Zaíra não consegue superar a morte. Zander não consegue superar o luto. Duas pessoas com os mesmos ferimentos, a perda. Com um plano traçado por Ângelo, os dois se cruzam e de uma forma bem escandalosa. Eles se casam, mesmo não sabendo nada um do ou...
Em todo lugar só se falava daquele incêndio. Eu não aguentava mais. Andressa passou correndo com a bolsa chacoalhando pela sala. Não era nem dez horas da manhã, pra quê tanta pressa?
- O que você está fazendo? - ela perguntou, me vendo procastinado no sofá.
- Nada, né.
- Vai vestir uma roupa descente, quero que me leve no supermercado.
- Você sabe dirigir.
- A minha unha do dedo está doendo, não consigo nem forçar.
- Isso não faz sentido.
Andressa deu de ombros, rindo. Mas o dedo dela estava realmente horrível. Avermelhado e inchado. Provavelmente uma unha encravada. Forcei o meu corpo a reagir e me levantei, indo para o quarto procurar uma camiseta. Eu evitava me olhar no espelho, seria uma lástima. Olheiras fundas. Marcas de expressão mostrando a minha idade. Meu cabelo era muito preto, muito mesmo. Puxei da minha mãe, lógico. Os olhos eram da mesma cor dos fios, ultra escuros. Algumas pessoas não gostavam de manter contato visual comigo por isso, alegando ser intimidador. Sorri, que piada. Por mais que eu tenha me fechado e grudado em casa, ainda conseguia ver os gominhos da minha barriga.
- Zander, você está rindo para o espelho? - Andressa parou na porta, colocando as mãos na cintura.
- Você acha que eu engordei?
- Acho - disse ela, e depois saiu.
Franzi a testa, o que?
- Você está mentindo! - A segui, revoltado.
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- Aí ela falou que eu tinha cara de quem estudava moda.
Andressa estava apenas passando o dedo na prateleira. Quando apontava para algo, era a vez do escravo aqui obedecer.
- Você acredita nisso? Moda?
Peguei a caixa de leite, eu não estava me importando com a conversa.
- Você está me escutando? - Andressa parou o carrinho, nervosa.
- Lógico que sim - menti.
- Então o que eu falei?
- Moda. Mulher tirando sarro de você. Moda.
Andressa pisou fundo e andou mais rápido, me deixando para trás. Perfeita mas tinha as suas birras. Percebi que uma mulher lutava para pegar a caixa de sabão no alto da outra prateleira, fui ajudar.
- Toma - entreguei.
A mulher ficou vermelha feito um pimentão, saiu sem nem agradecer.
- Pare de flertar por aí, Zander! - Andressa voltou para empurrar o carrinho.
- Eu não estava flertando, eu nem disse nada.
- Não precisa dizer, é só olhar para você. As mulheres se derretem.
- Como você sabe disso?
- Acabamos de ter uma prova - resmungou. - E porque as minhas amigas eram doidas por você.
Ah, havia um certo rancor da parte dela. Sempre achei que o mais charmoso era Vitório, se bem que ele faz é assustar todo mundo com a sua frieza.
- Isso é ruim? - entrei na frente do carrinho.
- É péssimo - disse ela, passando por cima do meu pé. Segurei o choro, não ia dar esse gostinho à ela.
- Você deveria namorar e parar de encher o saco.
- Eu tento, Zander. Eu tento.
Os olhos cinzas de Andressa ficaram mais escuros, mais melancólicos.
- O que foi? Está com dor de cotovelo?
- Eu não... - Andressa respirou fundo, apertando o carrinho. - Eu não consigo arrumar um namorado.
Fiquei em choque por alguns minutos. Isso era mentira.
- O que? - ri.
- É sério, Zander - ela voltou a mexer na prateleira. - Nenhum homem chega em mim porque me acha linda e rica demais. Sabe, uma deusa que nunca terão chance.
- Espera. Está me dizendo que ninguém tenta te paquerar por que você é você?
- Perfeita demais. Me rotulam como a loira rica vazia. E eu não sou assim.
Não, você não é.
- Sem condições uma coisa dessa - eu disse.
- Mas é verdade. E tipo, daqui a pouco eu terei a sua idade e ainda estarei solteira.
- Andressa, eu não sou tão velho assim.
- Você tem trinta anos, Zander. Nunca namorou nessa vida.
- Deveria está chocada com Vitório. Ele tem trinta e cinco anos!
- Mas ninguém suporta ele mesmo. Eu compreendo.
Não aguentamos e rimos. Se alguém, algum dia gostasse dele, soltariamos fogos. Comprava a aliança de uma vez. Vitório era insuportável. Um homem até elegante, no entanto, era mais frio que o Polo Norte. Ítalo não contava, uma criança que não havia saído das fraldas.
- Mas não fique triste, você ainda é jovem e é maravilhosa. Vai encontrar alguém que queira a sua perfeição.
- Até parece.
Voltamos a andar pelo supermercado frio e escorregadio. O que passavam nesse chão?
- Sabe, nós somos bonitos demais. Se fossemos pobres, ainda seríamos ricos. Por que? A beleza. Era só sorrir para conseguir um emprego.
- Que conversa é essa, Andressa? - ergui a sobrancelha.
- Não viemos ao mundo para ganhar, Zander. Riqueza ou beleza, o nosso destino seria bom do mesmo jeito.
- Vai pegar uma caixa de bombom porque vamos embora agora. Reflita em casa sobre essas coisas - disse, a sacudindo pelos ombros.
Será que ela tomou algum remédio antes de sairmos? Provavelmente.
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Andressa faz a comédiadela. Perceberam que Zander é monótono demais? Talvez isso mude com a presença de uma certa pessoa daqui pra frente. Abraços de longe por causa dapandemia.