Mudança de paradigma

"....adultos são tolos incompetentes"

Em sua mesa com toalhas verdes, os sonserinos estão olhando para ele, seus olhares pesando sobre o corpo magro de Harry.  É o mesmo olhar, Harry pensa, que os Comensais da Morte usavam enquanto ele estava no cemitério, a varinha presa em sua mão suada e o corpo de Cedrico caído a seus pés.  É a expressão de quando eles riam por trás de suas máscaras, quando Voldemort o forçou a se curvar a um homem sem honra, a se curvar até a morte.

Seus olhares atentos são os mesmos dos senadores romanos, vestidos de seda e com os lábios manchados pelas uvas que seus escravos os alimentam enquanto espiam o gladiador que enfrentará a morte por diversão;  é o olhar frio de um oligarca entediado para quem a dor e o sofrimento estão tão distantes quanto a borda cada vez mais distante do mundo onde a terra encontra o céu, o olhar de alguém que busca a fraqueza de Harry, busca seu sofrimento, busca seu fim, porque olhando  desvendá-lo seria, para eles, a mais deliciosa diversão.

Só há uma resposta que Harry tem para eles.

Eles procuram fraquezas, então ele lhes mostrará força.  Eles procuram o sofrimento, então ele mostrará apenas uma calma tranquila e despreocupada.  Eles procuram seu fim, então ele vai mostrar a eles um novo amanhecer além da noite do cemitério.

Harry está quase na mesa da Sonserina, agora.  A mesa parece estar organizada de acordo com a idade, com os alunos mais velhos sentados mais perto da mesa do professor.  Quando ele passa, os veteranos viram a cabeça descaradamente para acompanhar seu progresso com olhos que nem eles conseguem evitar de se arregalar.

Talvez eles não esperem que ele reaja com uma calma de olhos mortos tão frígida quanto a mordida de uma lâmina.  Talvez eles esperem uma raiva intensa, fanfarronice e blefes.

Mas o que a raiva de sangue quente lhe serve?

O mundo de Harry é um mundo de escassez.  Ele não tem tempo para suas frivolidades e indulgências.  Ele só pode manter o que lhe serve, e o tipo de raiva que o atinge não o serve, não mais.  Não vai permitir que ele mate Voldemort - apenas seu novo tipo de fúria fria e cristalizada tem chance disso.

Harry não pode domar totalmente a coisa selvagem dentro, mas ele pode mantê-la sob controle e usá-la contra seus inimigos em vez de si mesmo.

A caminhada de Harry o leva cada vez mais perto do lugar na mesa onde o quinto ano está sentado.  Do outro lado da mesa, Malfoy está olhando para ele, seus olhos cinzas tão estranhamente arregalados e incrédulos que Harry não consegue evitar a forma como seus lábios se contraem.  Pansy se agarra a um dos braços de Malfoy como se fosse uma tábua de salvação, e Crabbe ou Goyle (Harry não percebe a diferença) está sentado do outro lado dele, boquiaberto.

Enquanto Malfoy continua olhando fixamente, uma Sonserina do quinto ano cujo nome Harry não conhece se move como abrir espaço para Harry se sentar ao lado dela, mas Harry já virou a cabeça e continuou em frente.  Seria tolice sentar propositalmente tão perto da gangue de Malfoy;  Afinal, Harry não gostaria de ser enfeitiçado debaixo da mesa pelo resto da refeição.

Em vez disso, Harry vai até o final da mesa, onde os recém-selecionados primeiros anos estão sentados.  Ele para bem atrás do garoto de olhos afiados que perguntou por que ele estava com os primeiros anos não selecionados, em vez de com os outros Grifinórios em sua mesa.  "Posso me sentar aqui?"  Harry pergunta.

O menino pisca para ele, então, parecendo que acabou de acordar de um sonho, acena com a cabeça.  Há uma pausa estranha e, em seguida, um arrastar de pés um tanto deselegante enquanto todos os primeiros anos à esquerda dele se movem para baixo em um assento para que haja um lugar vazio para Harry.

Acenando em agradecimento, Harry toma seu novo assento.

A maioria das pessoas provavelmente pensa que ele enlouqueceu, mas Harry honestamente pensa que este é o curso de ação mais lógico que ele pode tomar.  É improvável que os primeiros anos sejam tão arraigados na supremacia do sangue quanto os anos superiores, e mesmo que eles tentem prejudicá-lo, Harry pode dizer, sem exagero ou excesso de confiança, que nenhum deles será capaz de sequer arranhar ele.