Sonhos e Pesadelos

Coelho intrometido

Quando era minúscula, um coelho em uma floresta, me disse que se eu não  fosse boa o suficiente não teria amor e ninguém ligaria para mim, ele falou com todas essas palavras.

Ele dizia que não podia ser como os pássaros que ali estavam, cantavam alto demais, ou como os lobos, muito afobados e famintos, como os peixes do lago, calmos demais e sem muitos objetivos.

Desde que este coelho me disse isso, passei a delimitar até os menores passos que eu tomaria, não poderia errar e magoar alguém.
Não poderia haver nada além de acertos, então cresci e continuei a mesma, mas por tentar acertar tanto, por ironia da vida, era a que mais errava.

Criei um cenário na minha cabeça em que estou fazendo coisas legais para estes coelhos jurados me darem um dez, nestas ilusões sou extremamente bonita, cativante, sorridente, tenho um charme inabalável e sei cantar e dançar, e todos ficam impressionados com minha performance, me aplaudem e jogam flores — todos se preocupam.

Se morro, eles choram, inconsoláveis, dizem que eu não poderia ter ido.

Todos que estão neste devaneio são seres que fizeram o papel do tal coelho da floresta, por um curto ou talvez longo período de tempo, tento agradar quem tem jeito deste bicho falante, eles são maiores que eu, mais inteligentes, mais fortes.

Os pássaros, os lobos e os peixes, eu nunca tentei agrada-los, nem a quem se parecia com eles, pois não ligavam se eu falhasse, não me tiravam limites para ser perfeita.

O tal coelho não aparecia muito, tinha a falsa sensação de que ele cuidara de mim, mas estava enganada.

Tornou-me influenciável e fez com que eu não soubesse negar nada em minha vida, até fazer coisas que eu não quisera. O coelho morreu e sofro por isso, mas não posso arrancar sua responsabilidade por minha necessidade de alguém me dar notas como se viesse a ser um objeto.

Não há mais conversa, preciso de terapia.