Método e teorias explicativas: Metapsicologia

110 3 0
                                    

Freud recomendou que os analistas se recompusessem após as sessões, ou seja, após o tempo de observação dos eventos encontrados ao longo do O desenvolvimento da psicanálise para além da teoria de Freud
  em relação ao método em pacientes, ou em determinado paciente, para conjeturar, quase fantasiar (zu erraten, observa Vassalli - 2001 -, "deviner", traduz o francês) sobre as possíveis conexões e explicações do que foi observado.  O uso dos verbos citados não é por acaso: indica que uma explicação - efetiva - deve ser buscada em um nível diferente daquele relativo ao campo de observação: este último é a subjetividade do paciente, explorada com o método específico, e portanto além da consciência do próprio sujeito naquele momento, enquanto a explicação só pode ser buscada em outro nível.  Isso só pode ser hipotetizado, assumindo dispositivos psicofisiológicos e mecanismos biológicos (cérebro) que podem explicar o psíquico.
Freud também: tentou uma primeira teoria no "Projeto" (Freud, 1895), logo abandonou e formulou uma segunda, diferente, esboçada entre 1895 e 1905 e, portanto, claramente delineada em Metapsicologia (1915), que aperfeiçoou todas seus trabalhos subsequentes ao longo, dando-o como o mais plausível e, portanto, por assim dizer, para ser mantido bom para a pesquisa.  Esta segunda teoria parte da hipótese de que o Trieb corresponde a um quantum de energia biológica, de que a intensidade da tendência encontrada ao nível da psique do sujeito corresponde a uma "carga" (catexia, disseram os americanos: Rapaport, 1951b) de tipo biológico: esta é a hipótese freudiana do substrato bioquímico das pulsões, na qual Freud insistiu várias vezes.
Nas passagens citadas, Freud mostra como estava grávida nele o intuito explicativo da teoria que desenvolvia: isto é, ele tentava explicar o que era descrito pela clínica (possibilitado pelo método) não mais simplesmente psiquicamente, mas de forma biológica. nível.  Isso ele podia fazer, mas apenas com o conhecimento neurofisiológico da época: daí os princípios da eletrofisiologia, da termodinâmica e da hidráulica da época, que todos os críticos reconheceram nas formas de Freud.
Esse tipo de explicação não é mais aceitável hoje: se a neurofisiologia da época podia dar sustentação, pelo que então era conhecida apenas pela eletrofisiologia, as neurociências de hoje nos dizem algo mais sobre o funcionamento do cérebro.  Uma nova e diferente Metapsicologia é, portanto, necessária: nesta perspectiva eu ​​tenho avançado por algum tempo novas hipóteses teóricas (Teoria do Protomental) em linha com a neurociência atual.
O termo "metapsicologia" foi cunhado por Freud para indicar que ele queria investigar o que estava "além" (= meta) do psíquico.  Na época, a psicologia era, para um a priori compartilhado, uma investigação sobre o que um sujeito poderia dizer em consciência sobre o que sentia que estava acontecendo dentro de si (um exemplo era a Escola Kulpe: 1893).  A psique foi identificada com a consciência: por isso Freud, que estava descobrindo a parte inconsciente dela, justificou-a com o termo "meta".  Nessa "justificativa" ("justificação do inconsciente" é o título do primeiro parágrafo do ensaio "O Inconsciente", o terceiro dos cinco ensaios de que a Metapsicologia é composta) ele se preocupava com uma explicação que negligenciava a descoberta mesmo daquela evento.  Isso gerou muitos mal-entendidos.  A metapsicologia freudiana se constituiu na preocupação em justificar a existência de algo além (meta) do psíquico como então se acreditava, isto é, coincidindo com a consciência do sujeito, e não se preocupou em demonstrar como um determinado método em vez disso, poderia provar a existência de algo psíquico inconsciente, que poderia ser descrito em termos semelhantes a como os eventos psíquicos conscientes são descritos.  Em outras palavras, Freud, em vez de insistir em uma ferramenta metodológica que lhe permitisse identificar (descobrir?) E descrever processos psíquicos inconscientes (descrever, portanto, um inconsciente), imediatamente correu, por assim dizer, para a explicação: desta forma porém, ele passa do plano de investigação da subjetividade do paciente a um plano explicativo de tipo biológico, ou melhor, psicofisiológico, como também demonstra sua tentativa anterior, no "Projeto 1895".
Nessa "corrida" para a explicação (por que dos epistemólogos), deixando de lado o "como" (como) eventos psicológicos inconscientes poderiam ser observados, o caráter hipotético da explicação permanece na sombra.  A confusão entre método e descrição, de um lado, e hipóteses explicativas, do outro, fez-nos esquecer que as explicações são teorias hipotéticas e fez-nos crer que as hipóteses de Freud eram a prova irrefutável da existência do inconsciente.  A prova não está em uma teoria explicativa, que ainda permanece uma invenção conceitual, mas deve ser identificada no método, que portanto deve ser discutido e aperfeiçoado como uma ferramenta que comprove a existência do que pode ser observado com ele.  Se se pode dizer que Freud descobriu o inconsciente, em minha opinião não se pode dizer que ele descobriu as pulsões, como muitas vezes está implícito.  A pulsão é um conceito explicativo, que Freud supôs para explicar o então considerado "estranho" fato dos processos psíquicos inconscientes.  Nem pode um Inconsciente ser substantivado, com uma letra maiúscula.  Por essa razão, em outro lugar (1990), defendi um uso melhor do nosso adjetivo inconsciente.  A confusão entre a observação com um método específico e hipóteses explicativas tidas como prova da verdade, favoreceu a reificação desta última, e fez os discípulos dizerem que pulsões, repressão e mais eram "descobertas" irrefutáveis, e criticar que o inconsciente de Freud é o neurológico.
A metapsicologia de Freud e toda a sua teoria do impulso energético foram amplamente criticadas, a partir do final dos anos 60 nos Estados Unidos: Reuni as vozes mais autorizadas sobre o assunto em outros lugares.  Em particular, uma desconexão entre Freud teórico e clínico foi observada por muitos, criticando o primeiro e apreciando o último, propondo uma purga de todos os termos energético-dinâmicos do léxico psicanalítico (Schaefer, 1975; George Klein, 1976), e aí tem-se falado da morte da Metapsicologia (Holt, 1981), ou mesmo da questão de se considerar Freud "morto" (Westen, 1999).  Mas não se ousou, até recentemente, afirmar claramente que os conceitos metapsicológicos freudianos não podem encontrar hoje um fundamento e que, portanto, é necessário delinear outra e diferente teoria metapsicológica.  Para justificar essa hesitação, uma espécie de reverência ao Mestre por parte dos psicanalistas pode ser invocada, de modo que sua teoria foi vivida como uma doutrina, mas na minha opinião é mais lógico considerar, tanto na base da reticência ou hesitação , e também de veneração, um despreparo epistemológico dos psicanalistas para distinguir o plano clínico descritivo do teórico-explicativo, o plano psíquico do psicofisiológico;  bem como sua negligência da evolução de outras ciências da mente.
Neste ponto surge uma questão: uma vez que os psicanalistas depois de Freud há muito confundiram o nível psíquico (descrição clínica) e o nível explicativo (explicação biológica), por exemplo, confundindo repressão com resistência e dando conceito de pulsão, não simplesmente o significado de uma tendência psicológica ( impulso, trieb), mas de uma entidade reificada (ou reificável) em um nível biológico (carga energética), bem como usando ambiguamente toda a teoria freudiana, ora como uma metáfora (útil para descrever o achado analítico), ora como se a teoria havia sido biologicamente estabelecida, qual era a posição real de Freud sobre isso?

ALÉM DA PSICANÁLISEOnde histórias criam vida. Descubra agora