Capítulo 4

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Miguel não é nada! Estou completamente bem. Por favor não precisa me ligar se algum dia eu não aparecer pro trabalho. É só uma ressaca.
— Tem certeza? Erick eu levo uns remédios se quiser, juro. Nem é nada demais.
— Não.
— Mas...
— Não! Agora eu vou desligar. Avise a eles por favor que estarei indisposto. Passar bem.


A ligação foi terminada, Erick sabia que não poderia ir a um hospital como se tivesse um coração batendo em seu peito e dizer "Oi doutor, me dê um atestado por favor não me sinto bem. Essa madrugada tive a visão da mulher que procuro a 166 anos e não consigo trabalhar. Oh sim, obrigada."  Então mandou um e-mail ao chefe. Claro que uma mensagem em qualquer aplicativo seria mais rápido, mas convenhamos que Erick é de outros tempos... Tempos em que cartas eram escritas a mão e esperadas com todo seu coração por amantes. Época que mães olhavam todos os dias a caixa de correio para verificar se os filhos que estavam na guerra protegendo arduamente o país ainda tinham vida.

Erick não sabia e nem se interessava em aprender a mexer em celulares, mas Miguel sempre estava espreitando, se preocupando, perguntando, sempre tentando "cuidar" dele... Amigável demais, preocupado demais, inconveniente demais.

Não iria se preocupar com isso agora, tinha coisas martelando em sua mente.

Ele a viu, a sentiu.

Fechou seus olhos imaginando o toque, a pele macia sob seus dedos novamente. O cabelo cheiroso.

A sensação de casa. O sentimento de paz... Será que ela também sentiu? Será que ela era real?

Pelos céus, seu anjo é lindo! — Sorriu.

Agora mais do que nunca queria a encontrar, estava alimentado e com as feições melhores. Seria bom se a visse como está agora... Não quase definhando de fome como estaria novamente dali uns dias.

Levantou completamente de sua cama e se dirigiu ao banheiro, tirou as roupas lentamente e entrou no box, enquanto sua mão percorria seu tórax sentindo o coração "bater". Depois de se alimentar o corpo tentava imitar os batimentos, tentavam bombear o sangue roubado que achava ser seu. Por isso a sede não passava, e quando o sangue intruso já não estava mais em seu corpo ele necessitava de mais. Então sua aparência definhava, aparentava ter bem menos peso, suas olheiras ficavam a mostra e sua boca rachada... Eternamente doente.

Precisava do sangue.

E agora mais do que nunca queria deixar essa situação longe. Seu anjo precisa querer estar com ele, e se ela a vir assim? E se ela souber o monstro que ele é e decidir que não o quer em sua vida?

Claro que isso já havia passado por sua mente e teria que respeitar a quem amava, mesmo que sua vontade seja passar o resto de existência com ela. Não sabia qual a idade, nome real, ou gostos mas tinha certeza que a ligação divina existia. A ligação que lhe foi dada antes mesmo da maldição.

Voltou a sua cama, passou o dia ali. Ignorou ligações de Miguel, fez um chá de camomila, tentou novamente dormir.

Foi inútil.

Os olhos lindos e gentis sempre voltavam a sua mente. E a voz, aquela voz melodiosa que ele sentia necessidade de ouvir mais e mais vezes... Ela o chamava.

Erick, Erick, Erick...

Desistiu de dormir.

Tentou chamar Sótiras, ela o ignorou mais uma vez.

Merda!

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