AMOR À TRÊS (DISPONÍVEL ATÉ 31/10) Degustação

CAPÍTULO IV - Amália

Três meses longe de tudo. A fazenda é quase um paraíso e nunca me canso daqui. Pouco depois de sair fugida, decidi que ficaria isolada do mundo morando aqui. Doutor Gonzaga tirou não apenas a Marilda em segurança do solar, como toda a família dela que não é grande. O marido e os dois filhos vieram juntos, as crianças vão poder estudar. O sobrinho dela que já é adulto vai ter que conciliar trabalho e estudo, porque apesar de ser forte, ele quer ser mais que um simples peão e concordo com ele.

- Amália? - Doutor Gonzaga chamou de algum lugar da casa.

- Na cozinha, doutor. Estou testando uma receita nova. - Falei alto o bastante para ser ouvida. Quando estou cozinhando as receitas da vovó, prefiro ficar sozinha e ouvir as músicas que trazem as nossas lembranças. É como se ela pudesse estar aqui.

- Vou atrapalhar se ficar alguns minutos? O cheiro está delicioso.

- Já estou tirando do forno. Não se preocupe. O que o trouxe até aqui? Não que sua presença seja ruim, mas para vir pessoalmente é sempre algo importante e que não pode ser deixado para depois ou tratada por telefone.

- Já disse o quanto és parecida com sua avó. Deduzem as coisas com uma facilidade e quando observam as pessoas com mais afinco percebem até o que tentam esconder. Mas sim, tens razão. Entrei em contato com a agência de publicidade que sua avó deixou como sugestão. Falei diretamente com o dono, que falaria com o melhor desenvolvedor e me retornaria. Aí vem o problema, ele disse que o rapaz é o melhor e meio que acertamos um valor, no entanto, assim que retornou a ligação falando que o garoto vem conhecer, pediu para não contar o valor acertado, pois a comissão do funcionário é menor.

- Cretino! O que o senhor quer fazer?

- Pensei em esperar o garoto chegar e depois que ele conhecer tudo e dizer se pode ou não fazer a propaganda, contar a verdade sobre o patrão. Ele está sendo roubado, isso é errado.

- Certo. Estou de acordo. - Observei melhor o velho homem e sabia que tinha mais coisas. - O que ainda falta contar? - Ele ri antes de responder.

- É sobre o veterinário. Já sei o porque anda tão cabisbaixo. A chácara onde ele mora e tinha pretensão de comprar foi vendida e parece que ele não tem um lugar perto onde possa ficar, então falei sobre o alojamento dos peões, mas ainda está em reforma. Então precisamos fazer algo antes que ele vá embora para outra cidade. - Aquele delicia de ruivo indo embora? Nem pensar, preciso achar uma solução para que ele fique aqui.

- Diga que quero conversar com ele. O senhor já contou a ele que sou a dona daqui? Porque acho que alguns funcionários não sabem ainda e falam comigo normalmente, outros parecem temer minha presença. - Ele ri mais ainda.

- Não contei, mas alguns dos peões conversando soltaram alguma coisa. Dagoberto parece gostar de falar, e até onde sei parece estar interessado na pequena cozinheira que ele finge não saber ser a patroa. Ao menos foi o que entendi. Vou te deixar terminar de fazer essas delícias e avisar ao Samuel que a patroa quer falar com ele. - Fiz careta. - Tudo bem, vou dizer que a Lia quer falar com ele.

Assim que o doutor Gonzaga saiu, terminei meus doces com calma, amo o aromas que cada doce deixa no ar. Finalizo os bolinhos de laranja com um pouco de açúcar sobre eles, pego a casca que cortei anteriormente em tiras finas e caramelizei, colocando delicadamente sobre cada um deles e só então deixo esfriar antes de servir como sobremesa.
Tem sido assim esses últimos meses, todas as receitas da vovó estou fazendo em pequenas quantidades e servindo aos funcionários após o almoço ou jantar, enquanto a nova fábrica de doces não ficar pronta, vou testando cada receita e incrementando algumas coisas para que em breve cada uma delas possa invadir os lares da região até que chegue em cada lar do país. Sempre falei que depois de me formar, expandir a fábrica seria a minha prioridade. E está sendo. Sinto alguém se aproximar e apenas pela cara de pau tenho certeza que ou é a Marilda ou o sobrinho, Dagoberto.