monotonia.

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Cá estou eu, mais um dia parado na estação, esperando o metrô que costumo pegar todos os dias. Me recordo de quando era mais jovem e adorava fazer esse trajeto de volta pra casa mas agora parece tudo tão sem graça e repetitivo, adorava chegar em casa e encontrar minha esposa. Porém, agora sinto que a vida está passando diante dos meus olhos e eu não estou fazendo nada para aproveita-lá. Todos os dias a mesma coisa. Acordo, vou para o escritório, volto pra casa, durmo e tudo começa de novo e de novo... Minha esposa é gerente de uma loja, ela sonhou com esse cargo por tantos anos e finalmente conseguiu, porém o trabalho dela requer mais tempo do que o antigo cargo, então nossos desencontros estão sendo constantes.
Saio dos meus devaneios quando o barulho das portas do metrô se abrem. Entro e me sento diante da janela. Pensando ainda sobre minha vida tão...tão...monótona? Sim, com certeza monótona.
Ainda sentado, observo a noite lá fora, poucas estrelas no céu e as ruas vazias, deve ser porque estamos no meio da semana. Porém quando ainda estou olhando para as vazias ruas da cidade, observo um prédio. Velho, com aspecto de abandonado, como eu nunca tinha visto ele ali antes?Estava tão cego assim pelo cansaço ou apenas indo embora roboticamente todos os dias sem ao menos olhar para os lados.
Subo meu olhar para o segundo e último andar do velho prédio. Ele não estava abandonado como eu imaginava, muito pelo contrário havia uma faixa com letras grandes e vermelhas escritas "aulas de dança, aqui", não sei como explicar o que eu senti ao ler aquilo, talvez uma curiosidade, que tipo de dança? eu seria capaz de aprender? minha idade não atrapalharia? diversas perguntas que sumiram quando eu subi meu olhar, lá de cima eu avistei uma mulher, morena...muito linda, mas seu olhar sob as ruas vazias carregavam dor e a falta de brilho em seus olhos só confirmava isso. Com uma expressão vazia, ela olhava pra baixo, creio que ela não tenha me visto, parecia estar hipnotizada.
Virei o pescoço acompanhando ela, mas a morena não se movia. Olhava para baixo, mas parecia estar em outro universo.
Fiquei naquela posição até perder a moça de vista, virei-me pra frente e só percebi segundos depois que eu estava com um sorriso no canto dos lábios. O que tava acontecendo comigo?
Balancei a cabeça tentando esquecer a belíssima mulher, quando o metrô parou onde eu deveria descer.
Em casa, entro e caminho até a cozinha onde encontro minha esposa sentada na mesa segurando vários papéis, acredito que sejam do trabalho dela. Quando Marta nota minha presença, solta os papéis e tira o óculos de leitura os colocando em cima da mesa. Ela vem até mim e despeja um selinho em meus lábios, doce, assim como ela é.

- Oi, querido! Como foi seu dia?

- Foi bom, querida. E o seu dia no trabalho? Cadê Ana? -pergunto sobre nossa filha, me sentando ao lado dela

- Foi ótimo, inclusive vou ter que voltar pra lá, aconteceu algumas coisas que só dão pra ser resolvidas pessoalmente, só estava esperando você chegar. Ana está com duas amigas no quarto, fique de olho nelas okay?! Prometo não voltar tão tarde. -ela diz tudo de uma vez, me deixando zonzo com a velocidade em que tudo foi dito.

Apenas afirmo acenando com a cabeça e um sorriso.
Quando minha esposa saí de casa carregando alguns papéis e pastas, eu sigo pro meu...nosso quarto. Caminho diretamente para o banheiro. Durante todo o banho me lembro da bela mulher que tinha o olhar tão triste, ela era um pouco mais jovem que eu, e eu não consigo imaginar o que podia ter tirado o brilho dela. Assim que saí do banho, lembrei-me do banner sobre as aulas de dança, incrível como aquilo havia mexido comigo, nunca dancei, nem gostava disso pois me considero um pouco "duro" para esse tipo de coisa, mas eu senti uma necessidade de correr até o prédio e me inscrever. Amanhã eu farei isso, eu acho...
A verdade é que não sei o que me fez sentir tanta vontade de dançar, se foi a bela moça de olhos tristes ou se foi a monotonia de minha vida que está me deixando louco a ponto de querer fazer aulas de dança. Só sei que eu tenho que resolver isso, não quero mais me sentir como se estivesse perdendo meus dias, talvez um desafio desse tipo ajudará a me sentir vivo de novo, é isso, eu preciso me sentir vivo de novo.
Enquanto decido se irei ou não me inscrever, deito em minha cama e acabo pegando no sono. E qual fosse a minha decisão, teria que esperar até amanhã.


eiii, gostaram do capítulo?

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