Das coisas que não sabemos

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Oláa pessoal. Tudo bem?

Faz tempo que não posto nada, mas resolvi arranjar um tempinho para escrever uma fic de aniversário para a minha quase gêmea Kindgato. Muito obrigada por ser minha amiga e ouvir meus desabafos, não é a melhor fic que escrevi, mas é de coração <3

Também postada no ao3.


Há coisas que Lan Xichen nunca poderia imaginar.

A primeira coisa era aquela dor em seu peito.

Começava minúscula, apenas um pontinho, um pequeno latejar. Mas bastava fechar os olhos para que se tornasse intensa.

Forte. Aguda. Como uma punhalada em seu peito, se alastrando por todo seu corpo, o deixando sem ar, até que ele abria os olhos e acabava.

Ele ficava lá.

Deitado, ofegante.

Até que ele se decida por esquecer, e se levanta para seguir sua rotina. Mas, por mais que tentasse, ele não conseguia esquecer, a dor ainda estava lá. Pequena, singela.

Esperando que ele fechasse os olhos para aparecer.

Xichen ainda se lembrava da primeira vez que o vi.

Olhava perdido para a água límpida e fria.

Na água fria, via seu reflexo refletido.

Um homem com longas vestes brancas, com sua fita balançando suavemente com o vento.

Impecável. Um líder de seita

Um homem quebrado.

Um homem que ele odiava.

Um assassino.

E ali, enquanto olhava para os olhos do homem que causou a morte do próprio irmão, ele o viu.

Olhos tão perdidos quanto o seu.

Olhos que entendiam perfeitamente o que ele sentia.

Do outro lado, um homem olhava para a água como se ela fosse sua mais querida amiga. Suas vestes púrpuras balançavam suavemente com o vento, mas ele estava alheio a tudo, perdido, fixado no que via.

Naqueles olhos Xichen viu medo, dor, arrependimento, e amor. Havia carinho naqueles olhos, um grande afeto guardado a sete chaves.

Xichen se viu encantado.

E então, o homem olhou para ele.

Foi como se seu mundo saísse de órbita, e ele ficou lá.

Parado, encarando aqueles olhos que faiscavam selvagens.

Xichen já havia visto Jiang Wanyin várias vezes, mas aquela foi a primeira vez que o enxergou.

Haviam muitas coisas sobre o líder Jiang.

Xichen sabia que assumiu a posição de líder cedo, que a morte havia marcado aqueles olhos cinzas tão profundamente que tudo o que se via era o resquício da dor da guerra e da morte. Sabia que criou seu sobrinho como se fosse seu mundo ao mesmo tempo que trouxe sua seita de volta das cinzas.

Sabia como o vinco em sua testa estava sempre lá, assim como a sua carranca irritada. Como essa irritação era transpassada em sua voz quando respondia sarcasticamente as demandas infinitas do Líder Yao. Como a mandíbula forte se contraia quando ele se segurava para não xingar ninguém.

Sabia como as vestes roxas esvoaçavam quando ele lutava, enquanto as faíscas roxas de Zídian voavam ao seu redor como uma pintura, impedindo que qualquer coisa se aproximasse e o machucasse, enquanto com a outra mão Sandu cortava o que alcançava.

Era como uma dança.

Uma dança suave e violenta.

Todos gritavam como o líder roxo era um raio de violência e crueldade.

E por muito tempo o Lan fechou seus ouvidos, ficando alheio ao que diziam.

Alheio ao líder Jiang.

Mas agora ele via.

Ele sabia.

Mas haviam coisas que Xichen nunca poderia imaginar sobre o líder Jiang.

Ele não sabia que ali, com as roupas púrpuras jogadas ao chão ele se tornaria tão vulnerável, tremendo sob seu olhar atento. As cicatrizes marcavam todo seu corpo e em cada uma Xichen viu uma história, uma narrativa de amor, dor e sobrevivência que aquele corpo lhe contava.

Nunca poderia imaginar que aquelas mãos que manuseavam Sandu com tanta violência pudessem ser tão gentis.

Seu toque era suave, calmo, como uma brisa de primavera.

Não havia brutalidade, apenas suavidade, sentia o metal frio de Zídian, pensando se era aquilo que a arma roxa sentia quando aquele homem a tomava em suas mãos.

Xichen podia sentir cada calo contra sua pele, e ele sabia que o dono tinha medo que aquela aspereza o incomodasse, mas ele se sentia acariciado, o tocava como se seu corpo fosse uma frágil porcelana, como se tivesse medo de rachá-lo, mas Xichen já estava partido.

Wanyin estava ali para juntar os seus cacos.

Naqueles olhos viu ansiedade e medo refletidos, eles gritavam "eu não quero machucar você" e Xichen sorriria, tomado pela mais profunda adoração com todas as coisas que aquele homem queria dizer, mas não tinha coragem o suficiente.

Mas de sua boca não saiu nada.

Daqueles lábios, que tão rudemente falavam com outras pessoas, só saiam suspiros, pequenos sons que chamavam timidamente o nome que uma vez odiou.

Aqueles olhos agora lacrimejavam cinzas como um dia em tempestade, e Xichen se viu refletido lá.

Bonito, puro, completo.

Como se ele fosse a criatura mais importante da terra.

E então os seus próprios transbordaram, alguém já havia o olhado dessa forma? Ninguém nunca cuidou dele assim. Pela primeira vez em muito tempo, seu coração se encheu de alegria, e doeu.

Uma dor boa.

Uma dor que o deixava feliz.

E suas antigas dores foram embora, o deixando respirar novamente.

Porque A-Cheng o fazia se sentir assim, a criatura mais frágil de todas.

Seus olhos, seu corpo, sua boca escondiam vários segredos, e Xichen os descobriria um a um, pedacinho por pedacinho.

Ali em seus braços, dançando consigo, Xichen viu como Wanyin transbordava, e seus sentimentos vazaram sem controle.

Ele era suave.

Doce.

Intenso.

Selvagem.

Mas ainda havia muito para ver.

Muito daquele homem para descobrir.

E ele faria amor com A-Cheng até que ele fosse seu tudo.



E então? Críticas? Considerações?

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Até a próxima.

Das coisas que não sabemosOnde histórias criam vida. Descubra agora