Zander

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A minha mãe morreu de câncer de mama. A gente vê tantas propagandas e anúncios sobre a prevenção de doenças que ignoramos no dia a dia, que quando acontece na família não temos reação. Ela lutou bastante. Vitório raspou a cabeça dela, ele teve essa coragem. Andressa ficou vendo tudo, mas estava segurando tanto as lágrimas que provavelmente iria se afogar. Ítalo ficou gravando como ela queria. Temos os vídeos guardados, e ninguém nunca tocou neles. Eu cortei um pouco do meu cabelo junto, sabe, para dar um ânimo nas coisas. Ele é um problema, cresce muito rápido e em grande quantidade. No final do dia eu me tranquei no quarto para chorar, mas não pelo cabelo. Não por ele.

Eu me sentia um bebê ao lado dela, era uma sensação incrível. Tão pequeno e precioso para ela, diferente do mundo que me obrigava a ser um adulto. Comecei a odiar isso, que graça tem em virar adulto?

Primeiro que eu não vou casar tão cedo. O amor nunca funcionou direito para mim como funcionou para os meus pais. Aquela história linda de troca de olhares, umas conversas fiadas, encontro destinado e outras baboseiras que não dão certo comigo. Não que eu negaria uma oportunidade dessa, porque fica bem mais fácil de se ganhar alguém com essa técnica. Só que, sei lá, era um tanto ridículo.

- O que está fazendo? - Vitório não podia me ver parado que vinha incomodar.

- Meditando.

- Meditando enquanto come batatinhas e toma um sol? E esse óculos escuro, faz parte do combo meditação?

Pelo amor de Deus, esse homem deveria arrumar uma namorada.

- Quando vai voltar para a empresa? - perguntou. Então era isso.

- Estou tirando umas férias, não sei quando volto.

- Não pode demorar, aquela empresa foi feita para você. Os acionistas vão cortá-lo como o próximo presidente se ficar assim.

- Então você assume - sorri.

Vitório arrancou os óculos do meu rosto e jogou dentro da piscina.

- Eu não quero tomar conta da empresa, eu odeio aquilo tudo. O escolhido perfeito para isso é você, não perca essa chance.

- Os acionistas me odeiam - ri, tentando enxergá-lo mas falhando por causa do sol.

- Porque você parece irresponsável e frio.

- Vitório, sabia que eles gostam que o presidente ou o candidato a isso seja casado? Eu vou me casar só pra assumir a presidência? - revirei os olhos. - Não estou louco.

- Não os culpe, o seu avô criou essa regra besta e conservadora. Mas você pode inverter isso se mostrando melhor que um homem casado e fracassado.

Levantei da cadeira e me joguei na piscina.

- Está chamando os seus primos de fracassados por serem casados? - gargalhei, deixando o meu corpo boiar.

- Eles são fracassados de todos os jeitos - disse Vitório, rindo. - E estão loucos para pegar a presidência, também são ótimos concorrentes.

- Por que não você, Vitório?

- Essa escolha foi feita assim que você nasceu. O vovô me odiava, me olhava com decepção. Viu uma luz em você.

Me equilibrei na beirada da piscina e sentei, um pouco preocupado pelo rumo que a conversa estava tomando. Não queria que ele chorasse na minha frente.

- Como assim ele te odiava? - franzi a testa, agoniado com o sol.

- Eu nunca fiz nada para agradar ninguém, graças à Deus sei pensar em mim. Sempre quis ser advogado, cuidar da empresa parecia um pesadelo - ele explicou, agachado ao meu lado.

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