"Bem, bom pra você
Você parece feliz e saudável, não eu
Se você já se importou em perguntar
Bom para você
Você está indo muito bem lá fora sem mim, baby"— Good 4 You, Olivia Rodrigo
Meu pai é do tipo que tenta enxergar sempre um lado bom, mesmo quando ele não existe.
Moramos em Whitley River, uma cidadezinha ínfima e fria do estado de Wisconsin. Quando eu era pequena, ele tinha o hábito de juntar várias pedrinhas do parque River, o lugar que me levava para brincar, e dizia que, se eu encontrasse uma pedra no meu caminho, eu não deveria me chatear ou me machucar tentando chutá-la para longe, mas sim recolhê-la e guardá-la, porque cada uma delas serviria para construir uma grande fortaleza onde eu seria uma garota indestrutível. Sempre tentei acreditar nele, seguir seus conselhos sobre não desistir quando as coisas apertam ou deixar de buscar o que eu quero mesmo parecendo impossível.
Até agora.
Estou sentada na banqueta de madeira da cozinha, observando-o terminar de preparar os ovos mexidos do café da manhã. O avental branco amarrado na cintura protege seu paletó preto da gordura que saltita na frigideira. A panela chia quando ele joga os pequenos cubos de bacon, e ele se afasta rapidamente para se proteger.
— Não deveria cozinhar vestido para o trabalho, pai — advirto.
— Eu sei, mas se eu tivesse que terminar de cozinhar e me vestir depois, não teria tempo para aproveitar seu maravilhoso bom-humor pela manhã — ele ironiza, com um pequeno sorriso espirituoso.
— É realmente sempre um prazer ver o lindo sorriso de Kira Maclan — meu irmão, Kian, completa, chegando à cozinha e trocando um olhar cúmplice com meu pai.
Cerro os olhos para os dois irônicos e resmungo baixinho. Sei que minha expressão é tão bem-humorada quanto a de alguém que acabou de levar uma surra e, nesta manhã, particularmente, estou ainda pior. É difícil encarar uma pessoa quando ela mente descaradamente bem na sua cara e você tem plena consciência disso.
Sei que meu pai não está arrumado para ir trabalhar porque vi a pilha de papéis na cabeceira ao lado da sua cama, com contas atrasadas empilhadas, o saldo menor na poupança que fez para que eu fosse estudar na Juilliard e Kian na Universidade do Michigan, e a carta de demissão com o nome '''Elloy Maclan'' entre elas.
Sei que ele foi desligado sem receber um centavo da empresa onde era motorista há quase quinze anos e sei que nas últimas duas semanas ele se arruma para procurar emprego enquanto mente dizendo que está tudo bem, que precisa ir logo porque o Sr. Royal — seu grande ex-chefe de merda — está o esperando.
Não fico magoada por ele não ter mais um emprego. Tive muitas experiências nos meus dezoito anos para saber que a vida, nem de longe, é bonita desse lado da cidade. Mas fico magoada porque sempre fomos apenas nós três contra tudo, e agora ele está carregando um peso sozinho nas costas quando poderia compartilhar comigo.