Lado a lado

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A viagem foi longa.

Mas quando chegaram ainda era dia. Estavam livres para passear pela região, mas sempre em duplas, no mínimo, e com os celulares ligados. Alguns grupos se formaram para sair e outros ficaram na casa, descansando. Iida caminhava pra lá e pra cá, ora cumprimentando os hospedeiros e agradecendo pela estadia, ora conversando com os professores, perguntando se tinha algo que poderia fazer.

E Todoroki, mesmo sem sono algum, já estava deitado. Vai ser mais difícil do que imaginava, pensou. Ele não fazia ideia do que esperar se tentasse algo, mas planejava dizer o que sente sem esperar nada em troca. Nem em suas fantasias mais mirabolantes via alguma coisa dando certo, mas não custa tentar. Mesmo que esse sentimento seja tão passageiro quanto a excursão.

Passado o primeiro dia, já era sábado à noite. Para a alegria de Shouto, não havia nuvens. No lugar onde morava, observar o céu noturno sequer tinha graça, a iluminação excessiva e artificial era um empecilho. Fazia tempo que ele não via tantas estrelas, sendo a última vez na infância ao viajar com sua mãe e irmãos para visitar seus avós maternos. Todoroki, quando apenas um menino de oito anos, ao contemplar tamanha beleza, prometeu a si mesmo que jamais deixaria de olhar pra cima. Mas deixou, percebendo que o céu de sua casa não era o mesmo da casa dos avós.

Ele não se encontrava distante da casa de hóspedes, mas o suficiente para ficar só. Às vezes, a brisa assobiava e chacoalhava a grama alta, fazendo com que ouvisse a natureza, somente. Todoroki deitou no chão, próximo à relva, respirou fundo e fechou os olhos. Além da viagem, conviver com várias pessoas no mesmo ambiente sem o devido espaço pessoal consome a sua energia. Precisava de um tempo sozinho para abstrair as ideias.

Ou quase sozinho.

Ele ouviu alguém lhe chamar pelo sobrenome. Uma, duas vezes. Abriu os olhos no impulso ao ouvir aquela voz que aos poucos se aproximava, preocupada. Não tinha se assustado por ter sido pego de surpresa, mas seu coração batia depressa. Se não era o perfume, era o toque. Se não era o toque, era a voz. O que mais poderia deixá-lo desse jeito? Sentiu mais uma vez aquele frio esquisito na barriga e sua boca ficou seca. Parecia a sensação de estar numa montanha-russa, o que era estranho já que se encontrava parado.

O garoto antes deitado, agora senta, olhando para trás a procurar quem lhe chamava. Ele sabia quem era e acenou com uma das mãos ao avistá-lo. Shouto, dessa vez, queria ser encontrado.

"Todoro- ah! Aí está você." Iida aperta o passo. "Não deveria estar sozinho aqui, a essa hora! Duplas, lembra?" advertiu. Quando alcançou Todoroki, parou logo atrás dele, mas não tão próximo. "Além de que só podemos sair durante o dia."

"Agora estamos em duplas," disse Todoroki. "Mas antes de chegar aqui você também estava sozinho. Não vejo mais ninguém além da gente, Iida."

"Sim, mas-!" Iida titubeou. Todoroki tinha razão. "Mas antes de eu chegar aqui você estava sozinho e longe da minh- da nossa vista."

Shouto, pela primeira vez, estranhou como Iida tem demonstrado certa dificuldade para verbalizar nas últimas vezes que conversaram. Ele não é assim. Iida é preciso em suas palavras, dizendo o que quer sem machucar a quem ouve. Todoroki não poderia negar que achou tal comportamento adorável - não que ele já não fosse, mas conhecer um outro Iida que provavelmente poucas pessoas, senão ninguém, conhecem, era de fato um privilégio. O representante de classe sistemático, muitas vezes de cara fechada mas não mal-humorado, perdendo a compostura por sabe-se lá qual razão.

Todoroki não conseguiria apreciar tal cena por muito tempo, apesar de querer. Então virou-se, ficando de costas para o colega.

"Uhum."

Anseio • {todoiida}Onde histórias criam vida. Descubra agora