mudanças.

36 2 0
                                    

No dia seguinte, já dentro do metrô me sento no mesmo lugar do dia anterior, olho para fora da janela ansioso, na esperança de encontrar a linda mulher olhando para as ruas da cidade. E como imaginava, lá estava ela. Olhando para baixo, do mesmo jeitinho de ontem. Cheguei a cogitar que ela era uma estátua ou uma alucinação. Mas essas ideias foram embora. Ela era real, boa demais pra ser real, mas era. Enquanto o metrô avançou, minha mão subiu quase que involuntariamente para acenar para a mulher. Porém, foi um ato em vão. A morena estava tão vidrada que não me viu.
A voz robótica que avisava que as portas estavam se fechando me tirou do transe em que estava.

"As portas irão se fechar"
"As portas irão se fechar"

Eu segurava firme minha maleta, e por impulso me levantei e saí do metrô. Só percebi que havia feito tudo isso quando estava de frente ao prédio de dois andares.

-O que está acontecendo comigo?

Paralisado na frente do prédio ainda não conseguia acreditar no que tinha acabado de fazer. Entrei. Já estava ali, então só me restava entrar. Ao subir as escadas desisti, quando já estava me virando pra descer me esbarrei com uma loira, não tão velha, mas também não era jovem. Tentei esquivar para descer as escadas, acabar com essa loucura e voltar pra casa. Mas a loira foi na mesma direção que eu e acabamos esbarrando novamente. Ela, que estava segurando uns vestidos e algumas embalagens que não consegui decifrar do que eram, parou me encarando.

- Qual é? Vai subir ou não? Me ajuda aqui. -disse sem me dar chances de responder nem a primeira pergunta, jogando todas coisas que estava segurando em meus braços. - E não olhe pra minha bunda! - disse passando na minha frente subindo as escadas.

- Encontrei ele na escada. -a loira falou com uma senhora que estava ao lado de um casal.

-Oh, Giovanna, você pode ajudar aqui? -a simpática senhora pediu para uma morena, ela.

Ela. A mulher que havia me trazido até aqui, mesmo que indiretamente. A morena, que agora eu sabia o nome, que por sinal era lindo, se separou ao finalizar a dança com um rapaz. Ela caminhou até mim, ela parecia um anjo. Andava com tanta classe que parecia flutuar, o rosto sem expressão alguma agora tinha um leve sorriso no canto dos lábios, mas os olhos continuavam sem brilho algum.

- Em quê posso ajudar? -sua voz era doce mas firme. Sem muita emoção.

- O cartaz disse que posso assistir as aulas.

- Está aqui para ter aulas? -me lançou um olhar questionador.

- Sim. -respondi como um menino acuado.

Perdido e sem chances de fugir segui ela até o balcão. Ela pôs sobre a mesa uma pasta preta e grossa.

- Senhor... -perguntou enquanto procurava por uma ficha em branco na pasta preta.

- Alexandre Nero.

- Está entrando com um parceiro ou sozinho?

- Sozinho. Não que eu seja... Sozinho, só eu. -eu estava nervoso? que raios estava acontecendo?-

Graças a Deus ela ignorou meu nervosismo e continuou a explicação.

- 45 reais a hora, se pagar seis tem desconto de 5 reais. Já dançou antes?

- Não. Mas aprendo rápido! - com um sorriso nos lábios respondi, mas isso também foi ignorado por ela que estava preenchendo a ficha.

- Estamos recomeçando uma turma de introdução, eu recomendo essa. -disse me entregando um papel com os horários e dias em que aconteciam as aulas.- As aulas são às quartas. O horário é 19:30 durante oito semanas. -terminou de dizer e me entregou um comprovante da minha inscrição.

- Certo. Quarta, 19:30. Ótimo. -digo e me levanto com a expectativa de sair daquele lugar e nunca mais voltar, onde eu estava com a cabeça quando inventei isso de aprender a dançar?

- Senhor Alexandre?

A morena me chamou, tirando o meu foco de sair dali fugido. Me viro na direção dela. Os olhos delas são tão lindos, tristes, mas lindos.

- Onde vai? As aulas começam hoje. -enquanto meu cérebro processava o que ela tinha me dito, um jovem rapaz passou por mim, quase me atropelando e me jogando no chão. Estava tão em choque por saber que teria que dançar, que não briguei com ele. Hoje era quarta, lógico, como pude me esquecer? Eu poderia inventar uma desculpa qualquer e dar o fora, mas não pegaria bem.

- Hoje. Quarta, 19:30. Claro! -disse concordando, Giovanna com certeza estava me achando um tonto.

- Pode esperar ali. -apontou para um canto do salão, onde havia um banco acolchoado.- Nós já vamos começar.

Fiquei parado por mais alguns segundos. Caminhei até o banco que ela tinha indicado. Sentando ao lado de dois rapazes que calçavam os sapatos ideais para a dança, que por sinal era o mesmo tipo de sapato que eu ia para o escritório todos os dias. Depois de me sentar olhei para o chão, fiquei assim até que a voz do rapaz ao meu lado me tirou do transe.

- Olá, sou Arthur. -o rapaz ao meu lado estende a mão para me cumprimentar.

- Alexandre. -estendo a mão selando o cumprimento.

- Vai começar na dança de salão? -pergunta enquanto termina de calçar o tênis

- Parece que sim.

- Davi, olá! -o garoto que havia esbarrado em mim na minha tentativa frustada de fugir entra no assunto se apresentando.

- Olá! -olho em sua direção, mas me perco no assunto quando avisto Giovanna. Dançando com o mesmo rapaz de quando eu cheguei. Ela estava virada, de costas. Mas imaginava que estava com a mesma espresso vazia de sempre. Tiro meus olhos dela quando, Arthur me pergunta.

- Você dança muito?

Dou uma risada nervosa antes de responder.

-No baile de formatura há anos atrás. E você?

- Eu nem fui na formatura.

- Alguém está vendo mulher aqui? -Davi pergunta.- Estou aqui atrás de garotas.

Ao mesmo tempo, nós três olhamos para a loira que estava na frente do espelho fazendo uma espécie de aquecimento.

- Achei que aqui estivesse cheio delas. -desviamos o olhar da loira.- Não curto dançar com outros caras, sacou? Sem querer ofender, senhor. -falou se dirigindo a mim.

- Sem problemas. -e novamente abaixei a cabeça. Onde eu estava me metendo e por que essa aula não começava logo?

Depois do assunto esquisito, três moças entraram pela porta que eu tanto queria sair. A senhora que tinha pedido pra Giovanna me atender se aproximou delas e elas conversaram alguma coisa, pareciam animadas. E o meu colega, Davi, também.

- Está vendo a magrinha? Vou ficar com ela, se não ligar. -disse para Arthur.

- Tudo bem. -o mesmo respondeu.

- Sei que você também não vai ligar. -falou olhando pra mim esperando por uma confirmação.

- Fique a vontade.

A senhora que estava conversando com as meninas apontou para nós. Pude ver os sorrisos e a animação das garotas irem embora. Rápidas elas inventaram alguma desculpa para a senhora e saíram correndo pela porta. Era o que eu queria tanto fazer. Corajosas. Aceitado a fuga das meninas, a senhora caminhou até a gente.

-Boa noite, cavalheiros. Bem vindos a aula de dança de salão para iniciantes. Sou a senhora Elizabeth, sou a dona do estabelecimento e sua professora. -a simpática senhora se apresentou com um sorriso largo nos lábios.- Desapontados com minha idade?

- Sim. Quero dizer, não. -o idiota do Davi começou a dizer. Você parece ser experiente.

Certo, essa noite seria longa.

dance with me?Onde histórias criam vida. Descubra agora