•Prólogo•

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Você já se perguntou o que poderíamos ter sido?
Você disse que não faria, e você ferrou com tudo.
— Gnash (Olivia O'brien) - I hate u, i love u.

Dezembro, 2017.
Tóquio.

    O barulho do salto era ouvido a cada passo despreocupado de Amaya enquanto ela cantarolava baixinho a música que tocava em seu fone

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    O barulho do salto era ouvido a cada passo despreocupado de Amaya enquanto ela cantarolava baixinho a música que tocava em seu fone.

    Apertou o corpo com os braços, abraçando a si própria, tentando inutilmente se proteger do frio daquela madrugada de inverno. O metal frio da arma recém guardada em sua cintura começava a incomodar; ela cogitou dar dois tiros em uma lata de lixo qualquer apenas para esquentar o cano, mas pensar no trabalho que teria caso algum policial escutasse a fez desistir.

    Cupid's Chokehold foi a música interrompida quando o celular começou a vibrar no bolso de seu sobretudo preto. Decidiu ignorar, só duas pessoas tinham seu número e tinha certeza que não era Kazutora quem estava a ligando as duas da manhã. Sorriu satisfeita quando o toque da chamada cessou e a canção de Gym Class Heroes voltou a ser ouvida por ela.

    Mas fora só alguns passos para ela resmungar um palavrão e puxar o celular do bolso, atendendo contra sua vontade.

    — O que você quer, Tatsuo? — Questionou em tom seco.

    — Tenho um trabalho para você, baby... Para essa manhã.

    — Resolva suas merdas sozinho, projeto de traficante! — Conseguia imaginar perfeitamente o revirar de olhos do homem do outro lado da linha.

    — Você sabe que não é como se eu estivesse te dando uma escolha. Você está na minha mão, esqueceu?

    Ela arqueou uma sobrancelha, inclinando a cabeça e enfiando a mão livre no bolso do sobretudo.

    — No momento em que você me matar, um contato meu de confiança vaza tudo que sei sobre você para a polícia e pior, para o seu querido papai. — Sorriu de maneira presunçosa. — E então, nos veremos no inferno, Tatsuo... Estamos um na mão do outro, não é divertido?

    — Você é uma vadia. Sabe disso, certo?

    Amaya riu nasalado.

    — As melhores sempre são.

    — Eu tenho informações sobre a Bonten. Mais interessada agora?

    A Motsuki estalou os lábios e fez uma pequena careta, contendo o resmungar de um palavrão. Óbvio que estava mais interessada agora, aquele era o único motivo dela estar andando pelas ruas de Tóquio em uma madrugada fria, com uma arma de fogo na cintura e sem rumo aparente.

    Odiava os trabalhos dados por Tatsuo. Normalmente eram complexos demais e exigiam muito mais do que um simples disparo. Mas o herdeiro da Máfia Marducci sempre tinha as melhores informações sobre a Bonten e isso era algo que ela não podia simplesmente ignorar.

    — O que quer que eu faça?

    — Nada muito grande dessa vez... Acho melhor explicar pessoalmente, onde você está?

    Mas ela não respondeu. Amaya sentiu seu corpo tremer e sua boca secar. Ela não conseguia mais dar passo algum, os olhos cinza estavam arregalados e observavam a figura que estava alguns metros de distância a sua frente.

    Ela sabia que era ele. O reconheceria em qualquer lugar.

    Sentado na pequena escadaria que levava a entrada de um prédio não muito alto, Mitsuya mexia no celular entretido o suficiente para não notar a mulher que o observava de maneira atônita.

    Sem que notasse, uma única lágrima desceu de seu olho esquerdo.

    Memórias a invadiram e tomaram conta de si. De risadas a brigas, Mitsuya era a única coisa em sua mente agora. Era como se não existisse mais nada naquele momento além dela e do homem alheio aquela situação.

    Uma década. Uma década que não o via.

    Por escolha sua. Apenas sua.

    E por mais hipócrita que fosse, contra sua vontade se pegou torcendo para que ele levantasse o rosto e que os olhos cor lavanda dele se encontrassem com os cinzas dela.

    — Onde você está? — Tatsuo perguntou novamente, a tirando daquele transe.

    — Me espere na minha casa, já estou chegando. — O respondeu, tentando ao máximo não soar nervosa como estava.

    — Você odeia que eu vá pra lá... — A voz desconfiada era evidente.

    — Apenas vá. Leve seus seguranças se está com medo. — Provocou. — A senha é trinta e um, dez, vinte, zero cinco.

    E desligou.

    Não queria dar brecha para que Tatsuo fosse até aquela rua. Não com Takashi ali. Ela queria manter tudo aquilo o mais distante possível dele. Queria o proteger da bagunça que a cercava mesmo que aquilo significasse deixar aquele maníaco adentrar seu apartamento.

    O mandar para lá foi uma atitude impulsiva que a fez se arrepender rapidamente. Poderia ter pensado em outro lugar, qualquer lugar. Mitsuya apenas estava ali, sentado sem ao menos a olhar e ainda assim trouxe aquele lado impulsivo de Amaya. O lado que agia sem pensar, que agia na emoção.

    O encarou por mais alguns segundos com os lábios entreabertos. Queria chorar. Sentiu todo seu corpo implorar para que ela deixasse que as lágrimas tomassem conta de seu rosto.

    O ver depois de tanto tempo a fez se questionar se sua vida foi um erro. Se ela teria sido feliz se tivesse tomado outro rumo. Se ainda estaria do lado dele...

    Não se permitiu chorar. Não por orgulho, mas por saber que se deixasse mais uma lágrima escorregar pelo seu rosto não conseguiria controlar as outras e talvez por exagero, tinha medo de nunca conseguir parar de chorar.

    Odiava aquilo. Odiava o que havia se tornado. Odiava principalmente ter seguido aquele caminho e não ter chegado a lugar nenhum.

    Ela engoliu. Engoliu todo aquela angústia, engoliu o arrependimento, a saudade, o medo, a raiva e a vontade de esquentar a arma com um tiro em sua própria cabeça.

    Deu meia volta, saindo da rua pelo mesmo caminho que entrou, evitando passar em frente ao ex capitão da segunda divisão da Toman.

    Se lembrou de todos as linhas do tempo que Takemichi lhe contou no passado e riu seco.

    Talvez não houvesse finais felizes para algumas pessoas.


Drowning ⋯ Tokyo RevengersOnde histórias criam vida. Descubra agora