A Cereja Proibida

Capítulo 2 - A Morte de Isa

Eu lembro como se fosse hoje o dia em que Isa morreu, é impressionante, mas mesmo 20 anos depois, cada segundo daquele dia ainda está vivo em minha memória.

Quando Isa voltou para a cidade, Júlio não queria saber mais de nada a não ser estar ao lado dela, até que um dia ele teve coragem de se declarar e os dois começaram a namorar. Isa alegava que gostava dele também, mas eu ainda tenho minhas dúvidas se ela o amava mesmo como namorado ou apenas aceitou namorá-lo com medo de sua reação, caso ela o rejeitasse.

Quando os dois começaram a namorar, eu sabia que aquilo não iria dar certo e nem durar muito tempo, Júlio além de ter seus problemas psicológicos, ele tinha um ciúme mortal de Isa, desde a infância ele ficava com raiva, quando algum outro menino se aproximava dela. Isa sempre foi uma pessoa de muitos amigos, ela era completamente sociável e também tinha um gênio forte, ela não aceitava os excessos do Júlio. Em alguns dias de namoro, os dois tiveram mais brigas que um casal casado há anos.

Tudo aconteceu na quarta-feira de cinzas, curiosamente a nossa alegria acabou junto com os dias alegres do carnaval. Minha mãe sempre foi muito religiosa e naquele dia ela queria que todos fossemos com ela à missa, por conta da celebração do início da quaresma e porque ela iria ser a responsável pela organização da igreja, então todos combinamos que iríamos com ela. Logo cedo Júlio saiu para o estágio e combinou com Isa de que quando chegasse a chamaria, minha mãe ficou basicamente o dia inteiro na igreja organizando as coisas, enquanto eu fiquei sozinho em casa, pois naquela época eu era personal trainner da academia que hoje eu sou sócio e naquele dia meu chefe decretou que não iríamos abrir.

Eu estava em casa, de repente alguém tocou a campainha e quando eu abri era Isa.

— Olha só se não é minha cunhadinha, minha mãe não está em casa, mas você pode entrar.

— Muito obrigada. Eu estava de bobeira em casa, vi que tinha alguém aqui resolvi vir para cá. Na verdade, eu não estou mais aguentando ficar em casa.

— Mas você já vai embora amanhã, o que está acontecendo?

— Meus pais não estão aceitando muito meu namoro com o Júlio, eles dizem que ele é muito estranho. Todo o dia é uma discussão, mas, por favor, não conte para o Júlio, não quero que ele se chateie.

— Mas você gosta dele mesmo? Você sabe que o Júlio tem uns problemas né?

— Ah Caio, por favor, você também não, já bastam meus pais, eu não quero falar com você sobre isso.

— Tudo bem. Como você preferir.

— A verdade é que a paixão é uma coisa estranha, a gente não sabe muito explicar. E você Caio? Já se apaixonou alguma vez?

— Sim, me apaixonei uma vez, para nunca mais.

— Me conta. O que aconteceu?

— Eu estava namorando uma menina, a gente até pensava em se casar, mas aí um dia fomos a uma balada, eu fui ao banheiro e quando voltei, ela estava com outro.

— Não acredito! Caio "corno!" — Riu Isa.

— Sim, mas esse é nosso segredo, combinado?

— Combinado.

Isa não conseguia parar de rir, por ter descoberto que eu havia levado um "chifre". Ficamos conversando sobre outros assuntos, até que Isa falou que estava com fome.

— O que tem para comer, aqui hein? Estou com maior fome.

— Nossa "Passa Fome", só vem para casa dos outros para "filar boia" né?