O sol a pino e três silhuetas chamaram por um rapaz forte e de cabelos tingidos. Zoro se virou com um olhar confuso, pois não reconheceu nenhum dos três estudantes. Porém, eles sabiam muito bem quem era o esverdeado, até porque era difícil se esquecer da pessoa que lhes deu um chute no rabo, e por isso estavam a procura de uma revanche. Os rapazes tinham os punhos cerrados e um brilho diferente no olhar, mas Zoro não os achava intimidadores, porque era muito burro para compreender a situação em que se encontrava.
— Roronoa, seu desgraçado! Queremos revanche! - Brandou um deles.
Zoro piscou os olhos, ainda confuso. - Quem são vocês?
Os brilhos nos olhares desapareceram, estavam chocados do quanto aquele idiota era debochado. Quem que esqueceria de seus rostos? Eram os maiores delinquentes da escola e, bem, muito feios por sinal... Pelo menos, Zoro deveria se lembrar de ter visto rostos tão feios na sua vida.
— Não finja que não nos conhece, idiota! - Brandou mais um deles.
— Quê?! Nunca vi mais gordo!
— O que está dizendo? - O terceiro exclamou. - Você nos deu uma surra ontem, seu desgraçado!!
Zoro coçou sua orelha com os seus três brincos de ouro, que tilintavam um no outro. Seu rosto tinha um imenso ponto de interrogação e por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar. - Desculpa, mas não me lembro...
— Haaam???
— Agora, se me dão licença, preciso me encontrar com alguém.
O rapaz esverdeado deu um passo, mas foi imeditamente cercado pelos três.
— Você não vai a lugar nenhum, seu merda!
O olhar confuso de Zoro mudou drasticamente para um muito intimidador, finalmente compreendera sua situação. Os três estudantes sentiam suas pernas tremelicarem, mas continuavam firmes. Não restou outra opção a Zoro, senão chutar seus rabos mais uma vez.
Sanji estava no terraço da escola fumando, enquanto via a vista sobre o parapeito. Segurava a cabeça com uma de suas mãos e mesmo com o sol quente e a falta de um vento, aquela calmaria tranquilizava o seu ser.
"Por que aquele marimo não pode ser calmo assim?!"
Zoro era o melhor amigo de Sanji, um amigo que o loiro considerava muito problemático. Nunca conseguia entender por que o idiota se envolvia em tantas brigas. O pior de tudo era que a maioria Zoro se envolvia sem querer mesmo não sendo um delinquente, suspeitava que aquela carranca medonha devia ser o motivo. Suspirou com o cigarro na boca, mas ouviu a porta do terraço bater, olhou para trás e encontrou Zoro todo surrado.
— Está atrasado, marimo.
— Houve alguns imprevistos.
"Imprevistos" Sanji sabia muito bem quais eram. - Você quer dizer que estava em mais uma briga, não é?
Zoro o ignorou, porque sabia muito bem que aquele sobrancelhudo não pararia de tagarelar. Se sentou na sombra da caixa d'água, cruzando os braços e se reclinando na parede.
Sanji, puto, jogou fora seu cigarro e se sentou ao seu lado. Pegou sua mochila, também próxima do marimo, e buscou uma marmita.
— Essa é a sua.
Zoro agradeceu e começou a comer ferozmente, a briga gastou boa parte de sua energia. Aliás, já sentia fome antes mesmo dela começar e não esperava a hora de acabar com aquilo tudo e se encontrar com Sanji, que sempre trazia seu almoço. - Obrigado, cozinheiro.
Sanji deixou escapar um sorriso, sempre se alegrava em ver o marimo tão satisfeito com sua comida, mas não conseguiu ignorar um corte na sua bochecha. - Você deveria ir na enfermaria.
— Não preciso da enfermaria quando tenho o seu rango.
— Idiota, quando vai parar de cair nas provocações desses canalhas?
Zoro não respondeu e Sanji respirou fundo. Depois de notar que o cozinheiro estava calmo comendo sua marmita, o marimo resolveu dizer algo. Algo que ele deveria escolher muito bem as palavras para se expressar.
— Por que sempre pensa nos outros antes de você?
Sanji apurou os ouvidos e piscou os olhos, parou de comer. - Quê?
— Está vestindo um casaco nesse calor.
— Quer falar disso quando estou comendo?!
— Qualquer momento é hora de falar disso!! - Exclamou com os olhos marejados, o loiro suspirou.
— Estou bem, marimo, cuida da sua vida!
— Desculpa, mas da minha vida você já cuida. - Foi irônico e Sanji bufou.
— Somos todos fudidos, então.
Zoro piscou os olhos com a constatação do cozinheiro e sorriu. Antes de arrumar treta com aquele idiota, precisava dizer algo. - Obrigado por estar ao meu lado, e a comida estava muito gostosa!
Sanji riu. - Eu que agradeço por passar sua juventude ao meu lado, marimo idiota.
— Tô pensando em ir na enfermaria como disse.
— Acho bom.
— Aproveito e mato aula dormindo lá.
— Desconfiava que o real motivo seria esse.
Os dois começaram a rir, enquanto pensavam que eram muito sortudos por terem um ao outro durante a adolescência, uma das fases mais conturbadas de qualquer pessoa. E que Zoro sabia que aquela seria a mais conturbada de Sanji, porque no futuro não seria mais assim. Não, enquanto permanecesse ao seu lado.
O casaco de Sanji escondia suas feridas.