Kettō

I

A vida adulta é tão interessante quanto um livro de física do ensino médio, claro para quem odeia exatas.

Aos dezoito pensei que minha vida daria um salto para a liberdade. Enganada estou, fazer dezoito não significa merda alguma. Nada muda da noite para o dia. E estudar e ter presença obrigatória nas reuniões de família continuaram a fazer parte da minha rotina.

A escolha do curso da faculdade foi total influência da família, onde se formavam médicos, advogados e administradores. Eu tinha que, obrigatoriamente, escolher uma dentre essas opções.

Não tenho paciência para decorar leis e não conseguiria defender alguém culpado. Tenho certeza que, em uma família machista, eu nunca conseguiria chegar à presidência de nenhuma das empresas. E então, o que me restou foi medicina.

- Sakura, você será uma ótima médica e fará de sua família orgulhosa. - Disse minha mãe, acompanhada de suas duas irmãs, que me encaravam sorridentes.

Mebuki, Mikoto e Kushina. São tão diferentes que ainda não acreditei que são realmente irmãs. As três são o elo que junta toda família, devo ressaltar que minha avó devia mesmo ter um dom de casamenteira. As três filhas enlaçaram os três melhores partidos da cidade e hoje são o motivo para a família ser assim, tão grande.

Minha mãe, desde que me entendo por gente, Mebuki Haruno se casou cedo, mas foi a que decidiu dar à luz mais tarde. Ou seja, sou a caçula da família. A que sempre era excluída nas reuniões de família por conta da idade. Acho que por isso, até hoje não tenho interesse algum em participar das conversas dos meus primos. Tia Mikoto se casou com Fugaku Uchiha e logo teve seu primogênito e não demorou para o caçula vir ao mundo. Itachi e Sasuke têm poucos anos de diferença, mas são a cópia um do outro. Tia Kushina foi a última a aceitar subir ao altar, ela queria ser livre e poucos eram os que passavam do primeiro encontro, mas ainda assim Minato conseguiu domar a fera e ainda a convenceu de que dois filhos era muito melhor do que nenhum. Karin e Naruto completam o time.

Deixando de lado o resumo familiar. Hoje é mais um dia de reunião, e eu sou o motivo principal para a comemoração. Meus dezoito anos e minha nota no vestibular de medicina.

Por incrível que pareça, as reuniões aconteciam na sala de jantar. Uma mesa enorme e mais algumas cadeiras eram necessárias para acomodar a todos por ali. Eu geralmente passava todo momento no celular. Rindo e concordando de vez em quando de algo que eu não havia prestado atenção. Minha opinião não era solicitada com frequência. Mas hoje seria diferente.

Desci as escadas acompanhada das outras três mulheres que trocavam ideias para a festa de formatura da universidade. Algo que só ocorrerá daqui a cinco anos. Ouvi que a decoração deveria ter um tema e as cores predefinidas eram o azul royal e prata. E eu que não sei nem se estarei viva até lá, apenas concordei.

Do corredor que dava acesso à cozinha e à sala de jantar, já dava para ouvir a conversa acalorada. Não se engane, somos uma família de alto padrão, mas nas reuniões de família as etiquetas eram esquecidas, dando lugar aos berros e risadas espalhafatosas. Adentrei o cômodo e toda atenção foi direcionada à porta, por onde eu passava. Sentei no primeiro lugar vago e a conversa voltou a preencher o lugar.

- Você está muito bonita, prima - ao meu lado Sasuke passou a mão pelo meu ombro e me deu um abraço sem jeito - Parabéns, futura médica.

Dei um breve sorriso. Os homens de nossa família têm o costume de serem carinhosos. Não sei de onde saiu o gene difícil de Karin, e não posso negar, o meu. Diferente de Sasuke, Naruto e Itachi. Eu e Karin não gostamos de demonstrações de afeto. Achava os abraços de Sasuke demorados demais.

Me afastei e ele logo tratou de puxar assunto outra vez. Não me lembro de trocar mais de duas palavras com ele, por isso era novidade. Ele parecia interessado em minha vida.