Parabéns pra você

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Mica resolveu passar em meu apartamento no dia seguinte, para que fôssemos comemorar meu aniversário. Ela estava bem mais animada do que a própria aniversariante, na verdade. E ainda me trouxe um presente, daqueles que apenas Micaela Yoshida seria capaz de dar no aniversário de uma amiga.

- Um vibrador? - perguntei, incrédula.

- Com 10 velocidades. E...

- ... controle remoto, eu sei. Você contou.

Não me vi no espelho mas, com toda a certeza, estava corada. Mica tinha esse dom. E eu amava. Ela me divertia com esse jeito doidinho.

- Acredite, é melhor que qualquer cara.

- Às vezes, eu tenho inveja de você.

- Porque eu sou sua amiga mais alegre, divertida, que te joga pra cima...

- Não... porque você é lésbica. Não tem que lidar com boy lixo.

- Com boy lixo não tenho que lidar. Só com gente escrota, homofóbica.

- O que você sempre tirou de letra. Os homofóbicos é que deveriam ter medo de você.

- Eu tento. Mas você não precisa ser lésbica para não ter que lidar com boy lixo, amiga.

- Existe algum boy não lixo? Me apresente.

- Os não lixo que eu conheço são todos gays. Acho que não iria rolar muita coisa.

- Obrigada pelo presente. Só não prometo usar.

- Use e abuse. E depois me conte os detalhes tórridos.

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Mica adorava dançar, e resolveu me levar pra uma boate. Ela me contou que o lugar passou um tempo fechado, ela não sabia o motivo, e que havia sido reaberto há algumas semanas. E, pelo tamanho da fila do lado de fora, realmente estava bombando. A gente nunca iria conseguir entrar.

- Claro que vamos. Cola em mim, disse Mica, segura de si, me puxando pela mão até a entrada, onde dois seguranças, um grandão, muito alto e muito forte, e uma moça com cara de brava, tentavam controlar a multidão.

Foi justamente a ela que Mica se dirigiu, enquanto as pessoas na fila proferiam dezenas de elogios a nós duas.

- E ai, Fabi... Tem como liberar pra mim e pra minha amiga?

Por alguns segundos a segurança desmanchou o rosto carrancudo, ao se deparar com aquela garota de cabelo rosa. Logo, ela tentou retomar a postura séria.

- Ô, minha minha musa. Ai você me quebra. Olha o tamanho da fila.

Então Mica se aproximou da tal Fabi, passando a lhe falar perto do ouvido.

- Me ajuda nessa, vai... aniversário da minha amiga...ela tá deprê por causa de um boy escroto.

- Amiga, é? - Fabi me olhou de cima abaixo, medindo cada um dos meus 162 centímetros.

- Olha a cara de hétero dela.

Então a carrancuda afastou a faixa de acesso e fez sinal para que passássemos rápido. Mais elogios vieram da plateia. Foi então que ela segurou Mica levemente pelo braço, e sussurrou algo em seu ouvido.

- Quando você vai dar uma volta no meu carro de novo, hein? Saudade de você naquele banco de trás.

- Manda mensagem e a gente combina. Também tô com saudade daquele banco.

Toda pureza morreuOnde histórias criam vida. Descubra agora