulo 1: A fábrica de tortas, parte 1

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Em uma noite enluarada na pacata Londres, o silêncio rotineiro da cidade era cortado pelo ruído de lataria latente que atravessava a rua, da esquina de uma velha padaria então saía um taxi antigo, provavelmente tão antigo quanto o local onde ele parava. Daquele precário carro saía um homem de feições misteriosas, usava um terno mal abotoado e de gravata frouxa, que deu três batidas no teto do carro que como em um código entendia o significado e logo voltava à andar para a escuridão da noite. O estranho deu três passos curtos rumo à porta da padaria, que estranhamente era feita de metal, o som de seus calçados ecoavam pelo silêncio, o suficiente para fazer com que um ruído respondesse de dentro do local, sem muita paciência ele encostava na porta e batia nela, batidas respondidas por dois olhos velozes que surgiram de uma fresta logo acima de onde estava o rosto do homem.

--Qual a senha ?  -Foi perguntado para o estranho-

--Cannoli e expurgo... -A resposta veio lenta, como se estivesse hesitando, seguida de um longo silêncio.-

Os olhos sumiram da fresta, como se entendessem a mensagem, e por um momento um som de trancas era ouvido, como se tivesse uma premonição então o homem se afastou da entrada, indo para a parede ao lado, tapando os ouvidos com suas mãos. Repentinamente a porta fora lançada para longe, como se fosse uma explosão, porém o causador disso era uma enorme criatura que saía do estabelecimento, forte o suficiente para arrancar metal com as próprias mãos e grande o suficiente para que sua sombra feita pela lua encobrisse a própria padaria. O monstro encarava o homem de terno, que lentamente pegava algo do interior de sua roupa e deixava explícito ser uma ficha de documentos que ele logo abriu.

--Solomon Kayne, procurado por atentado ao pudor, agressão, destruição de propriedade e assassinatos. Meu nome é Jacobo, e faço parte da família Gliacio Nero como capo, tenho um mandato para o seu maior crime atual. Traição ! 

O homem então jogava para o alto os papeis que ele lia com tanto apresso, retirando dessa vez uma pistola Luger de seu casaco, com uma bela pontaria disparou duas vezes contra o braço da criatura, que ao sentir as perfurações bradava de ódio e golpeava em cheio o rapaz, que era ejetado para o outro lado da rua, contra uma parede que logo era destruída com o impacto. O monstro não esperou confirmação de morte, apenas começou a fugir pelo concreto, correndo como um animal selvagem sendo caçado e nesse ponto era exatamente isso que estava acontecendo. Jacobo se levantou dos tijolos e sacudiu a poeira da rouba, sorrateiramente entocando um dos blocos em seu bolso antes de correr. Em perseguição ao gigante o homem não teve dificuldades para rastrear os passos da criatura, que deixava um rastro de destruição por onde passava, porém um rastro muito ágil e que estranhamente alguém de porte aparentemente atlético como ele não conseguia acompanhar, facilmente se cansando nos primeiros trinta metros de corrida, sem nenhuma alternativa então ele resolveu alternar seu estilo de perseguição e começou a assobiar. Geralmente não costumava seguir a pé, costumava perseguir os seus inimigos com outra coisa, respondendo ao assobio então surgiu das sombras o velho taxi de antes, em uma velocidade anormal para um carro da mesma aparência, na verdade, anormal para qualquer tipo de carro, porém de certa forma a velocidade era o suficiente para que Jacobo pudesse entrar no carro sem perder o rastro do homem. Uma vez dentro do veículo o homem apontou para frente e falou com o nada que existia dentro do veículo.

-Segue o rastro dele, más não encosta, vamos tentar trazer esse vivo. 

O carro acelerou e foi em disparada, o homem lá dentro parecia acostumado, uma vez que até mesmo um cigarro acendia enquanto corria, porém não iria tragar nada naquele momento. Não demorou muito para que o taxi atingisse a velocidade do alvo, ficando par a par com o monstro que em saltos tentava se desconciliar do veículo que parecia um carro esporte em seu auge, em meio a toda perseguição uma manivela era girada dentro do taxi para abrir a janela, de lá dentro Jacobo segurava o cigarro contra o monstro e tragava lentamente, consumindo toda a peça, com toda a fumaça dentro de si o homem liberou uma densa névoa cinza contra o monstro, que lentamente se asfixiava e diminuía o ritmo aos tropeços, acabando por no fim cair desmaiado na forma de um homem franzino e comum que quase fora atropelado pelo taxi, se não fosse o próprio capo gritando para parar. Uma vez derrubado, o homem foi posto no porta-malas do veículo pelo mafioso, que satisfeito entrava no taxi e se acomodava lá dentro, pondo suas pernas no alto do outro banco, relaxado.

-Para casa agora, o pagamento não pode esperar. 

O taxi então voltava a andar, porém a velocidade do veículo fazia um pequeno panfleto voar do casaco de Jacobo, um panfleto que ele não lembrava ter pego, junto ao tijolo que planejava usar más que tinha esquecido. Era um anúncio, uma fábrica de tortas havia sigo inaugurada e iria fazer um grande festival de comemoração de anúncio, o capo odiava eventos públicos, porém este o chamou a atenção, mesmo sem motivo aparente. O panfleto foi guardado com carinho no porta-luvas do taxi, que quase literalmente voou pelas ruas de Londres, até finalmente sumir na escuridão, de novo. 

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⏰ Última atualização: Jun 06, 2021 ⏰

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Trifle: O cannoli inglêsOnde histórias criam vida. Descubra agora