Capítulo 3

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Acordou assustada e olhou ao redor, a lâmpada na tomada em formato de joaninha junto a fraca luz da lua que entravam pelas brechas da janela iluminavam precariamente o interior do quarto em tons azul celeste. Sentou-se na cama, sentiu as mãos tremendo, tentou pegar a garrafa de água no criado mudo improvisado, ainda não conseguia. —Vamos lá Sofia, exercícios de respiração e concentração. Você consegue. — Repetiu a si mesma três vezes antes de seu corpo começar a cooperar consigo. Bebeu sua água, porém o sono havia se dissipado completamente. Olhou no relógio 4:57 da manhã... Levantou.

Quem era ele? Por que ele sempre esteve em sua mente? Qual o sentido? Sentiu que agora havia uma direção, agora sabia a razão de estar ali.

"Ele vai te encontrar Sofia, não se preocupe. Aquiete seu coração, no momento certo as coisas irão se encaixar. O cego trará a você o que precisa ser elucidado."

A confusão dominava sua mente, flashs de sua vida, o sentimento de vazio parecia agora ter como ser exterminado.

Era ele.

O sonho, o carinho em seu rosto, o toque frio mas que trazia a sensação de conforto.

Lar.

Isso. Em toda sua vida não havia encontrado nada parecido com um lar. Cresceu sozinha, sabendo ser diferente de todos ao seu redor, sem pais ou família, a realidade machucava firme todos os dias e agora com 18 anos, percebia mais do que nunca. Aquela não era sua realidade, era uma máscara que lhe foi dada. Uma história contada e interpretada por ela.

Ela iria encontrá-lo. Havia decidido, mesmo que tivesse que ir contra a lei das divindades. "Tempo certo para todas as coisas" o cassete. Ela era dona de si, a vida era dela. Pegaria as rédeas de suas própria vida.

Depois de um tempo alcançou um livro qualquer na mochila, e leu. Tentou ler, melhor dizendo. Sua mente não a deixava relaxar, então largou o livro e foi jogar em seu telefone. Nada a distraía.

Droga.

Abriu e fechou vários aplicativos, sem na verdade verificar nada ali. Apenas para tentar se distrair.

5:30... Desistiu.

Alguns minutos mais tarde ela estava pronta para procurar emprego, após um banho rápido que seu pequeno banheiro proporcionou. Escolheu as roupas, e uma pitada de esperança surgiu em seu peito. Sorriu para o espelho preso a porta do guarda roupas tendo a certeza que alguma coisa havia mudado. Depois de já arrumada, decidiu comer um pão e fez um café preto.

Morava em um quarto pequeno de pensão, uma cama de solteiro, com um puff preto ao lado direito, uma mesa pequena com um frigobar com água e uns energéticos para os dias de estudo intensos e uma cafeteira. Acima da mesinha um suporte para um microondas e um pequeno armário embutido a parede com os mantimentos que se resumiam a biscoitos, macarrão instantâneo, biscoitos, alguns pacotezinhos de gelatina que nunca eram preparados, e... Eu já falei biscoito? Bom, na parede a frente havia um guarda roupas também pequeno, com tudo que ela tinha. O notebook ficava na mesinha quando não estava em sua cama junto com os fones de ouvido. A janela ficava entre o armário de cozinha e a cama e abaixo dela uma lâmpada — que ela jurava não ser infantil — em formato de joaninha. 

  Sempre se virou bem mas o dinheiro não era dispensável. Precisava dele para aluguel, alimento, roupas, livros...

Ah sim, livros. Ela os amava. Arriscava inclusive escrever no pouco tempo livre que conseguia entre a escola e o trabalho de meio período. Modéstia a parte, ela era ótima.

As 6 em ponto se dirigiu a porta, e antes de fecha-la pediu proteção.

Saiu para mais um dia, agora com a meta de encontrar o seu lar, seu destino, sua razão de estar ali... Mal sabia ela que ali naquela mesma cidade, alguém despertava simultaneamente a ela e com os mesmos sentimentos.

AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora