Ouvi o som do projétil, era distante, apesar do aperto no peito.
Quando ouvi pela última vez?
Estava chorando e pedindo aos céus por conforto?
Hoje sentada na rede ao som dos pássaros e asas de insetos fazendo polinização no jardim, fito a clareza da água e como a brisa leve que passa pelo meu rosto tenho a plenitude da certeza.
Mereço sim.
Por que não? Por que vim de lá? Onde o outro morre e ninguém vê? Onde precisa correr contra o tempo para ter o mínimo e ainda assim não o receber? Não mereço voar também? Eles não querem nos ver nos seus lugares, com suas roupas, seus carros, suas casas. Mas são nós, vieram de nós.
Não podemos ter de volta.
Não podemos criar o novo.
Não podemos nada.
Sinto a dor dos que precisam.
Choro ao lembrar da fome.
Choro ao lembrar do outro eu.
Repito, mereço.
O coração é rico de amor,
mereço esse valor, não o oco.
Que diferença tem entre nós?
Tenho os mesmos traços, o mesmo liso.
Tenho a passiabilidade, essa me protege.
Ou deveria.
mas não a protegeu.
Por que então, é tão distante a visão do sonho?