Foi numa noite qualquer de verão, onde o céu estava limpo, com estrelas tão brilhantes quanto diamantes valiosos, que Johnny olhava pela janela de seu quarto — o quarto mais alto, da torre mais alta — o vasto mundo lá fora. No começo, ele admirava as estrelas, mas depois, seu olhar desceu para as luzes mais embaixo, as luzes da cidade, que às vezes parecem ofuscar os astros mais luminosos do céu. Ele a olhava com encanto, mas também com saudade; saudade de algo que nunca pode ver, se não tão de longe, do alto de seu quarto. Pelo menos, tinha uma pequena vantagem de estar num castelo tão alto quanto aquele: tinha uma vista privilegiada de todo seu reino e, mesmo que de longe, podia ver as casas acesas àquela hora, os comerciantes ainda pelas ruas, mesmo que já fosse escuro, as ruas iluminadas pelas lanternas penduradas, as crianças correndo e brincando animadas pelas ruas de pedra. Era tudo tão lindo e Johnny apenas se contentava com a visão do seu reino tão alegre.
A noite estava quente, como sempre era naquela época do ano pelas terras de Erista, mas uma brisa fresca ainda passava por ali, e talvez isso explicasse porque tantas crianças e adultos se encontrava pelas ruas da cidade, provavelmente à procura de se refrescarem daquele calor quase insuportável, mesmo tarde da noite. Não as julgava, pois, se pudesse, ele também estaria correndo pelos espaços estreitos entre as casas e na rua principal, onde grande parte do comércio funcionava. E pensando em como também gostaria de se refrescar, deixou a porta de sua varanda aberta, a fim de que o vento fresco circulasse e que ele pudesse dormir com tranquilidade. Decisão essa meio impensada, já que estava tudo tranquilo até o momento em que falava com seu gatinho de estimação, antes de ir dormir:
— Eu sei, Minhyung, eu não posso sair assim sem mais nem menos... — O bichinho pequeno se encontrava em cima e sua cama e o olhava curioso, como se realmente entendesse as frases do humano (Johnny acreditava fielmente que Minhyung podia, sim, o entender), enquanto o mesmo andava de um lado para o ouro ao redor da cama. — Mas cada dia que eu olho lá pra baixo e vejo tudo tão... lindo e cheio de vida, é como se eu não conseguisse me segurar. Meu maior desejo é poder conhecer meu reino, pelo menos uma única vez.
Seria engraçado, se não fosse tão trágico. Johnny era o primeiro (e único) príncipe herdeiro daquele reino que sequer tinha visto algo além dos portões do castelo. Nem mesmo o jardim real, que ficava logo à frente, não tinha permissão para visitar. Seu contato se limitava a seus pais, o Rei e a Rainha Suh, seu gatinho Minhyung, e alguns empregados de extrema confiança do Rei. O motivo? Na verdade, nem Johnny sabia. Como governantes, os Reis de Erista eram amorosos, zelosos pelo seu povo, compreensíveis e muito empáticos, eram, de fato, Reis incríveis. Mas como pais... Johnny nunca poderia reclamar, pois seus pais o amavam mais do que tudo e ele sabia disso, era tratado com gentileza, carinho, amor e ternura, mas como pais preocupados com seu primogênito, o príncipe da Coroa de Erista, eles eram severos, protetores até demais e com regras que quase o deixavam sufocado. Johnny não os culpava, mas também não os entendia.
O único da Família Real que nunca tinha posto seus pés para fora do castelo, o único que nunca conheceu seu próprio reino, não conheceu outras pessoas, não fez amigos, nunca viu ou tocou muitas coisas. Estava acostumado, mas não satisfeito. Não entendia aquela superproteção de seus pais, que não o deixavam passear pelo reino, nem mesmo por meia hora. Não questionava muito, pois não sabia o que era pior, enfrentar seus pais com a ordem de não sair, ou seus Rei e Rainha com o decreto de que o príncipe não deveria deixar o castelo de forma alguma.
Às vezes se sentia como os personagens de histórias que alguns dos empregados do castelo lhe contavam para dormir, quando era pequeno, sempre sobre princesas presas em torres e castelos, sem conhecer o seu povo. Ele não sabia se elas existiam, mas não deixava de pensar que, na verdade, aquilo era apenas uma alusão a ele mesmo.
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Jogue seus cabelos, Rapunzel
FanficO príncipe de Erista tinha uma lista extensa de regras para seguir. A primeira, e mais importante delas, era não sair do castelo nunca, sendo o primeiro de uma Família Real que sequer sabia como era o cheiro das flores ou como era ter amigos, por es...