''Você jura que é tudo culpa minha porque você sabe
Não somos parecidas, não somos parecidas, oh não somos
Amigos antes unidos, escrevemos nosso nome com sangue
Mas você não consegue aceitar que a mudança é boa
Você me trata como uma estranha qualquer
É melhor que eu vá pelo meu caminho
Ignorância é sua nova melhor amiga.''Ignorance — Paramore
meta pro próximo capítulo: 200 estrelinhas e 300 comentários
Espio através das janelas o agrupamento de nuvens cinzentas no céu. Em breve, a chuva irá despencar sobre Whitley River e eu preciso chegar ao ponto de ônibus antes de ser encharcada por ela. Minha mão vacila em torno do garfo quando volto meus olhos para meu pai, sentado há cinco cadeiras de distância, na ponta da mesa. O espaço entre meu assento e o seu não representam nem um pouco do abismo entre nós dois.
A tensão é palpável, eu mal ouso respirar.
— Tem um guarda-chuva no hall de entrada — disse-me com a voz de barítono, quebrando o silêncio sepulcral.
Aproveito a dispensa implícita na frase para me levantar, deixando duas torradas francesas intocadas no prato. Ajeito a alça da bolsa no ombro antes de deixar a casa.
Sigo pela rua vazia de casas padronizadas — todas grandes, com jardins e pátios extensos — até o ponto de ônibus mais próximo, o guarda-chuva comprimido sob um dos braços. O transporte chega um momento depois, então me sento no lugar de sempre, um banco isolado com uma janela.
Gosto desse ônibus porque está quase sempre vazio, tem sempre cinco, talvez sete pessoas nele nesta hora da manhã e todos são completos estranhos. O ônibus me deixa a um quarteirão de distância da escola e é neste momento que uma gota de chuva respinga na ponta do meu nariz.
Abro o guarda-chuva e protejo-me da chuva iminente. Quando chego na porta da escola, estou parcialmente encharcada e solto um suspiro, porque provavelmente vou pegar um resfriado. Os corredores estão agitados, o que indica que cheguei na hora certa. Ando até meu armário, fazendo a combinação de sempre. Pego o livro de Álgebra e bato a porta de metal azul desbotado.
Uma música do Elvis Presley que não lembro o nome começa a tocar pelos alto falantes e quase não ouço a voz que vem da minha esquerda:
— Reagan.
Eu me viro, alguns livros empilhados nos braços.
Meus olhos se conectam aos de Mackenzie Yamazaki. É difícil não reparar nela com o estilo anos 1950. Os cabelos castanhos escuros têm algumas mechas rosa-shocking; há um piercing em seu lábio superior que imita a pinta da Marilyn Monroe e uma pequena tatuagem na lateral do pescoço. Seus olhos são angulados e estão sempre com alguma sombra colorida por cima da dobra epicântica. Ela é uma fusão de Katharine Hepburn e uma Punk Girl.