O Começo da Vingança

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CAPÍTULO SEM REVISÃO, PERDÃO PELOS ERRINHOS <3 


"Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro."

Apesar de Você, Chico Buarque

João Patacho

O suor pinga causando ardência nos meus olhos. Meus músculos tremulam, um lamurio de pura dor foge do fundo da minha garganta, vou até o meu limite e quando o alcanço, tenho o insano prazer de ultrapassá-lo, não me permito fracassar, levanto novamente o peso e solto um gemido profundo. Dor.

— Ei, João! Está ótimo por hoje, cara. — Ouço o grito do meu personal, ele está se aproximando, ouço cada um de seus passos enquanto seguro a barra.

Sempre que tenho pesadelos sobre o meu passado eu saio de órbita, com o tempo, aprendi a deixar ir, e então só tenho duas opções: ou me afogo em trabalho, ou na academia.

— João, já chega!

Álvaro tira a barra com cem quilos de cada lado de cima de mim, respiro com dificuldade me levantando do banco, o meu corpo fervilhando, meu pulso acelerado, minhas pernas vibram, perco o controle do meu corpo, mas tenho uma certeza: preciso de mais.

Ainda está muito vívido o rosto da minha mãe sem vida, o sangue jorrando, se eu fechar os olhos consigo sentir o cheiro de carne apodrecida quando encontramos o corpo do meu pai, os olhos arregalados, eu preciso deixar ir. O terror psicológico que os policiais me fizeram, eu preciso deixar ir.

— Qual o próximo? — Pergunto com a voz esganiçada, mal consigo controlar a tremedeira nas mãos, o meu corpo inteiro me pede para parar.

— Por hoje é só.

— Preciso de mais, Álvaro.

— Não, por hoje é só. — O rosto taciturno me encara, o vinco na testa deixando claro a sua censura.

— Porra! — Vou até o saco de box e disparo alguns socos.

— João, você treinou por três horas hoje, essa semana inteira você tem ficado por mais de duas horas aqui, vai acabar tendo alguma lesão, vá para casa, descanse.

— Eu te pago bem pela hora. — Cuspo as palavras tentando controlar a minha respiração ofegante e vejo o seu rosto se transformar diante de mim, as sobrancelhas sobressaltadas, os olhos apertados, a mandíbula tensa e então o dedo em riste aponta para a minha cara.

— Paga muito bem sim! Mas não o suficiente para acabar com toda a minha carreira, vá para casa ou então eu vou te jogar para fora da academia sem tomar nenhum cuidado com a sua cara de modelo. — Esbraveja e decido recuar.

O meu personal é um ex lutador de MMA, o homem é um conjunto de músculos e uma cara assustadora com cicatrizes, o seu percentual de gordura é quase inexistente, o histórico de vitórias extenso e além de ser um bom amigo, não vou entrar em seu radar, devemos saber em qual luta podemos entrar e principalmente quando devemos recuar de um embate.

Paro os socos e estabilizo o saco de pancadas, colo minhas mãos nos joelhos e respiro fundo, desritmado, o corpo inteiro molhado, meus cabelos encharcados de suor, a camiseta grudada em meu abdômen.

— Está bem. — Ergo as mãos em rendição e ele me dá as costas como resposta.

Irritado, pego a minha garrafa preta de dois litros e despejo no rosto a água fresca.

Meus passos largos até o armário são firmes no piso de borracha antiderrapante, dou uma olhada ao redor reparando na decoração em tons pretos sendo quebrada pelo roxo dos armários de aço, abro o cadeado e retiro a minha mala que sempre carrego comigo.

Presa ao CEO (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora