A VIDA É ESCULTURA DE MUITAS MÃOS

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Nascida em 8 de dezembro de 1864, em Fère-en-Tardenois, França, amante das pedras e das formas, traços finos de Pierre-Auguste Renoir, a escultora Camille Claudel, em 1876, então com 12 anos, tem seu primeiro professor, o escultor Alfred Boucher, na sua "lieu de naissance" de seus  primeiros anos da sua povoada infância.

Ao se mudar em 1881, sem o amor do pai, para Paris,  3 anos depois, se viu nas graças de Auguste Rodin, casado, porém infeliz, também escultor, quando se matriculou na Escola de Belas Artes  Academie Collarossi, nos arredores da Cidade Luz, conhecendo seu mestre de escultura e artíficie de sua vida de infortúnios, dali em diante a sua pesada Cruz, isso até  a sepultura.

Mesmo tendo encontrado mais tarde o amor no cantor Claude Debussy, não teve uma vida projetada com final  feliz no gentil ateliê,  como foram suas maravilhosas criações, seu traço e seu acabamento de refinado ardor pela forma, cor, talhe de matizes e notáveis variações do seu saber. Camille dispensou o amor de Claude, devido  à  sua ferida no coração pelo amor sem devoção do senhor Pardonê .

O machismo da época roubou o brilho e sua relação com o mestre Rodin, a escondendo para quase todo sempre, na pernumbra da ignorância seu vigor artístico aromáticoe sua vibrante cor de romã, brilhando somente agora, século depois de sua vida acabada num hospital psiquiátrico próximo  ao Circuito Spa-Francorchamps.

Artista esmagada pela sociedade de seu tempo, deixou a sua marca na história da arte. Legado imbatível  da maior escultora francesa, mas sacrifício do tamanho da mártir  Santa Joana Darc, a Padroeira da terra do filósofo René Descartes.

À custa de imenso sacrifício da própria vida, teve futuro infeliz e incerto, mas não para sua arte, bálsamo para sua existência já  combalida, não como prejuízo do ofício, mas como resultado da tragédia amorosa, por escolha das mais atrevidas, deixando o coração do poeta pela inteligência do escultor das formas precisas.

A trajetória de Camille afigura-se ao mundo como ecrã moldada na pedra,  em escultura, marca maior de sua arte bela, e sua vida pessoal fragilizada, ante a falta da reciprocidade, em todos os sentidos,  ao seu grande amor, representado pelo escultor Auguste Rodin, seu doce Narciso.

O professor amante, como tantos outros, ao fim da paixão, dividido entre o amor e a devoção, se torna distante e egoísta, terrível decepção, frustração, acabando,  para ela em profunda e incurável doença da tristeza, a psicobiológica depressão.

Casado há 20 anos com Rosa Beuret e tendo a aluna como amante, o gênio da escultura destrói o coração da discípula, até então confiante vedete. No desamor seu equilíbrio simplesmente derrete, numa dor imensa, incompreendida pelo amante que se queda inerte.

A vida de Camille não foi fácil a partir daí, rompendo com a família, além do amor mais verdadeiro, que é  o amor de si para si, abandonando a Cidade Luz, perdendo ainda o único filho que teve do amante Rodin.

A mulher de Auguste,  Rosa, com quem era casado, também não deu filhos ao gênio escultor, piorando em Camille remorso e dor, por ter-lhe tirado também esse direito da esposa dileta, apenas pensando a seu próprio favor, roubando o tempo do ilustre professor.

Depois dessa severa constatação de impotência e culpa, sua melancolia e sua imunodepressão piorou de forma rápida  e trágica,  sendo internada à força numa clínica de reclusão, fora da cidade, como se arremessada de uma catapulta sobre o muro da arte e da consolação.

A providência  forçada veio de quem mais amava na família que lhe restava, seu irmão mais novo, Paul Claudel, também escultor, recebendo um  laudo bastante curioso do médico, seu doutor, diagnóstico demência e séria confusão.

Ao contrário do herói dos rebanhos, Heladio Elmo de Deus, Camille não era a mais amada quando criança dentre uma prole de fazendeiros e fidalgos,  nascidos nas terras mais abastadas da França do General de Gaulle.

Seu pai, Louis Prosper, negociava hipotecas e transações bancárias.  Era rico, alegre e proeminente na área imobiliária e de títulos honrosos da família milionária de Ferret-Lissi.

Sua mãe, Dona Louise Athanaise Cecile Cerveaux, Athanaïse, vinha de família de agricultores católicos e sacerdotes de Champagne, norte da França, tendo muitas terras como herança.

A família foi morar em Villeneuve-sur-Fère, num lar de campo, romântico, rancho de repouso de seus pais, lugar lindo de se viver,  enquanto Camille ainda era criança.

Camille, que era sozinha, amada pelo pai Prospêr,  tinha dois irmãos, Louise, a preferida de sua mãe, e Paul, o irmão caçula, que mais tarde se tornou o famoso poeta, dramaturgo e também embaixador.

Posteriormente, sua família mudou-se para Bar-le-Duc (1870), Nogent-sur-Seine (1876) e Wassy-sur-Blaise (1879), embora continuassem passar verões em Villeneuve-sur-Fère. A paisagem gritante daquela região causou profunda impressão nas crianças dos Prospêr Claudel.

Fascinadas com as cores daquelas terras de lavanda e cheiro  de esperança, seus irmãos tornaram-se meditadores e apreciadores das artes das letras e amantes das danças ou das peças de esculturas.

Mas foi nas pedras que a menina mais velha, Claudel achou sua bem-aventurança. Mudou-se então para a capital  francesa visando a aprender a arte de transformar aquelas pedras em outras belezas.

Ao chegar a Paris, a capital magnífica, Camille, fascinada por pedras e rochas, demonstrando talento em modelagem de argila desde cedo, manifestou a monsieur Louis seu maior desejo.

Seu pai então procurou dar a ela uma oportunidade de estudar arte e a enviou para estudar na Academie Collarossi , uma das poucas academias de arte  aberta para mulheres, a única então deste porte.

Camille se mudou novamente, com sua mãe, irmão e irmã para Montparnasse, subúrbio de Paris,  no ano de 1881. Seu pai ficou  trabalhando para apoiá-los financeiramente. Pedras para aquele monte não precisava levar, o que mais tinha era pedra e boa argila para modelar.

Esculpiu sua vida ao lado de um ídolo, que ruiu ao primeiro embate, ficou sozinha até encontrar seu resgate no cantor Claude-Achille Debussy, no meio de um terrível desgaste.

Mas, com a saúde mental debilitada, a própria Camille Claudel, ao achar que já era tarde, acabou por se considerar apenas feita para a arte, como o barro branco que havia em Bar-Le-Duc Charter.

No ateliê , já  no final de sua vida,  era vista em sua modesta casinha, abandonada em meio a muita lenha de ciprestes, rasgadas as vestes ou apenas de camisola, cabelos desgrenhados, ardendo em delírios por alta febre, a gritar com a voz demente:
— Rodin, seu Cafajeste.

Faleceu numa obscuridade surpreendente, mas sua obra ganhou reconhecimento, evidente,  por sua originalidade, pelo talhe e o toque pungente.

A vida da artista renomada foi talhada  a ferro quente, vindo a sucumbir sem nunca ter sido amada ao nível da sua sensibilidade que tinha guardada.

Ao tocar peças esculpidas por Camille,  no museu de Paris, o apreciador sensitivo sente alegria por ter em mãos a mais bela poesia em doação de uma vida à arte sem ter tido justa retribuição.

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