As sombras da loucura

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Mais uma vez Maya corria entre a fumaça a procura de Carina. Ouvia seus chamados ao longe enquanto as chamas a abraçavam. O desespero e o temor misturados a pontinha de hesitação que a fez paralisar quando novamente a estrutura de cimento ia de encontro ao chão em um som excruciante.

Acorda em um pulo. Senta-se na cama com a mão no peito. Estava suada e os batimentos descompassados. Mal vinha conseguindo dormir e quando o fazia, sonhava com o mesmo momento.

Olha para o relógio em sua cômoda marcando 4:30 da manhã. Suspira levantando-se, rumando até a cozinha para fazer um café. O mais forte que consegue.

Estava precisando para despertar. Não só para sua corrida, mas do pesadelo que vivia a quase uma semana.

Minutos depois estava saindo de casa. Correu até os pés reclamarem e o fôlego lhe faltar. Se joga na grama e se põe a encarar o céu, que naquele dia era cinzento, mas sua prece silenciosa era a mesma.

Pedia o remédio para o seu coração machucado. Pedia Carina de volta.
A médica havia sido levada ao Grey Sloan juntamente ao seu pai e irmão. O estado do DeLuca mais velho era crítico, mas estável. Andrea tivera algumas escoriações e queimaduras de grau leve. E Carina, sua doce Carina, na ânsia de salvar o irmão, colocara a si mesma em risco e o preço por aquela ação impensada, movida sobretudo pelo amor, havia sido cobrado.

A inalação da fumaça pormais tempos do que deveria causou uma intoxicação por monóxido de carbono que a levou a incosciência. Comprometendo parte de suas vias respiratórias que pode ser tratada a tempo. Tudo parecia correr para a recuperação, até se depararem com o aneurisma, provavelmente ocasionado pela oscilação na pressão arterial de Carina durante os dois primeiros dias. Aneurisma que Amelia Shepherd havia operado com louvor.

Tudo dependia agora do próprio corpo da Italiana. Enquanto isso, Maya definhava na espera que já perdurava há quase uma semana.
O irmão da médica tivera alta no dia seguinte ao incidente e, surpreendendo a todos que conheciam o contexto que permeava a relação dos irmãos com a bipolaridade do pai, o denunciou.

Andrea precisou, literalmente, passar pelo fogo, para que aceitasse a realidade. O pai precisava de ajuda e aquela altura, precisava ser detido e protegido de si mesmo.

Vicenzo DeLuca havia rompido as sombras da própria loucura e seus atos quase condenaram ele e os dois filhos a um destino cruel.


(...)


O dia na estação aconteceu como todos os outros: com seus colegas de ofício pisando em ovos ao falar com a capitão. E Maya já nem tinha mais energias para reprimendas. Estava mais vulnerável do que nunca e não poderia negar, nem disfarçar.

Se arrumava para sair sob o olhar atento de Andy. A tenente não precisava verbalizar o que pensava, para que Maya soubesse e por isso, evitara o contato visual.

Mas não durou por muito tempo.

- Maya...

- Hum? – Responde ainda sem encará-la.

- Eu vou com você.

A loira paralisa, tentando entender a frase, não vendo outra alternativa que não fosse encarar a amiga finalmente, com os olhos azuis questionadores.

- Você está enrolando para sair há dez minutos. Eu sei pra onde vai depois daqui. Para onde tem ido todos os dias e tudo bem se não quiser ou não estiver pronta para conversar, mas eu vou com você hoje – Se levanta.

A capitão tinha os olhos marejados, quando sente a mão de Andy enlaçando-se a sua.

- Obrigada – Sussurra com a voz trêmula.

A verdade era que tinha medo. E ele só aumentava conforme os dias se passavam e Carina não mostrava sinal de melhora.

E cada ida ao hospital com essa incerteza em seu coração, tornava-se mais difícil.

A visita naquele dia, entretanto, revelaria uma mudança.

Quando Maya virou o corredor com Andy ao seu lado, a movimentação próxima ao quarto da médica era diferente e aquilo foi o suficiente para que a loira apressasse seus passos.

Não pode entrar de imediato, mas pode ver através do vidro. Uma equipe estava ao redor da maca onde uma Carina acordada e sentada, era examinada.

Como se sentisse a presença da outra. Os olhos acastanhados encontraram os azuis emocionados e Carina sorriu. Fazendo Maya repetir o ato, apoiando uma de suas mãos no vidro enquanto a amiga afagava seus ombros.

E em meio aquele dia nublado sem esperança de qualquer raio solar, Maya pode encontrar novamente a sua luz.

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