Pontuar o passado

729 103 45
                                    

Analisando o próprio reflexo ao espelho, destacou os fios molhados, - bagunçados por conta da água quente -, a ponta do nariz avermelhada, os lábios um pouco inchados por causa de mordidas que deixou nas zonas, e o os olhos distantes, tentando visualizar ações futuras. Estava nervoso, mentiria se dissesse que não. O peito um pouco angustiado e o estômago revirando e revirando com a comida bem mastigados e ingerida á minutos atrás; um miojo - uma opção super-hiper-mega rápida de jantar, sem muitos preparos ou complicações.

Taehyung estava quase pronto para encarar uma nova realidade; assim contava com a existência dela. Desde a saída do estúdio até á habitação que ficava a vinte e cinco minutos do local de trabalho, Kim não conseguiu tirar da cabeça o desenho realizado por ele mesmo á anos atrás e o pedido do ex-namorado para o marcar na pele, dos olhos buscando por detalhes em seu rosto e dos singelos toques sem quaisquer segundas intenções, mas que conseguiram deixar o tatuador exaltado e com o coração á beira da boca, pedindo para sair de dentro dela metaforicamente. Infelizmente - ou felizmente - a tensão não era efémera. Sempre presente entre os dois homens, tirava-lhes a capacidade de raciocínio.

A hora se aproximava, assim como o nervosismo, que se embrenhava no tatuador. Corrigindo certos pormenores em si, viu-se pronto a sair da residência e partir para a conversa, que cogitava ser profundamente conturbada pelo tanto que tinha que ser posto em causa. Antes de sair da frente do vidro que mostrava seu físico coberto, deu uma última olhada na roupa que vestia. Uma camisa polo de cor preta que cobria metade do pescoço e se alongava até ao quadril. Ela havia sido posta dentro da calça jeans azul escura que era presa por um cinto castanho, assemelhando ao tom pardo. Tapando a vestimenta superior, Taehyung vestia um casaco do mesmo material e cor que a calça. Adorava combinar colorações em seus looks elaborados.

Antes de decidir ser tatuador, Taehyung chegou a pensar em seguir Design de Moda, para que quem soubesse um dia ele pudesse se tornar um estilista. Mas desistiu rapidamente da ideia quando sentiu a paixão pela ação de tatuar florescer. Para mais que o Kim tinha em mente a trabalhar independentemente, ter um horário elaborado por si mesmo, sem pessoas o acompanhando ou intervindo nas suas tarefas. Com isso, depois de muitos estudos, receber ajudas de como utilizar os diversos equipamentos e marcar peles de forma correta e segura, Taehyung tornou-se um tatuador, assim com Namjoon. Demorou algum tempo para o estúdio ser conhecido, mas quando foi, foi á séria. As pessoas se apaixonaram pelo trabalho árduo; os cidadãos entravam vazios e saíam cheios, diferindo elogios aos dois trabalhadores felizes com os feitos.

Antes de sair de casa, Taehyung buscou a carteira, o telefone, as chaves e um par de óculos redondo que serviu de complemento ao visual. Sem grau, visto que não tinha miopia ou hipermetropia.

Jungkook e Taehyung haviam conversado por mensagens durante a refeição noturna do artista. Ainda com formalidade, eles combinaram encontrar-se num parque externo que não se localizava a muitos metros de distância das duas habitações. Antes dessa conclusão, Jeon deu a ideia de conversarem na sua residência, mas Taehyung amassou tal opção com toda a força. Não iria para a casa dele, assim, sem mais, nem menos. Cogitou ser perigoso estar ao lado do ex-namorado num local fechado por muito controle que possuísse. Talvez tivesse pensado muito além do normal, criando ficções e até vendo-se preso num osculo com Jeon. É, o tatuador estava ficando um pouco maluco. Mas a verdade era a seguinte: existiam possibilidades de acontecer qualquer coisa. Eram muitos A's em poucos B's.

Respirando fundo, pôs-se a caminho do local arborizado, onde muitas pessoas costumavam realizar piqueniques á tarde debaixo do sol cálido, e observar as estrelas irradiando luz á noite. Mas não seria o dia em que Taehyung se concentraria nos pontos de luz acima de si, isso deixaria-se para outra hora. Seria o dia que escutaria a voz melodiosa, expulsando palavras depois de outras. Se concentraria no homem, pois seus olhos já eram considerados uma coletânea de estrelas brilhantes; observaria os pontos de luz vibrando dentro das pupilas dilatadas do ex-companheiro.

Sketched BonesOnde histórias criam vida. Descubra agora