capítulo único

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Okay posso não ser a melhor pessoa, muito menos a pessoa mais carinhosa do mundo, porém devo confessar que talvez eu esteja com saudades de um certo esverdeado.
Não sou de ferro, tudo bem? Às vezes também sou capaz de ter sentimentos igual um humano. Ele nem sequer fala comigo direito a dois meses inteiros.
Estamos juntos desde que me entendo por gente e sua falta está começando a ser chata.
Eu sei que ele está treinando muito, entendo isso e o admiro(ainda que secretamente) por isso, mas será que ele não poderia ao menos me mandar uma mensagem?
Ou pelo menos ficar do meu lado, sem falar nada. Qualquer coisa, desde que esteja perto. Obviamente não vou admitir isso nem sob tortura, mas mesmo assim queria que ele entendesse.
Mas ao invés disso ele fica perto demais dos idiotas e praticamente esquece de mim.
Tudo bem, né? Afinal não dependo dele para nada assim como ele não tem nenhuma obrigação comigo.
Então talvez as crises de ansiedade sejam sem sentido, afinal tá tudo bem não é? Já estou acostumado com isso, ninguém fica para sempre, todos me abandonam depois de um tempo. Apenas me apeguei mais do que deveria, achei que ele seria diferente. É só respirar fundo e continuar em frente.
Não preciso dele.
Tá tudo bem.
É só respirar fundo.
"Você vai se atrasar." Meu irmão bateu na porta.
"Não vou hoje." Digo tentando fingir calma.
"Posso entrar?"
"Não. Estou bem, só não no clima." Acho que pensar em qualquer hoje seria o suficiente para me fazer gritar.
"Ninguém tem clima pra escola Tsukishima, mas é raro você faltar e hoje é sexta então vou mentir pra mãe."
Escuto seus passos se afastando e respiro fundo. A dor no peito não passa, sinto minha respiração falha demais e lágrimas queimam para sair.
Me enrolo no cobertor e coloco os fones. Não vou sucumbir a isso agora. É só fingir que tá tudo bem. É fácil. Já estou acostumado. Repito mentalmente vezes o suficiente para parecer verdade.

Yamaguchi p.o.v
Tsukki não veio hoje, será que ele está bem? Bem que eu podia ir lá hoje né? Mas marquei um treino hoje… pensando melhor faz tempo que a gente não se fala…
Certo.
Converso com Hinata e explico que não iria pro treino extra hoje. E como sempre ele apenas ficou triste, mas entendeu.
Ligo pro Tsukishima, mas ele não atende até a terceira vez.
"Oi." Sua voz está rouca demais, será que ele gripou?
"Você está bem?" Consigo o imaginar revirando os olhos, assim como sei que ele fez.
"Estou. O que você quer?" Carinhoso como sempre, mas confesso que senti saudades.
"Quero te ver, estou indo aí." Mordo o dedo em nervosismo do que ele vai falar. Já espero ele recusar, inventar algo e me fazer pedir mais uma vez, e não me importo nem um pouco em fazer isso de novo apenas para o ver.
"Okay." Ele diz depois de alguns segundos em silêncio.
Fico sem reação por tempo demais e escuto sua tosse incomodada.
"Ah claro. Tô indo."
Desligo a ligação e respiro fundo.
É só Tsukishima, apenas isso.
Chego depois de dez minutos na casa dele, passei o caminho inteiro pensando no que nós faríamos e se eu já estava preparado psicologicamente para conversar normalmente com ele sem pensar em coisas estranhas, tipo qual seria sua reação se eu o beijasse.
Ele atende a porta ainda de pijama e me tira dos meus pensamentos. Me permito olhar para seu rosto e percebo o quão acabado ele está, suas olheiras que antes eram inexistentes aparecem mais em seu rosto que parece estar mais pálido que antes.
"Vai ficar me encarando? Vamos entre logo, está frio aí."
"Ah sim." Fico vermelho e desvio o olhar.
Tsukki também está com o rosto vermelho quando chegamos no quarto.
"Você está com febre?" Me sento do seu lado e chego perto para medir sua temperatura, mas está normal.
"Não. Estou bem já disse." Ele se afasta.
"Então por quê não foi pra aula hoje?"
Ele desvia o olhar e se deita.
"Não estava no clima, veio aqui pra quê afinal?"
"Você não é de faltar, fiquei preocupado."
"Achei que tinha treino hoje, faltou para vir aqui?"
"Pode parecer estranho, mas me preocupo com meu melhor amigo." Digo sarcástico.
"Achei que…" sua voz diminui e eu não entendo.
"Tá com um pau na boca? Fala direito." Digo no reflexo. "Desculpe Tsukki." Falo antes que ele brigue comigo.
Porém sou surpreendido com uma risada.
"Você está andando muito com eles, não gosto disso." Não estou olhando para ele agora, afinal me deito do seu lado e a única visão que tenho são dos dinossauros e das estrelas que brilham no escuro coladas há muitos anos por nós dois no teto do seu quarto.
"Não precisa ter ciúmes, você é meu melhor amigo e ninguém tira esse seu posto." Dou um sorriso e me viro para ele. Me surpreende ver uma lágrima descer então me sento rapidamente.
"Tsukki? Tá tudo bem? Falei alguma coisa errada? Me desculpe, não foi a intenção, eu juro só que…"
"Cala a boca, Yamaguchi."
Ele limpa o rosto rapidamente e vira de costas para mim.
"Mas…"
"Estou bem, já falei. Você pode ir se quiser."
"Tsukki… eu to aqui, você sabe né?" Toco no seu ombro.
Imagino o porquê dele estar assim e me xingo mentalmente.
Sei dos problemas do Tsukki e sei como esse tempo que nós não conversamos direito deve ter sido difícil para ele,mas em nenhum momento eu me toquei disso, até agora.
"É claro, até não estar mais. Olha só… me deixa sozinho okay? Não preciso de ninguém agora."
"Não vou te deixar só." Eu o abraço de trás e sinto ele ficar tenso, mas logo relaxar.
"Me desculpe por te dar esse trabalho…" ele fala tão baixinho que me pergunto se não foi simplesmente algo da minha cabeça.
"Não se desculpe por nada. Vamos deitar e assistir algo, sim?"
"Tudo bem."
Nos deitamos lado a lado e ligamos a televisão. Para falar a verdade não estou prestando atenção nenhuma no filme que colocamos, só consigo pensar em quanto tempo ele se sente assim para simplesmente estourar dessa forma. Nunca vi Tsukishima chorar em sabe-se lá quantos anos de amizade, mesmo quando brigava com seu irmão e vinha para minha casa com o semblante abatido, mesmo quando ele desabafava sobre seus medos, nunca havia acontecido. E eu definitivamente não estava preparado para isso.
O olho com o canto de olho e vejo que ele também não está prestando atenção, embora seu olhar esteja vidrado na televisão. Não consigo entender como sei disso, mas simplesmente sei.
Acabo suspirando quando percebo que provavelmente a causa do seu estado atual sou eu e não faço a mínima ideia de como ajudá-lo.
"Não se cobre demais." Levo um susto ao escutar sua voz.
"Não estou, apenas achei a cena boa." Minto descaradamente.
"Ninguém acha a cena de um monte de matos boa."
"Bem… eu sou diferente."
"Ah sim, claro." Olho para ele e vejo seu típico sorrisinho de canto.
Encosto minha cabeça em seu ombro e o sinto se tensionar.
"Vamos trocar de filme." Pego o controle e começo a procurar.
Acabamos assistindo a mais dois filmes, dessa vez prestando atenção de verdade. Digo que vou dormir com ele e Tsukki apenas confirma com a cabeça.
"Vamos fazer uma pizza?" Digo quando saio do banho ainda só de toalha.
"Pode ser. Qual pizzaria?"
"Eu disse que vamos fazer uma, não comprar." Explico melhor e recebo um olhar confuso.
"Quê?"
"Espera eu me vestir que explico." Pego uma roupa dele no guarda roupa e volto para o banheiro.
"Deveria deixar roupas aqui, não entendo a dificuldade." Escuto de maneira abafada sua voz.
"Você sabe que minha mãe não gosta."
"Você sempre dorme aqui em momentos inesperados e sempre pega uma roupa minha e nunca devolve." Ele revira os olhos quando saio do banheiro.
"Gosto da sua roupa." Faço bico. Óbvio que não vou falar que gosto do cheiro da roupa dele, é incrível o fato de que Tsukishima consegue ter um cheiro natural incrivelmente doce, por isso aproveito para ter sempre uma roupa dele comigo. Não que eu fique cheirando a roupa dele. Não, não. Bem… talvez, às vezes, eu faça isso. Talvez!
"Eu também gosto das minhas roupas, por isso gostaria de mantê-las no meu guarda roupa." Diz sarcástico.
"Tudo bem, tudo bem! Pegue suas roupas depois na minha casa."
"Você deveria trazer elas para mim, afinal é você que as pega."
"Mas Tsukki…" insisto
"Tudo bem, passo lá depois." Ele desiste e suspira.
"Agora vamos fazer uma pizza!" Digo animado.
"É o jeito." Ele vem atrás de mim para a cozinha.
Pegamos os ingredientes para a massa e com muita bagunça e muita briga conseguimos fazer uma massa comestível.
"Agora vamos ter que amassar ela até ficar boa." Digo limpando o suor da testa.
"Podemos desistir agora e comprar uma pizza?" Ele se senta na cadeira cansado.
"Não. Vamos lá é só mais um pouquinho."
"Te odeio por me fazer passar por isso." Embora sua fala seja grosseira, seu sorriso denuncia a mentira.
"Claro que me odeia." Digo bagunçando seu cabelo com minha mão melada de farinha.
"Que porra Yamaguchi!" Ele balança a cabeça e voa farinha para todo canto.
Começo a rir muito e ele se prepara para pegar farinha também.
"Não!" Digo tarde demais e vejo minha roupa (na verdade é dele, mas ignorem) se sujar toda de farinha.
Agora ele que ri vitorioso.
Uma breve guerra de comida é iniciada antes da mãe dele entrar e brigar para organizarmos tudo.
"A culpa é sua." Ele diz assim que terminamos.
"Eu não, foi você que continuou a me sujar."
"Você que começou."
"E você continuou."
"Desisto de argumentar com você" ele balança a cabeça.
"É porque eu ganhei." Pisco um olho.
"Acredite nisso se faz você melhor." Ele dá de ombros.
Faço uma expressão de descrença mas logo volto a sorrir.
"Vamos terminar essa pizza logo." Escuto ele xingar baixinho, mas vem me ajudar.
Em meio a xingamentos de como sou idiota, como a pizza é inútil e como o trabalho q nós estamos tendo é inútil a pizza fica pronta para comer.
"Vamos levar para o quarto?" Pergunto quando tiro do forno.
"Não, muito trabalho e já basta o que já tivemos." Ele revira os olhos.
No meio dessa bagunça toda e de todo esse trabalho fiquei feliz por vê-lo rir mais abertamente e voltar a falar com ele normalmente. Sentia saudades de momentos assim.
Porra como eu quero beija-lo agora.
Ele está sujo de molho de tomate no rosto e de farinha na roupa, mas mesmo assim só consigo pensar no quão beijável ele é, mesmo sujo e com um semblante irritado por quase se queimar com a pizza.
"Tem algo errado Yams?" Ele me olha parecendo preocupado.
"N-não!" Sinto meu rosto esquentar ao perceber o que estou pensando.
"Tudo bem." Ele ainda parece desconfiado mas volta a comer.
"A pizza ficou muito boa." Digo terminando de comer. "Valeu a pena."
"Tirando o trabalho de fazer ela, também acho." Ele guarda seu prato na pia.
"Vamos fazer o quê agora?" Pergunto quando chegamos no quarto.
"A gente poderia tomar um banho, deitar e ficar quietos?" Ele levanta uma sobrancelha.
"Ah mas isso é chato."
"Não perguntei. Vamos, vamos. Pro banho." Ele diz me arrastando pro banheiro.
"Vai banhar junto comigo?" Dessa vez sou eu quem levanto uma sobrancelha. Vejo seu rosto corar e ele desviar o olhar.
"É claro que não idiota, vou banhar em outro banheiro."
Tenho vontade de dizer que se ele quiser eu não iria me opor a um banho juntos, porém soa estranho.
"Certo, então saia a não ser que queira ver meu pinto." Aponto para a porta e sorrio.
"Idiota." Ele sai, mas antes de fechar a porta me aponta o dedo do meio.
"Definitivamente sou idiota." Falo baixinho.
Termino o banho e espero o Tsukki na cama mexendo no celular. Depois de uns cinco minutos ele aparece e se deita do meu lado.
"Arruma a cama para mim?" Peço assim que ele se deita.
"Não." Simples e cruel.
"Por favor."
"Já falei: não."
"Então vou dormir na cama com você." Tento mais uma vez.
"Então durma."
Não esperava isso.
Sinto meu cérebro parar e travar.
Literalmente gay panic, estou entrando em tela azul.
Meus únicos pensamentos agora são:
Hum
Ah
É
"Você tá bem?" Ele se vira para mim.
"Hm." Já falei que não consigo pensar?
"Foi uma brincadeira, se quiser eu arrumo." Ele parece sério.
"Não! É só que estava pensando em outra coisa. To bem aqui, não se preocupa."
"Certo."
Largo o celular e me viro para ele que faz o mesmo.
"O que foi?" Ele pergunta baixinho.
Porra, ele é lindo.
"Nada." Continuo observando seu rosto.
Seus cabelos estavam maiores que o normal, seus olhos estão escuros por causa da pupila dilatada.
"Yamaguchi." Ele fala baixo.
"Tsukki?"
"Só gosto do jeito que seu nome sai quando falo." Sinto meu rosto esquentar.
Sinto vontade de falar tudo que gosto nele, mas não tenho capacidade de formular nenhuma frase coerente e também seria necessário muito tempo para eu falar.
Por isso e por um surto de coragem eu me aproximo mais dele, que não se afasta. Pelo contrário, sinto sua mão subir para meu rosto e seu olhar descer para minha boca.
Acabo com o espaço entre nós dois e assim também acaba minha minúscula parte racional, apenas sinto seus lábios macios nos meus em um selinho rápido.
Nos afastamos e eu não o encaro, com vergonha de ter feito algo tão estúpido.
Sinto sua mão na minha bochecha ir para o meu pescoço e me puxar para mais um beijo, dessa vez ele pede a passagem com a língua e prontamente permito. É algo fofo e eu sinto isso pela forma calma que ele me segura, porém não deixando de ser possessivo.
Nos beijamos por muito tempo e gosto dessa sensação dos seus lábios nos meus, sua mão no meu rosto me puxando para mais perto e sua mão na minha cintura me segurando junto a si.
Me separo por falta de ar e apoio o rosto no seu pescoço, aproveitando para sentir mais do seu cheiro.
"Gosto de você, Tsukki."
"Também gosto de você, Tadashi."
Não sei o que falar então apenas o abraço mais forte. Nos deitamos daquele jeito, comigo em cima dele e conversamos sobre nossos sentimentos.
É fofo a forma que ele tenta falar sobre como foi confuso gostar de mim, é adorável a forma que seus dedos fazem carinho em mim enquanto ele fala para aliviar a ansiedade, e sem nenhuma dúvida é libertador poder falar como me apaixonei por ele, como foi dormir ao seu lado sem falar nada e tentar decifrar se as raras demonstrativas de carinho por parte dele eram sinais ou apenas uma amizade sincera.
Quando ele me falou sobre o tempo que ficamos separados tive vontade de me bater por fazer isso a ele.
Mas no total foi uma noite boa. Cheia de declarações, confissões e definitivamente cheia de muitos beijos.
"Te amo." Falo antes de dormir no seu peito.
"Te amo também." É a última coisa que escuto antes de dormir com um sorriso no rosto.















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