TRINTA E DOIS

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Kara:


- Quando dei a notícia a Lilian, sobre a neta ter síndrome de down, ela ficou horrorizada. Palavras duras e horríveis saíram de sua boca, como se a menina fosse uma praga por sua filha ter engravidado sem planejar.

- Nunca fui com a cara dessa mulher. Ela me dá nojo -cuspo as palavras.

Minha mãe me pede para ajeitar o seu travesseiro, a posição de minutos estava causando dores ao seu corpo. Depois de arranjar uma posição mais confortável, ela continua.

- Foi ai que ela teve a idéia de se livrar da criança. Eu fui contra, bati o pé e tentei convencê-la a ficar com a criança. Expliquei que Carolyn poderia ter uma vida normal. -a mesma seca suas lágrimas - Mas Lilian sempre foi uma mulher difícil, e não adiantaria de nada eu falar. O seu plano era retirar a menina do hospital quando tivesse alta, e depois jogá-la em uma caçamba qualquer na rua.

Como alguém pode ser tão cruel a esse ponto? Cogitar a idéia de jogar a própria neta como se fosse um lixo. Essa mulher é muito mais baixa que eu imaginei. Meu estômago se embrulha, e se eu encontrá-la sou capaz de acertar um belo soco em seu nariz empinado de metida a rica.

- Foi ai que tive a idéia de...dar a menina a você, eu sabia do grande coração da minha filha, e que jamais negaria um bebê por apenas ser especial. E eu acertei, me lembro como você ficou feliz com às possíveis chances de Luna ser sua.

- Foi um dos dias mais felizes de minha vida. Eu tinha acabado de perder Imra, e minha filha foi o meu suporte. -digo chorosa.

No dia que mamãe apareceu em casa com várias fotos de Luna dentro de uma incubadora, fazia poucos dias que tínhamos enterrado a morena dos olhos claros. Minha noiva tinha brigado com o pai que era alcoólatra, ela insistia para ele procurar por ajuda mas nada, até que eles discutiram feio no meio da noite. Ela saiu nervosa pra rua, com o pai logo atrás, ele à chamou e quando ela virou no meio da estrada, um carro veio acelerando e bateu em seu corpo que foi jogado para longe. Ela morreu na hora, e Gil -seu pai- ficou maluco e foi internado em uma clínica psiquiátrica, alguns meses depois descobri que ele se matou.

Então me apaixonei por Luna através de uma foto, e a partir daí senti que ela seria minha.

- Contei a Lilian a idéia. De início ela excitou. Mas eu expliquei das chances de encontrarem a menina jogada e chegarem até ela, minha tática de assustá-la funcionou. Lilian tinha muitos contatos, e dinheiro, para ela foi fácil comprar as pessoas.

- Vocês estavam mechendo com a vida de um bebê como se fosse mercadorias -digo com fúria. Apesar de contornar a situação e não permitir que a bebê fosse para o lixo, minha mãe foi tão cruel quanto a senhora Luthor.

- Eu não me orgulho disso, Kara. Lilian tem um imenso poder sobre as pessoas. Quando eu disse para por Carolyn/Luna no abrigo ia levar um pouco de tempo até você conseguir a guarda da menina, mas ela disse que faria isso em poucos dias. Até que ela apareceu com um advogado amigo dela. Ela fechou uma sala e reuniu o  pediatra responsável pelas crianças, e mais duas enfermeiras que trabalhavam comigo, e nos apresentou os documentos falsos que dizia que Carolyn Luthor havia falecido no dia 11 de Setembro, motivo da morte foi o problema no coração, ela era pequena demais e não aguentou a cirurgia. O pediatra assinou o atestado de óbito falso e guardou para usar no momento certo. Alguns dias depois ela me procurou com os documentos da adoção, e tudo assinado com documentos falsos.

Indignada me ponho em pé. Começo a me movimentar pelo quarto. Documentos falsos, tudo não passava de uma mentira.

- O juíz, a assistente social nunca existiram. A certidão de Luna não vale, Luna Danvers não existe no cartório, eu sinto muito minha filha.

Em meio a tosse mamãe chorava. E eu estava em estado de choque, meu corpo doía. Uma vontade assustadora de gritar tomou conta do meu corpo.

- AAAAAAA - gritei sem me preocupar com nada  em minha volta. Eu precisava me livrar daquela dor assustadora, mesmo que ela em segundos estivesse de volta.

- Kara, se acalme.

- Como você teve coragem de fazer isso -eu gritava com a minha mãe camada. Naquele momento eu só pensava no tão cruel e frias elas foram com a vida de um bebê. Luna/Carolyn era a mais vítima entre nós todos. Lena não merecia isso, na verdade ninguém merece isso, passar anos achando que o seu filho morreu quando na verdade a sua própria mãe egoísta com a amiga egoísta planejaram tudo.

- Eu precisava de dinheiro, estavamos em uma dívida com o dono da casa. Seu pai desempregado fazendo apenas alguns bicos, e eu não pensei,afinal Lilian era minha amiga. Mas Luna trouxe luz para a sua vida, então como eu disse em partes não me arrependo.

Solto uma sonora risada sem humor.

- Trouxe luz para a sua filha, e seis anos de trevas para uma mulher doce, que sofre achando que a filha morreu sem ter tido a chances de conhece-la. -volto a chorar.

- Eu pensei que Lena fosse morrer, o seu estado era grave.

- Não interessa, mamãe. Você me enganou, me deu documentos falsos de uma criança. E se numa dessas consultas de Luna algum hospital desconfiasse dos documento, já imaginou eu indo presa por roubo de criança?!

- Os documentos eram perfeitos, Lilian garantiu que nada daria errado. Me desculpa ...-ela começa a tossir novamente, e mesmo com muita raiva a ajudo a se sentar, e lhe entrego o copo d'água. Apesar de tudo ela ainda é a minha mãe, e quero o melhor para ela.

- Se vocês eram tão amigas ao ponto de tamanha crueldade, como ela teve coragem de ficar com o seu marido, hm? Afinal ela carregou um filho dele por nove meses. Não vai me dizer que sabia dessa criança e resolveu mantê-la longe de nós.

Minhas palavras saiam duras e frias. O meu sangue estava quente e existia muita raiva dentro de mim.

- Eu não sabia de seu irmão, depois que peguei Luna, nunca mais vi Lilian. E acredite quando descobri que seu pai me traiu com ela fiquei surpresa, Lilian nunca tinha sido apresentada ao seu pai, pois o conheci depois que me formei.

- Posso te fazer uma pergunta ?- me afasto dela quando percebo que está melhor.

- Claro.

- Se não soubesse que estaria morrendo, você me contaria isso tudo? -levanto minhas sobrancelhas.

- sinceramente não. Eu não gostaria de ver o sofrimento estampado em seu rosto, como eu vejo agora.

Passo as mãos no cabelo. Eu devo estar horrível.

- Eu preciso ficar sozinha. -caminho até a porta -Qualquer coisa só me chamar -bato a madeira branca.

//

Deitada em minha antiga cama choro sem parar. Em meu celular tem algumas ligações de Lena, apenas mando uma mensagem avisando que estou bem, mas não posso falar agora e deixo o aparelho no silencioso.

Me pergunto o que será de nós daqui pra frente. Lena teria coragem de arrancar Luna de mim? Acredito que não, mas ela é a mãe de sangue, a mãe que carregou minha filha durante quase nove meses. E os documentos que tenho não valem de nada, apenas me mostram como uma ladra de crianças falsificadora de documentos.

Tenho medo de tudo isso abalar o nosso relacionamento que estava indo tão bem. Eu sei que nenhuma de nós tem culpa, mas o destino pode planejar coisas cruéis quando quer.

Acabo adormecendo em meio a tantos pensamentos ruins. No meio de meu sono sinto um corpinho quente se agarrar ao meu, e me dou conta que estou coberta, pois quando adormeci estava sem. Acredito que foi o meu pai.

Luna beija meu queixo, que aquece todo o meu corpo. Eu não posso perder a minha menina. A abraço, e acabamos adormecendo juntas no meio de tantos caos.






Destino | KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora