HELENA
Deitada no chão tentando proteger o meu rosto eu já tinha perdido as contas de quantos chutes eu já tinha tomado na barriga. Ruan continuava me xingando e chutando com mais força a cada segundo que passava e do outro lado da sala o meu filho me olhava sem saber o que fazer. Ele não podia fazer nada, era uma criança e as lágrimas descendo em seu rosto me deixavam com raiva de mim mesma. O meu filho estava passando por essa situação porquê eu estava permitindo
Helena - Para com isso, Ruan, o Augusto tá chorando! - gritei tentando achar algum resquício de humanidade naquele monstro.
Mas parece que o que eu tinha dito só me fez conseguir deixar ele com mais raiva porquê o filha da puta me levantou do chão pelos cabelos e me jogou no sofá apertando o meu queixo com força.
Perigo - Não quero te ver na rua, se eu souber que tu botou a cara lá fora o bagulho vai ficar ruim pro teu lado, vagabunda do caralho. - Me soltou cuspindo na minha cara logo em seguida.
Virei o rosto com nojo e escutei a porta sendo batida com força, no mesmo momento o Augusto veio correndo até mim.
Guto - Desculpa mamãe, desculpa por não conseguir te proteger - desciam mais lágrimas do rosto dele a cada segundo.
Helena - Não foi culpa sua, meu amor, a mamãe tá bem.
Guto - Eu prometo que eu vou matar ele pra senhora, eu juro, deixa só eu crescer. - ele sorria enquanto falava tudo aquilo e eu percebi o quão longe aquilo estava indo, o psicólogico do meu filho estava totalmente abalado.
Helena - Tá maluco, Augusto? - ele me olhou tentando entender - Nunca mais fale isso, apesar de tudo ele é o seu pai e ele te ama, ama muito.
Guto - Ele não me ama, ele nem me leva mais pra jogar bola - deu de ombros - Eu odeio ele.
Fiquei calada, eu não conseguia dizer mais nada.
Helena - Mete o pé pro banho, vou fazer brigadeiro e vou ligar pra vovó Ana. Você quer ir dormir lá? - fez que sim com a cabeça.
Ele levantou rapidamente fazendo uma dancinha e correu para as escadas indo pro quarto.
Peguei o meu celular em cima da mesa de centro e liguei pra minha mãe.
- Mãe, já chegou em casa? - falei quando ela atendeu a chamada.
- Cheguei sim, aconteceu alguma coisa?
- Tem como você vim buscar o Augusto? O Ruan surtou de novo, quero que o Guto se distraía depois do que ele viu hoje.
- Tá bom, daqui a pouco eu chego aí.
Joguei o celular em cima do sofá e observei a bagunça que estava na sala depois da passagem do Ruan, estava um verdadeiro caos.
Pra entender essa porra toda é um bagulho muito difícil e nem eu sei realmente como minha vida chegou à esse ponto...Bom, eu me envolvi com o Ruan quando eu tinha 15 anos e ele 25. Eu morava em São Gonçalo com a minha vó mas quando o meu pai foi preso pela primeira vez minha mãe me obrigou à vim morar com ela com a desculpa de que ela iria ficar sozinha e foi bem aí que a minha vida virou de cabeça para baixo.
Eu sempre fui muito estudiosa e isso nunca mudou, pelo menos até eu engravidar. Mesmo de dentro da favela o meu pai comandava o Alemão e foi aí que o meu caminho cruzou com o do Ruan, o coroa colocou ele pra fazer minha segurança e não foi que ele cuidou? Cuidou tanto que me deu até leite.
Voltando ao assunto, com o tempo comecei a me envolver com ele eai nosso lance permaneceu por um sete meses até eu meter o pé na bunda dele pois já tinha enjoado. Mas foi aí que eu descobri que estava grávida e quando o Augusto nasceu nós reatamos e até aí foi tudo bem tranquilo.
Apesar de engravidar cedo minha vida estava ótima, Ruan me ajudava em tudo e recebia muito bem do meu pai. Digamos que era uma vida feliz e realmente era apesar das traições. Eu fiz um supletivo quando o Guto completou dois anos e um mês depois iniciei a faculdade de enfermagem e conclui com muitas dificuldades à alguns meses.
Eu sempre soube que ele me traía, sempre soube dos casos dele na rua mas eu nunca me importei. Era comigo que ele dormia todos os dias, era à mim que ele falava o 'eu te amo' e era comigo que ele tinha uma família. Pelo menos era o que eu achava, era o amor que foi ensinado pra mim.
A minha mãe teve uma vida parecida com a minha, engravidou com 15 do meu pai e teve meus dois irmãos, Eduardo e Daniel. Era um relacionamento bastante conturbado, agressões e chifres e hoje só não é assim porquê ele tá morto mas isso é um assunto pra depois. Então foi esse exemplo de relacionamento que eu tive e achava que era normal, menos as agressões, até porque até um tempo atrás o Ruan nunca tinha levantado um dedo sequer pra mim. O meu pai falava com ele na base da ameaça então ele nunca tinha ousado me tocar, maior hipocrisia né?
Ana sempre me ensinou que amar era perdoar, que os homens tinham suas necessidades então eu sempre achei isso tudo normal. Sempre achei que ciúmes possessivos eram sinal de amor, pra mim era algo lindo.
Quando o meu pai foi preso pela terceira vez uma semana depois houve uma chacina dentro do presídio e ele morreu, o corpo dele foi carbonizado e nós só descobrimos que era ele por conta do exame de DNA. A facção deu o comando do morro pro Ruan já que ele era o mais capacitado para isso e foi aí que minha vida mudou.
Tá ligado aquela frase "Dê poder ao homem e descubra quem ele é de verdade"? É essa que define a minha realidade, foi aí que começou o meu inferno.
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Neurótico de Guerra - PAUSADA
Teen Fiction📍Morro do Alemão, RJ. 𝘚𝘦𝘶 𝘳𝘦𝘴𝘱𝘦𝘪𝘵𝘰 𝘫á 𝘯ã𝘰 𝘣𝘢𝘴𝘵𝘢 𝘴ó 𝘴𝘦𝘶 𝘮𝘦𝘥𝘰 𝘣𝘢𝘴𝘵𝘢𝘳á[...]𝘚𝘰𝘶 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘶𝘮 𝘯𝘦𝘶𝘳ó𝘵𝘪𝘤𝘰 𝘥𝘦 𝘨𝘶𝘦𝘳𝘳𝘢.