Montero

589 61 79
                                    

Uma tarde de verão. O crepúsculo iniciava seu jazer no horizonte, o sol banhando os poucos que ainda estavam naquela região. Uma região afastada da civilização humana, mas ainda na Terra, lugar belo como o Éden. Um vasto campo decorado de flores delicadas em azul, rosa, amarelo. Uma lagoa no centro de tudo, ao lado dela... Uma figura encantadora.

Suas asas eram banhadas pela luz solar, penas brancas que se movimentavam com a brisa refrescante. Olhos fechados. Cabelos castanhos caindo sobre o corpo, que vestia algo que lembrava um quíton grego, branco, feito talvez de seda. Um braço, decorado por braceletes de ouro, tinha a mão brincando com a água fresca da lagoa, enquanto uma guirlanda de flores campestres decorava a cabeça daquele anjo tão impecável. Seus lábios finos formavam um pequeno sorriso. Aquela criatura diviníssima tinha uma pele bronzeada e aveludada, os olhos piedosos e gentis. Mas não estava sozinho como imaginava.

Um homem de aparência quase oposta estava o espreitando por trás de uma árvore. Uma energia negra lhe cercava. Orelhas pontudas, caninos afiados, o olho que ainda residia em sua face oscilava de negro para vermelho às vezes, e onde não havia nada, havia um tapa-olho. Sua pele era perfeita, branca como papel, com algumas cicatrizes. Seu peito estava desnudo, os mamilos rosados visíveis e destacados pela cor e por estarem enrijecidos, enquanto trajava uma calça de couro e calçava botas do mesmo couro preto, com um salto ao final. Os lábios estavam úmidos pelas lambidas que dava ao ver o corpo daquele anjo. Os cabelos em tom negro azeviche caíam sobre seus ombros e peitoral fortes, dando um contraste tentador junto das asas negras, sem penas, pontiagudas. Era um homem tentador e enlouquecedor, ainda mais com o pequeno sorriso de canto que surgia naqueles lábios.

O demônio se aproximou, e o anjo ergueu os olhos. Engoliu em seco. Era a primeira vez que via um demônio tão perto, tão ousado, sem medo de ser ferido. Os lábios tremeram, enquanto olhava fascinado.

- Senhor... Deseja algo? - a voz de Xie Lian soou doce e ele logo se levantou, um tanto agitado. O demônio sorriu, um riso baixo saindo de seus lábios, e então deu a volta pelo anjo em velocidade da luz, tocando seu ombro.

- Não é perigoso estar aqui sozinho, "sua alteza"? - a voz de Hua Cheng soou firme, próxima do ouvido do anjo. Este último se virou, surpreso, quase assustado.

- Não... Eu não tenho que ter medo de estar aqui, tenho? Não preciso disso. Além de saber me proteger, os Céus me protegem também, demônio. - o anjo engoliu em seco, olhando o maior. Era tão pequeno perto dele...

- Que fofo. Qual o seu nome? - ele parecia ter jogado tudo o que Xie disse no lixo, como se nada daquilo importasse.

- É errado indagar o nome de alguém sem dizer o seu primeiro.

Ofereceu um sorriso lateral enquanto cruzava os braços, que desestabilizou o demônio. O rosto do maior ruborizou, os punhos se fecharam, e então ele desviou o olhar para o lado. O que estava havendo? Quando foi que ele ruborizou pela última vez?

- Hua Cheng...

- Isso, muito bem! Sou Xie Lian, muito prazer, senhor Hua.

Suspirando, o demônio passou o braço pelos ombros do menor, começando a andar lado a lado com ele. Xie logo notou que Hua Cheng mal tinha pelos, mas... Se censurou. Que tipo de pensamento era aquele? De que importava o quão... Forte ele parecia... E o quão... Quente estava seu corpo...

- Me diga, quão entediante é ser um anjo?

A voz de Hua Cheng cortou o turbilhão de pensamentos na cabeça do anjo, que negou com a cabeça, sorrindo de forma gentil, falando de forma doce, em um tom baixo.

- Não é entediante!... Lutar e defender a paz, a harmonia, um mundo sem pecado de nenhuma natureza é mara-

- Sem pecados?! Qual a graça?! - as sobrancelhas de Xie se arquearam.

MonteroOnde histórias criam vida. Descubra agora