Não me deixe, Héctor.

Capitulo Único

-  Eu prometo. Não vou deixar a Inês te esquecer! AAAAAH!!!!!
  Assim mesmo ele partiu. Envolto em pétalas, fazendo uma promessa que não podia cumprir, Miguel deixou El Mundo de los Muertos.
   Logo que ele se foi, um vazio crescia em todos da Família Rivera. Ninguém se mexia, e o silêncio que os envolvia era tão incômodo quanto o sofrimento. Não por Miguel, mas pelo Papá Héctor. Vê-lo no chão, sofrendo, enquanto seu esqueleto cintilava e aos poucos desaparecia, era de doer o peito - ou os ossos.
   De todos, a mais aflita era a Mamá Amélia. Mesmo que o ressentimento pelo que Héctor fizera ainda perdurasse em seu peito, a dor de ver o amor de sua vida sofrendo e sendo esquecido superava qualquer rancor. Lhe doía cada centímetro de seu corpo, enquanto suas mãos envolviam as dele. Há muito tempo não fazia isso, até esquecera de como aquele pequeno gesto lhe fazia sentir. Odiava parecer tão emotiva e fragilizada, mas não conseguia ser confiante perdendo Héctor. Seu olhar não desprendia do rosto de seu amor ao passo que sua cabeça explodia de culpa e confusão. Seria aquilo tudo sua culpa? Estava certa ao bani-lo da família? Teria sido um exagero? Ou ele merecia aquilo? Antes estava tão certa da resposta que riria se alguém lhe perguntasse, mas agora... não sabia dizer. Só sabia que apesar de tudo, de todos os sofrimentos, da distância e até da mágoa, ela o amava. Amava mais que tudo.
   Héctor esboçara um pequeno sorriso, apesar de toda dor que sentia. Com
aquele pequeno ato, esperava consolar Amélia. Ele percebera o pesar no rosto de sua amada, mesmo que ela tentasse esconder com todas as forças daquela forte e confiante mulher que sempre fora. E que ele sempre amara. Ele temia deixá-la e deixar Inês. Sua pequena Inês. Ah, quanto Héctor a amava, e quanto sofria por não encontrar com ela e a abraçar pelo menos uma última vez. Quanto ele desejava dizer a ela que seu papá a amava muito e só queria, em todos esses anos, estar com su família de novo. Sim, era culpa do Ernesto, ele sabia. Mas naqueles últimos momentos não havia espaço para ódio, apenas amor. Apenas sua amada e sua hija. Fora tão bobo em deixá-las para trás. Por deixar Santa Cecília. Se odiava por ter partido naquela idiota aventura, mas era jovem demais para perceber que perdera a lua contando as estrelas. Ah, se pelo menos Amélia soubesse...
  - Sinto muito, mi amor - sussurrou Héctor, tentando ser mais forte que sua dor. - Eu... eu nunca deveria... ter... te deixado. Nem... nossa Inês.
  - Eu sei... - A voz dela saíra embriagada pelo choro. Ela não queria perdê-lo. Não outra vez.
  - Diga... a nossa hija... que eu a amo muito.
   O músico começou a brilhar. Todos viraram o rosto enquanto esperavam o fim daquele triste momento. Amélia enterrou o rosto nas mãos para que não a vissem chorar. Então a luz se tornou cada vez mais intensa, até que parou. Todos os Rivera se rejubilaram pelo que viam diante de seus olhos. Mamá Amélia, que achou que tudo se acabara, se assustou ao virar e ver seu amor bem, sorrindo para ela. Ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas de seu rosto com uma mão, com a outra a mulher tirou o sapato e acertou o rosto de Héctor com tanta força que fez seu crânio girar. Ele tentara argumentar enquanto ajeitava sua cabeça no lugar, mas ela se jogou em seu peito num forte abraço antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
  - Nunca mais me deixe, Héctor. - Sussurrou a amada e ele respondeu lhe abraçando de volta.
  Depois de um longo abraço, quando a razão retomou-lhes os sentidos, ela percebeu que não tinha ligado todos os pontos.
  - Mas... como? - perguntara ela, perplexa.
  - Inês. Ela se lembrou. Miguel conseguiu, mi amor. Ele fez com que ela se lembrasse de mim!
   Héctor não conseguia parar de sorrir. Sua garotinha, sua querida hija se lembrara dele. E ele poderia vê-la outra vez e lhe dar um grande abraço. Ele, finalmente, teria tudo que sempre quis: sua família de volta.
   - Obrigada, Miguel. - Murmurou Mamá Amélia enquanto toda a família se reunia num caloroso abraço. Estavam todos unidos enfim.