𝖆𝖓𝖓𝖊 𝟔

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Bebi minha água lentamente porque ainda estava com uma leve ânsia. Terminei de beber a água, ele me ofereceu sal pra colocar em baixo da língua e eu fiz. Perguntei o nome dele e ele disse que era Heitor. Subimos, me despedi dele agradecendo e entrei no meu quarto. Tirei a roupa e fui pro banheiro entrando em baixo d'água e ficando ali por algum tempo. Escutei a porta do quarto abrir e eu abri os olhos, arregalando-os. Meu Deus, será que era ele afim de uma recompensa por ter me ajudado? Engoli seco e logo Lorenzo apareceu; eu respirei aliviada, com uma mão no peito e ele arqueou a sobrancelha.

Lorenzo: A foda foi boa? — A pergunta veio seca, carregada de desprezo. Revirei os olhos e fechei-os novamente, deixando a água escorrer pelo meu rosto quente. Encostei a testa na parede fria, tentando encontrar algum alívio no choque térmico.

Lorenzo: Cansou dos que estão rendendo pra tu e foi atrás do que não deu a mínima?

Abri os olhos devagar e virei a cabeça em sua direção, sem tirar a testa da parede. Ele me olhava de braços cruzados, impassível.

Anne: Sai daqui, Lorenzo. — Minha voz saiu baixa, sem força. Eu não queria brigar, não naquela noite. Fechei os olhos outra vez.

Lorenzo: Negócio foi bom mesmo, né? Te deixou cheia de chupões. — Bufei e virei de costas, me esfregando nos braços, como se pudesse apagar as marcas.

Lorenzo: E mordidas.

Respirei fundo antes de virar de frente para ele, puxando o cabelo para o lado.

Anne: Você sabe que foi você. — Minha paciência estava se esgotando. O cansaço pesava nos meus ombros. — Vai ficar me insultando até quando?

Lorenzo: Por que tu faz isso? — Ele inclinou a cabeça para o lado, como se realmente estivesse curioso. — Adora esfregar na minha cara o quant...

Levantei a mão, interrompendo-o.

Anne: Lorenzo, eu tô bêbada demais, confesso, mas não preciso ficar te ouvindo me humilhar.

Ele riu, sarcástico.

Lorenzo: Te humilhar por quê? Tô só falando a tua realidade. Não é isso que tu gosta de fazer? Aparecer pros outros? Chamar atenção?

Meus olhos arderam. Respirei fundo e inclinei a cabeça para trás, deixando a água quente queimar minha pele. Precisava me recompor. Precisava engolir aquele nó. Fechei o chuveiro, o barulho cessando junto com meu último fiapo de paciência. Abri o box e saí, me enrolando na toalha antes de ir até a pia. Peguei a escova de dentes, tentando me concentrar no movimento repetitivo.

Lorenzo: Se esfregou em todo mundo, foi pra casa com outro, caiu no papinho dele, com certeza...

A voz dele transbordava nojo, e eu encarei seu reflexo no espelho. Meus olhos já estavam marejados, a garganta fechada. Ele estalou os lábios, satisfeito com o estrago. Neguei com a cabeça, terminando de escovar os dentes. Larguei a escova ali, sem força nem para colocá-la de volta no lugar.

Lorenzo: Veio pra casa com um cara que tu nem conhec...
Anne: Você não convidaria pra sua casa, com a sua filha aqui, alguém que você não confie.

Ele riu curto, sarcástico.

Lorenzo: Eu não confio em ninguém, não, Anne. Você que parece confiar, né?

Minha respiração falhou.

Anne: Por que você faz isso? — Minha voz saiu quase inaudível. Eu não queria mais brigar, só entender. Passei as mãos no rosto, secando as lágrimas, mas outras vieram, tão rápidas quanto a dor no meu peito.

𝕸𝖊 𝖆𝖉𝖔𝖗𝖆 {EM REVISÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora