Pedi para ir ao banheiro. No espelho, me olho e não me reconheço. Pálida, uma rosto cansado que nem se parecia com a garota cheia de vida que um dia fui. Se o intuito era me destruir, conseguiram. Não sinto mais forças para lutar. Também ganhei mais peso nos últimos anos. Nunca fui magra, mas agora estou ainda maior. Minha autoestima está ferida, embora não tanto quanto minha alma. Alguém abre a porta do banheiro, e me chama. Estava na hora de ir. Estava na minha hora. Me lembro de um verso de uma música que ouvi outro dia: "Toda pureza morreu. Quando foi que você cresceu?"
Caminhei pelos corredores, até que a enorme porta se abriu à minha esquerda. Me indicaram que era ali. Quando entrei naquele lugar, senti que os olhares de todos se cravavam em mim. Olhares que julgam, olhares que condenam. Não digo que eu não mereça... eu mereço. Eu sei que sim, não vou fingir. Nunca gostei de mentiras, não vou começar a gostar agora. Mas também sei que minha pele preta ajuda a tornar estes olhares ainda mais firmes. A carne branca é mais facilmente digerida. A pele branca é mais facilmente perdoável. É assim que as coisas são.
- Ok, eu vou contar tudo... É difícil... É difícil pra mim, vocês devem imaginar... relembrar tudo o que se passou comigo ao longo destes anos... mas eu vou dar a minha versão dos fatos e, talvez, quem sabe, vocês não me julguem uma mulher tão má. Tudo começou pouco mais de 5 anos atrás, no meu aniversário de 20 anos...
* O título deste capítulo vem de uma música da banda Tuyo
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Toda pureza morreu
RomanceA discreta Catarina acaba de terminar seu noivado, e vive dias de fossa sem fim. Sua melhor amiga Mica é quem se encarrega de tentar reergue-la. Mas as coisas começam a mudar pra valer quando surge Muriel, uma jovem descolada e esperta, que vai most...