ANDRÔMEDA

Capítulo I

Eu estava dentro de um abraço quente e cheio de ternura. Ele me olhava fixamente e seus braços estavam firmes ao redor da minha cintura. Eu o sentia cada vez mais perto, sua respiração penetrava meus poros, e minhas pernas pareciam flutuar. Ele aproxima o rosto, até que seus lábios finalmente tocam os meus...

-Caroline! Acorde mocinha, você não está ouvindo o alarme? 

Abro os olhos e vejo minha mãe parada ao lado da cama, com o olhar perspicaz de quem parecia estar me observando. Finjo que não percebo e levo o edredom até a cabeça, numa tentativa falha de continuar meu sonho. Ela puxa a coberta e me lembra do meu primeiro dia do último ano do ensino médio. 

-Obrigada, mãe! Já pode sair e me deixar trocar de roupa.

Abro o guarda-roupas e procuro alguma coisa não tão simples, mas nada chamativo. Meus olhos correm de cima à baixo, e não vejo nada interessante. Lembro que preciso comprar uma calça jeans decente, mas enquanto isso vou vestir a do ano passado. Coloco uma blusa preta (pra variar) e uma sandália rasteirinha, penteio o cabelo, passo um gloss e uma máscara de cílios. Pego minha mochila e vou até a cozinha para tomar café e fico pensando no sonho dessa noite. Eu sempre  tenho sonhos com uns caras muito bonitos, e na maioria das vezes eu acordo me lembrando de como tudo aconteceu. Com o passar dos dias, meus sonhos ficaram cada vez mais reais e intensos, inclusive eu já tive orgasmos enquanto dormia. Aquela sensação de estar chegando ao clímax enquanto seu cérebro concentra toda a sua energia naquela região específica tão sensível fazendo seu corpo inteiro formigar... é incrível como nosso cérebro consegue ser tão astuto com os nossos desejos sombrios. 

-E então, já sabe quem serão seus colegas esse ano?

Eu saio do meu devaneio e percebo que minha mãe está me observando encostada na pia com uma xícara de café na mão. Ela tem essa mania terrível de tentar adivinhar no que eu estou pensando. 

-Na verdade não. Perguntei no grupo do ano passado, mas ninguém quis sair nas férias pra checar a lista de alunos em cada turma. 

-Ok. Já está na hora, pegue sua mochila.

Chegamos na escola e minha mãe quis descer comigo, mas eu insisti que não precisava. Desci do carro e fui caminhando até a entrada procurando algum dos meus amigos. Olhei perto da grama e lá estavam Elena e Bonnie acenando pra mim enquanto dividiam uma barra de snickers. Fui andando na direção que elas estavam, contando meus passos mentalmente, quando senti um forte impulso do meu lado esquerdo. Eu me desequilibrei e senti meu corpo se soltar em direção ao chão, mas um braço forte agarrou minha cintura e me segurou antes que eu alcançasse o solo. Abri os olhos e vi um rosto de um cara novo, cabelo loiro, olhos verdes, pele clara como a neve e um sorriso com covinhas tão lindo quanto o entardecer. Ele vestia uma jaqueta preta e botas de couro, parecia gostar de rock. 

Ele me encarava como quem esperava alguma reação ou resposta, então eu me recompus.

-Me perdoe por ter esbarrado em você, eu estava de costas e não vi você passando. Você está bem?

-S...sim! Sem problemas, tá tudo bem. 

-Ok. Me desculpe de verdade. 

Disse ele saindo em direção ao pátio enquanto eu fiquei avaliando seus passos se afastarem. Por um segundo, eu pensei em perguntar o nome dele, mas balancei a cabeça pra mim mesma como sinal de negação e fui andando em direção às meninas. Ambas ficaram sorrindo com cara de aprovação enquanto gesticulavam todo o acontecimento com o cara desconhecido. Eu coloquei a mão no rosto e sorri de volta, e sentei na grama do lado da Elena. 

-Ai, que gatinho! Já sabemos quem vai ser seu primeiro crush desse ano.

Elena disse sorrindo, com aqueles cabelos castanhos embaçando em seu rosto e os olhos perspicazes esperando uma reação minha.

-Você perguntou o nome dele?

Disse Bonnie apoiando os cotovelos nas pernas de Elena e olhando na minha direção. 

-Na verdade não, eu fiquei sem graça de fazer isso logo de cara. Não gosto de parecer atrevida. 

Nós nos recostamos no coqueiro gigante nas nossas costas e ficamos jogando conversa fora, esperando o sinal tocar.

-Já sabem onde é nossa sala?

-Sim, 3°A. 

O sinal tocou e fomos em direção ao pátio para entrarmos em aula. De primeira impressão, eu reconheci mais da metade dos meus colegas do ano anterior. Nossa primeira aula era de literatura, porém o professor atrasou alguns minutos. Eu me virei para o fundo e fiquei observando Matt e Tyler conversando sobre alguma coisa aleatória e sorrindo alto. Eles perceberam minha atenção e acenaram pra mim. Eu sorri e me virei pra frente quando ouvi o giz riscando o quadro.

-Marcellus Gerard. Podem me chamar de Marcel. Sou o professor substituto da professora Sophie Deveraux. Ela se mudou para Nova Orleans, por isso eu vou dar aula pra vocês este ano. Minhas regras são simples: prestem atenção na aula e não se atrasem. O resto vocês conseguem como consequência. 

Fiquei extasiada vendo aquele homem lindo falar, e só conseguia pensar em como ele era jovem para ser professor. 

Como era o primeiro dia de aula nós fomos liberados mais cedo, então fomos eu, Elena, Bonnie, Matt e Tyler sentar na sorveteria próxima da escola. Enquanto jogávamos conversa fora, uma range rover passou na nossa frente, e no volante estava aquele cara loiro do sorriso lindo que eu esbarrei mais cedo. Ele se inclinou um pouco e sorriu na nossa direção, fez a curva e desapareceu em uma das ruas de Mystic Falls. Meus amigos me encaravam sorrindo, exceto Tyler, que ficou sério enquanto tomava sorvete. Perto da hora do almoço, nós nos levantamos e fomos embora, depois de ficar 2 horas em frente à sorveteria planejando nosso fim de semana. Eu sabia que aquele ano seria diferente, e eu iria aproveitar cada segundo dele.