1. Visitando o Papai

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Deram-me apenas duas escolhas. De passar duas semanas com o meu pai, ou apenas quatro dias como Lena e ir com ela para o Acampamento de Verão e ser monitora sênior. Mamãe, minha irmã e eu estamos seguindo a estrada em direção a casa do papai. Faz um ano que eles se separaram, não oficialmente, mas eles não estão morando mais juntos. Deste então não vimos mais ele. Você pode até perguntar, mas qual é o problema em ver o seu pai já que faz tanto tempo? Não seria problema nenhum se os fantasmas não voltassem para me atormentar. Não falo dos tais "fantasmas do passado" que todo mundo fala quando se refere de alguém em especial eu não quer ver novamente, e sim dos verdadeiros fantasmas, gente morta que aparecia pra mim pedindo ajuda. E por algum motivo eles foram embora quando papai também se foi.

- Sério que não tem mesmo outra opção para mim? - perguntei para minha mãe, sentada ao meu lado no banco do motorista.

Um acampamento cheio de pirralhos e uma semana inteira com o meu pai não estava muito nos meus planos, mesmo que eu não tenha plano nenhum já que minhas amigas viajaram para outro estado.

- Mas é claro - respondeu em um tom irônico - Pode me ajudar no escritório como um trabalho de verão se você quiser.

Apesar da ideia de torturar aquelas crianças e a minha irmã, assim como fizeram comigo quando passava as férias lá, passar o verão todo em um escritório com ar condicionado e ainda poder ver os colegas da minha mãe que eram muito bonitos me chamava mais alto. Mordi o lábio inferior pensando bem. E ainda tinha a graninha que eu iria ganhar. Já estava abrindo a boca para dar a minha resposta quando ela começa com aquela voz doce de mãe, cuidadosa.

- Mas Alexia, pense bem em sua escolha. Seu pai quer muito te vê, nem que seja por poucos dias, sabe que ele sente a sua falta.

Por que ela tinha eu usar aquele tom comigo? Sabe como eu fico só em lembrar que a gente não ver ele a muito tempo, eu nem conseguia falar com ele por telefone. E antes erámos bem apegados, assim como Michel foi, ele nos levava para assistir aos jogos de beisebol e passear no parque. Mas tudo isso acabou quando meu irmão mais velho faleceu, eu tinha dezesseis anos e ele estava com dezoito. Michel voltava pra casa de carro quando um motorista bêbado bateu o carro contra o dele em alta velocidade. Michel morreu na hora e o motorista imprudente só teve ferimentos na cabeça.

Naquele dia todos nós estávamos esperando ele para jantar, quando eu o vi no meio da sala quando descia as escadas, sorri e disse a ele "Que bom que você chegou, estou com fome já". Chegando a estranhar quando Lena me perguntou com quem eu estava falando, respondi "Com o Michel, com quem mais eu estaria falando?" como se fosse obvio. Mamãe me olhou preocupada e disse que não havia ninguém ali, eu estava falando com o nada, mas eu sabia que não era verdade, eu estava vendo o meu irmão e era muito real. Lena disse que eu poderia estar delirando de fome ou ficando maluca, mamãe falava comigo que se fosse brincadeira minha era pra parar porque aquilo não tinha graça.

Eu não estava entendendo mais nada até papai se aproximar e quando ele entendeu o que estava acontecendo perguntou "Então é apenas Alexia e eu que estamos vendo ele?". Quis perguntar o porque, mas fiquei em estado de choque olhando para a figura de meu irmão parado no meio da sala, só depois percebi o quanto ele pareci perdido. Mamãe e papai foram ao escritório. Depois daquele dia eu nunca mais o vi.

Meus pais deram um tempo no casamento como já havia explicado, a pedido da minha mãe, ela disse que estava tentando entender o que meu pai e eu erámos. Achei até estranho ela não pedir um tempo pra mim também, até me disser que era diferente, eu não havia escondido dela todos esses anos, até porque eu não sabia.

- Tudo bem, mãe. Eu vou passar as férias com o papai.

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