Assassinos de Feiticeiros.

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Notas: Suponho que você já tenha lido, mas isso tem spoilers de jjk, muitos deles, então a menos que você esteja em dia com o manga, não recomendo ler isso. Ou, leia, mas não reclame depois.

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Há um garotinho lá, tão magro e pequeno que Maki tem dificuldades de acreditar que ele está realmente vivo e ele não está. Ela não tem que olhar duas vezes para saber que era um fantasma.

Atrás dela, havia um inferno de corpos e sangue, o cheiro era forte. Não muito longe, seu pai estava caído, metade da cabeça decepada, sangue e matéria cerebral se acumulando numa poça gosmenta. Naoya estava caído do lado de fora da propriedade, assim como Hanta e Jinichi, cuja cabeça estava em...algum lugar dentro do lago de carpas, Maki realmente não se importava.    

Seu trabalho estava feito, os Zenin não eram nada além de um amontoado de carne morta e muito em breve seriam nada além de cinzas. 

Então ela voltou para o poço maldito, onde o cadaver de sua gemea jazia, frio e sem vida. 

Havia um garotinho lá. 

Ele era uma coisinha lamentável, pura pele e ossos, com roupas sujas e soltas em seu corpo, um corte recém feito sangrava no canto direito de sua boca, dando a Maki a visão de seus dentes. O cabelo do garoto se parecia com o dela, escuro, espetado, curto e baixo. Ele...Ele se parecia com ela, uma versão masculina e mais velha e seu eu de oito anos, talvez.

Ela não precisava olhar duas vezes para reconhecer. Naobito o chamou de Toji, a boneca amaldiçoada que invadiu o domínio de Dagon através da fenda criada por Megumi. Embora Maki estivesse ocupada tentando sobreviver naquele momento, o rosto daquela boneca amaldiçoada não era facil de se esquecer. 

A pergunta havia ficado em sua mente quando ela foi obrigada a cortar o cabelo depois que grande parte dele foi arruinado pelo fogo da maldição com cabeça de Fuji. Ela se parecia com aquela boneca amaldiçoada, com o homem que foi transformado numa boneca amaldiçoada. 

Agora era fácil entender, vendo-o uma pequena versão fantasma dele. Ele era um Zenin. 

Ele era como ela. 

Ela era como ele. 

''Gêmeos Zenin são sempre um mal presságio.'' O fantasma infantil comentou, sentado bem ao lado do cadáver de Mai. 

Maki e Mai eram gêmeas, parecidas o suficiente. O fantasma, Toji, também se parecia com sua irmã.

''Embora, eu particularmente ache que todos os Zenins são um mal presságio.'' Ela tombou a cabeça para o lado. Seus olhos eram verdes, a lembrava de Megumi, e não estava focado em lugar nenhum, quase como se ele estivesse em transe ou algo assim. 

A afirmação a fez ter um misto de sentimentos. Ela queria rir do comentário que faria Naobito revirar no túmulo, queria chorar sobre o quão amaldiçoado era aquele clã, como ela, Mai, o fantasma, todos eram amaldiçoados. 

Seus olhos se voltaram para ela, finalmente tomando algum foco. Maki caiu de joelhos, a espada, Mai, escorregando entre seus dedos como a vida de sua irmã havia feito. Ela queria gritar, espernear, implorar por algo, por alguma resposta, qualquer coisa além do vazio gelado que parecia estar prestes a engolir seu corpo, sua alma. 

''Somos um mal presságio para o mundo e para nós mesmos.'' Ele repetiu, mais alto dessa vez. Aquele pequeno corpo ficou de pé, cambaleando para os lábios enquanto ele se arrastava até Maki. 

''O que...O que eu faço agora?'' Ela perguntou, sua voz estava tão vazia quanto seu peito. 

Ela havia destruído tudo, absolutamente tudo, como Mai queria, como ela sempre quis. E no entanto, o que ela deveria fazer agora? Ela deveria se sentir orgulhosa, satisfeita, vingada por todos os anos de abuso e desprezo, pela forma como o clã se colocou entre ela e Mai, por tudo. 

Mas havia apenas vazio, vazio e vazio. 

Ela quase não podia sentir, mas estava lá, pontos gelados sobre sua pele, delicadamente embalando suas bochechas cicatrizadas. Olhos verdes escuros, penetrantes, encarando-a como se pretendesse devorar sua alma.

O que, talvez não fosse tão ruim, apenas deixar ir, se deixar ser destruída, finalmente acabar de vez com o nome Zenin. Encontrar Mai do outro lado.

O fantasma não parecia concordar, seus dedos pressionando com mais força contra a carne, se fazendo sentir, a trazendo de volta ao plano terrestre. Ele olhou para ela com muitos sentimentos de uma vez só, quase demais para entender, digerir. 

Orgulho, pena, desprezo, tristeza, felicidade… 

''Os Zenin são como uma praga, você sabe. Eles chamam pessoas como nós de macacos, mas os macacos são animais realmente interessantes e inteligentes, não?'' Toji sorriu, era feio. Havia sangue em seus dentes e língua, O corte parecia abrir- se mais enquanto ele esticava os lábios. Era horrível, mas era sincero e isso o tornou um sorriso radiante. ''Somos macacos, mas eles são vermes.''

Mais uma vez, ele a encarou profundamente, mas dessa vez apenas orgulho brilhou em seus olhos.

''Você fez bem, Assassina de Feiticeiros.'' 

Um arrepio percorreu seu corpo com o título. Ela queria negar, ela não era isso. Mas ela não era o que? 

Uma assassina? Uma assassina de feiticeiros? 

Porque, isso era exatamente o que ela era agora. Uma assassina fria e vazia, uma assassina que devastou todo um clã de feiticeiros. Por vingança, pelo prazer momentâneo de sentir carne e osso se separarem sob sua lâmina, sob Mai. Pela satisfação de derrubar, destruir, todos aqueles que um dia a chamaram de fraca, a chamaram de macaca. 

Pela emoção de acabar com uma praga particularmente irritante. 

Era isso que ela era agora, quisesse ou não. 

''Assassina de Feiticeiros.'' Ela repetiu fracamente, não havia orgulho nisso, apenas uma aceitação indiferente, uma constatação do óbvio. Pateticamente ela olhou de volta para a criança. ''Era quem você era antes.'' 

Não era uma pergunta. O fantasma sorriu ainda mais, os cantos dos olhos se enrugaram adoravelmente. Se não fosse pelo machucado em seus lábios, se não fosse pela palidez, pela óbvia desnutrição, talvez fosse bonito em vez de macabro. 

Mas talvez fosse assim que as coisas fossem para pessoas como eles, assassinos de feiticeiros, eles deveriam encontrar beleza no que todos achavam macabro..

Ele se afastou e de repente aquela mesma figura de antes, a boneca amaldiçoada de Shibuya, estava parada à sua frente, com as mãos nos bolsos. 

Seu sorriso se tornou malicioso então. 

''Foda com todos eles por mim, Assasina de Feiticeiros.'' 

E então ele sumiu.

E Maki sorriu, ela o faria. Por ele, por ela e por Mai. 

Ainda haviam vermes para exterminar.  

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Notas: Então..Eu vi um par de fanarts, uma na qual Maki tem o titulo 'Assassina de Feiticeiros' atrás dela e outra em que Maki está sentada ao lado de um mini Toji e isso foi suficiente pro meu cérebro entrar em curto circuito.

Os últimos capítulos de jjk tem me matado, seja com o desempenho de Maki ou com as aparições de Toji, que absolutamente é meu personagem favorito do manga. As comparações constantes entre os dois também me atormentam imensamente, certamente vou chorar de emoção se Maki realmente levar o titulo de Assassina de Feiticeiros. Eu provavelmente mataria e morreria por ambos, pffft-

Anyway, eu realmente amo esses dois personagens e queria escrever uma interação entre eles, além de querer explorar apenas um pouquinho os sentimentos de Maki após destruir o clã Zenin.

Ela é basicamente Itachi, agora que penso nisso. So que mais legal, honestamente.

Enfim, isso foi tudo ~

Até a próxima. uwu

Sombras de Um AssasinoOnde histórias criam vida. Descubra agora