Não tinha mais nada para falar. Eu não poderia obrigar alguém a confiar em mim cegamente, mesmo eu fazendo de tudo, mesmo eu me mostrando e me doando. Eu não faria aquilo. Tinha noção das coisas que falavam de mim, que pensavam, de todos os malditos boatos que espalhavam sem pudor e responsabilidade. Demorei mais de 2 anos e meio para poder ficar com a pessoa da qual eu vi ir embora, por ter escutado e visto algo do qual não foi minha culpa.
Meu celular ainda estava em minha mão, que tremia ao ouvir a confirmação de algo que sei que me quebrou por dentro. Levantei e fui até o quarto de Moon, sabia que poderia falar com ela, mesmo que ela estranhasse.
Desde pequeno eu nunca fui de expressar sentimentos. A única vez que disse "Eu te amo" para os meus pais, eles estavam dentro de um caixão. Depois desse episódio, tudo foi por água abaixo. Não falava nem com minha própria namorada, arrumava briga com meu avô, mal olhava na cara da minha irmã; devia ser por sua semelhança com nossa mãe ser gritante. Tão gritante, que me fazia querer gritar sobre a dor que eu tinha.
Fiquei parado no batente da porta de Moon.****
A aula de biologia já estava quase no final, não conseguia prestar atenção no que a professora dizia, já que April tinha dito algo que não fazia sentido algum. Michael traiu Kaira. Isso não fazia sentido e não entrava na minha cabeça.
Minhas pernas batiam fervorosamente contra a mesa.
-Você vai acabar com dois roxos no joelho, é isso que você quer? -Joe colocou uma das mãos nas minhas pernas, fazendo com que elas parassem.
-O que eu quero, não posso fazer! -Olhei para ele e vi preocupação em seus olhos, ele não estava usando sarcasmo. -April não sabe ficar de boca fechada.
-Você que me perguntou, eu só forneci informação, se for precisa ou não, eu não sei. -Ela estava sentada do meu lado direito, enquanto Joe estava do lado esquerdo.
Desde que virei amiga de Joe no oitavo ano, eu, ele e April ficávamos assim em todas as aulas, em trio. O que deixava muita gente incomodada e com raiva dos professores, porque eles permitiam e não ligavam.
-Você poderia ter guardado essa informação. Sabe que tudo mundo vive falando do Michael. -Joe me empurrou para o encosto da cadeira, para ele ter uma visão melhor de April.
-Eu tenho culpa se ele transou com metade das meninas dessa escola? -Eles estavam cara a cara.
-Acho que você tem inveja!
-A aula já vai terminar e com isso o começa das férias, não acha melhor guardar toda sua energia para isso, senhor Foster? -A senhorita Carter encarava a gente com o resto da turma.
-Ótima ideia! -O sinal tocou bem na hora.Saímos da sala em silêncio, tinha dado um aviso que não queria escutar um pio dos dois até que chegássemos no campo de futebol da escola. Hoje era dia de treino e estava esperando uma oportunidade para perguntar a Michael a verdade. Eu conhecia meu irmão, eu ajudei ele a ficar com Kaira, acompanhei o namoro deles, até escutei eles transando (o que era sempre, sempre mesmo). Se eu soubesse pelo menos de alguma coisa, se as fofocas dessa escola fossem mais precisas, talvez eu pudesse ajudar em algo.
Chegamos no campo e o time ainda não estava lá, o que me deixou mais ansiosa.
-Vocês acham que ele faria isso? -Perguntei enquanto sentava na grama. April e Joe me encaravam com uma certa pena. Eles sabiam o quanto eu me preocupava, eles sabiam do histórico.
-Acho que não. -Joe me ofereceu um sorriso. -Ele é outra pessoa quando está com a Kaira.
-Ela foi embora do nada também, não deve ter dado muito chance dele falar algo. -Disse April, abrindo a mochila para pegar seu suco verde. -Tyler disse que ela não queria nem vê-lo, foi tudo pelo celular.
-Todo mundo fala muita coisa, só não dizem o que ele fez! "Tyler disse", "A menina da biblioteca disse", eu não quero saber o que os outros disseram! -Podia sentir minhas bochechas queimarem.
Meus amigos me olhavam com mais pena agora. Não queria gritar, não queria descontar nada em ninguém, eu só queria cuidar e estar na vida do meu irmão, porque ele mesmo não deixava eu fazer isso. Ele e vovô são as únicas pessoas que eu tenho. Nosso avô quase não para em casa por conta das viagens que gosta de fazer de moto, óbvio que ele deixa tudo para gente, mas ainda sim... Michael me ignorava e quando parecia querer cuidar de mim, ele se afastava.
-Eu não queria... Me desculpem. -Minhas unhas estavam cortando a palma da minha mão. Meus olhos queriam deixar as lágrimas rolarem, mas o time tinha acabado de chegar.
-Acho que agora é a melhor hora. -April sorriu e foi sincero.
Levantei e corri até o time. Não gostava de estar perto deles pelo simples fato de: todos quererem me pegar de alguma forma. Michael já quase fora expulso por ter socado a cara de um dos integrantes do time de futebol. Ele me perguntava onde estava o merda do meu namorado e eu dizia "Treinando igual a você".
-Michael!!! -Gritei.
Estava terminando de amarrar as chuteiras. Todos olharam quando eu gritei seu nome. Ele levantou e veio até onde eu estava, mas Tyler parou ele no caminho e falou alguma coisa que eu não consegui ouvir e nem ler seus lábios, mas ele veio mesmo assim.
-O que foi? Eu tenho que treinar, Moon. -Ele se apoiou na barra de ferro do gol.
-O que realmente aconteceu com você e com a Kaira? -Sua expressão mudou automaticamente e agora ele me lançava um olhar que nunca tinha visto vindo dele para mim.
-Não é da sua conta.
-Você me deve satisfação, eu sou sua irmã... -Senti uma dor no braço assim que ele o agarrou.
-Acho melhor você ir, Moon.
-E eu acho melhor você soltar o braço dela, Michael! -Stefan entrou no vão que fazia entre mim e Michael. -Ela só te fez uma pergunta e você poderia ser honesto pelo menos com ela.
Não podia ver o olhar dos dois, mas sabia que não estava nada bem. Olhei para trás procurando April e Joe e eles já estavam vindo. April encarava alguém além de Michael e eu imaginava que fosse Tyler.
-Acho melhor você tirar esse merda daqui, Moon, ou eu mesmo tiro.
-Nós já estávamos indo, não precisamos de suas ordens. -Stefan se virou para mim. -Vamos embora.Stefan levou nós três para casa, perguntei se ele podia ficar e negou, dizendo que tinha treino ainda naquele dia, mas prometeu vir me ver no outro dia.
Não queria ir para casa então fui para casa de April, que ficava literalmente em frente a minha. A gente sempre entrava, largava tudo na sala e subia para ver alguma coisa ou ouvir música até o vizinho reclamar, que no caso não reclama, já que era Vitor e ele nunca estava.
-Você quer falar sobre o que aconteceu? - Estávamos deitadas na cama, uma de frente para a outra.
Ela sabia que não, mas ainda sim me perguntava, mas não por maldade, mas por querer saber se eu estava pronta a me abrir e eu sabia que ela sempre estaria lá para mim.
-Quero falar sobre a fome que estou sentindo. -E é claro que eu não poderia deixar de demonstrar o quanto estava faminta, a mãe dela fazia uma comida tão maravilhosa que eu chorava toda vez que via a comida de vovô.
-Não acredito que você está me usando para poder comer a comida da minha mãe! -Franziu o cenho com ar de ironia.
-Nada disso. Você sabe que só venho aqui para ouvir suas lamentações sobre meninas sem alma que você pega.
-Palavras machucam, sabia? -Disse entre risos. -Eu nem sou mais assim, você sabe.
-Sei? -Enquanto sua risada era controlada, eu já parecia um porco.
-Se você não sabe, deveria saber. -Ela parou de rir. Uma mecha de cabelo caiu sob meus olhos e ela prontamente a tirou com um dedo.
-April?.
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Eiiiii, obrigada por ter lido até aqui!!!!
Perdoa os erros, corretor automático é uma droga. Estarei sem revisando e consertando.
Espero que gostem desse cap, semana que vem tem mais.
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Um de nós
RomanceSim, é mais um daqueles clichês de romance, só que.... com 5? Moon e Michael moram com o avô desde que seus pais morreram em um acidente de carro há dois anos. Desde então seus amigos nunca mais os largaram e também nunca mais foram os mesmos. Segre...