Prólogo

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Jamais imaginei um momento como este tão cedo.
Encarei a última carta de minha mãe em minhas mãos trêmulas, escrita delicadamente para mim, abri o envelope e antes de ver o documento que se encontrava lá, peguei a carta e a li:
"Querida Irene,
Minha filha, hoje o médico disse que não tenho muito tempo de vida, antes de ir quero te dar tudo que me restou, esse documento é sobre a casa que lhe entrego, com todos meus tesouros que acumulei durante minha adolescência até agora. Meus livros, os que você semore admirou a partir de agora serão eternamente seus.
Com amor, Sua mãe."
a

crimejei ao chegar a última palavra e uma pontada de dor no peito ardeu, era real, ela se foi.
Tentando meu máximo, li o documento desanimada nas primeiras linhas, quando vi que o terreno se encontrava em Rye, no interior onde nunca fui e seria um bom lugar para fingir que nunca estive nesse lugar entediante como Londres.

A frente do local, me vi a frente de uma casa grande com uma entrada branca com detalhes de creme, um pouco moderna comparando com o resto da cidade que tinha um grande aspecto medieval, que sinceramente achei fascinante, o sentimento de estar numa época diferente parecia incrível! Caminhei pela trilha de pedras, que ao lado tinha um pequeno jardim com apenas grama bem verde, suspirei e rodei a chave na porta.
Era humilde comparando com o luxo que estava acostumada, larguei tudo que tinha em Londres pois nenhum deles nunca significou nada pra mim, perdi quem um dia amei e qualquer amigas, digo, "amigas" que tinha.
O térreo era bem aberto com um teto catedral imenso, estava bem empoeirando pelo tempo que passou largado, uma vibração de imensidão me chocou, senti que poderia gritar e que pouquíssimas pessoas ouviriam. Me conti mesmo desejando fazê-lo, não quero passar uma má impressão de cara! O que os vizinhos pensariam? Que sou louca obviamente!
Passei um tempo limpando, conhecendo o lugar e me acomodando, enquanto explorava, encontro o tesouro de minha mãe. Uma porta simples no fundo do corredor que a frente dele estava a suíte e o lavabo, estava uma grandiosa biblioteca com piso de madeira clara, tapetes claros e várias estantes grandes com livros organizados por autores, em ordem alfabética e do maior pro menor!
Um cuidado extremamente perfeccionista que só ela teria! Seu amor pela literatura veio desde jovem, quando se apaixonou pela leitura com doze anos e consumou diversos livros que via pela frente. Os guardando com maior carinho, eles eram a única coisa desta casa mais limpa, bem cuidada e simplesmente intacta na casa! Ela fez questão de os mante-los perfeitos.
Perto da porta francesa de madeira branca personalizada, com figuras de flores e galhos de cerejeiras, estava algo que parecia uma recepção, lá estava um enorme quadro com todos os livros separados por autores e em ordem alfabética, parecia ter mais livros que poderia contar!
Também havia poemas feitos à mão, desenhos e tudo relacionado a eles, fechei as portas atrás de mim saindo de lá sem acreditar pela beleza do lugar. Entrei no lavabo ao lado, lavei meu rosto e me encarei no espelho por alguns segundos. Minha pele branca como neve, tão abatida que chegava a ser mais como uma palidez não um tanto saudável, olhos finos como de raposas e azuis claros como o céu, lábios avermelhados naturalmente, cabelos sedosos e hidratados castanhos escuros com uma leve ondulação soltos com uma fitinha rosa claro prendendo atrás. Tenho vinte anos, antes disso costumavam dizer que meu brilho natural era divino, como sol... Agora só vejo um rosto sem expressão, vazio, quase morto, detestei ver isto, desgostei perder meu brilho. Virei o espelho e sai chateada pelo o que me tornei, não acredito que herdei este maldito lugar pela ida dela, preferia viver nas ruas do que aqui sem ela! Odeio esse lugar, a biblioteca maravilhosa ou até mesmo o teto catedral!
Enojo tudo que envolva ela ter partido, tremi de raiva, ou era dor? Não sei, parecia tudo misturado, entretanto lágrimas escorriam de forma ardida em meu cenho, não gostei delas igualmente!
Contive o grito que lutou para esvaziar o ar de minha garganta, apertei as unhas na palma das mãos para isso, o que machucou um pouco. Torci a face para o lado trancando os olhos firmemente, até solta-los e ver belas margaridas brancas com um forte aroma na janela da cozinha. Foi a única coisa que não odiei aqui, pois me lembrava dela e o quanto adorava flores e plantas no geral, sorri tímida e uma paz me abraçou, acalmando-me de verdade, talvez seja o espírito de minha mãe me consolando.
Espero que seja, pois funcionou perfeitamente. A dor aparentemente diminuiu um pouco, o ódio talvez tenha sumido, a agradeço por isso.

Margaridas ao luarOnde histórias criam vida. Descubra agora