Apocalipse

Sábio?

O ar estava frio e havia neblina, era manhã.
Eu precisava comer e me manter hidratado. A floresta era vasta e não tinha sinal de vida, me sentia cansado e dolorido. Me levantei e me dirigi em onze horas, já que as árvores eram densas e me impediam de seguir uma reta a minha frente. Seria idiotice seguir atrás dos barulhos longínquos daquela floresta, mas quem sabe lá eu poderia achar alguma vila com algum pequeno comércio. Seria um tiro no escuro, mas acho que estou sem muitas opções. Com receio, seguia os sons e criava caminhos à esquerda deles, para não me aproximar muito.
Andei por pelo menos duas horas, as mais calmas dos últimos dias. Não tinham monstros, pessoas gritando, ou sequer aquele cachorro dos Sidneys uivando a madrugada inteira. Apenas paz... Isso me fez refletir sobre como as coisas aconteceram e até onde eu conseguirei chegar... Talvez não muito longe, sou apenas um mortal miserável, sem respostas, sem nada. Como salvarei as pessoas do caos se não tenho nem a certeza de que salvarei a minha própria pele?
Para a minha sorte, encontrei um chalé alguns quilômetros a frente, na lareira ainda havia fumaça, seja quem tiver ido embora a pouco tempo, acabou salvando a minha pele. Na parede, acima da lareira, havia sangue e uma frase escrita com o mesmo:
"O silêncio és um poeta sábio..."
Claramente essa pessoa estava intencionada em alertar, aquelas criaturas são atraídas pelo som
Em todos os momentos tranquilos, eu me surpreendo perdido em memórias, não as que definiram o meu passado e mas aquelas toscas que faziam parte dos meus dias... Como aquela vez em que eu tinha 9 anos e a minha mãe não me deixou levar para casa um gatinho que encontrei na rua. Ou quando comecei a lutar boxe para enfrentar um valentão do sétimo ano que me atormentava... Dos que já foram os meus amigos... Os que lutaram junto comigo... E no fim, acabei sozinho...

/-/

Os dias estão cada vez mais frios, eu sinto falta do meu sol. Meu corpo se aquece pela lareira do chalé, porém o meu coração é puro gelo. Sei que o local é "confortável", mas preciso prosseguir com a missão. Para agora, meu plano é achar uma cidade próxima, onde eu possa procurar por mantimentos e informação. Só espero não me deparar com os escarnecedores novamente, principalmente "a noite".

/-/

Escutei a porta se abrindo lentamente durante a madrugada, alguns passos frios vagavam lentamente para perto de mim. Eu conseguia sentir a brisa gelada e corrosiva que entrava pela porta escancarada, acompanhada pela escuridão. Os passos se aproximavam, o ranger das madeiras do piso está a cada vez mais alto, como cascos de um cavalo de tração. Não conseguia enxergar nada mas sabia que não estava sozinho e que corria perigo.
Antes que pudesse sacar a minha arma, senti um objeto frio e comprido travando sob minha traquéia, era uma escopeta antiga. Estava imóvel.
-Tens cinco segundos para me dizer quem és ou seus miolos faram parte da decoração de minha sala...