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Acredito que, como todas as pessoas, já imaginei muitas formas de morrer; desde as mais tranquilas, até as mais cruéis

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Acredito que, como todas as pessoas, já imaginei muitas formas de morrer; desde as mais tranquilas, até as mais cruéis. Há alguns anos cheguei a pensar que morreria quando levei um tiro no peito. Mas, aqui estou eu, provando que vaso ruim não quebra.

De alguma forma, me convenci que, se uma bala não me matou, eu vou ter a sorte de ser daquelas pessoas que têm a morte pacífica, enquanto dorme, na velhice, depois de ter infernizado a vida dos meus netos e bisnetos o suficiente para eles sentirem demais a minha falta. Ou o oposto disso.

Infelizmente, essa convicção vai embora toda vez que entro num avião. A cada voo, tenho a sensação de que nós vamos cair e eu vou morrer sem ter tido a oportunidade de me despedir da minha filha.

Pensar que o aniversário dela é na próxima semana e eu não vou estar lá para parabenizá-la pessoalmente, para diferir dos últimos três anos. Um grandessíssimo filho da puta, tenho consciência disso, e por isso estou me mudando para Los Angeles. Para ser o pai que Tallulah precisa e merece.

— Já chegamos, cara. Pode respirar.

Abro minimamente os olhos ao ouvir a voz de Harvey, relaxando o aperto nos encostos da poltrona. Para variar, ele parece estar se divertindo bastante do meu desconforto. Como se não bastasse, o imbecil conseguiu me convencer a beber antes e durante o voo, alegando que isso iria me tranquilizar.

Não tranquilizou, obviamente. Ao contrário, só me ajudou a ficar enjoado e precisar fazer um esforço descomunal para não passar mal. Não sei quem foi mais idiota: ele, por ter me dado uma ideia tão estúpida ou eu, por ter aceitado essa ideia tão estúpida.

Só consigo respirar tranquilamente quando estamos em terra firme, com as bagagens em mãos, bem longe dessa coisa que poderia nos matar. Não é que eu sinta medo de aviões, mas, francamente, não dá para ficar confortável em uma coisa que pesa toneladas e simplesmente consegue voar por aí como se não fosse nada demais.

Esse é um desconforto que tenho desde que entrei num avião pela primeira vez, aos quinze anos. Ao menos, hoje eu já não choro. É uma pequena vitória.

A risada de Harv chama a minha atenção e olho para ele, que está muito entretido com o conteúdo que está vendo em seu celular. Em outro momento, eu pensaria que está rindo de alguma besteira que sua esposa lhe mandou, mas eu o conheço.

— Se você tiver filmado, acabo com você. — jogando a última mala no carrinho, estreito os olhos em sua direção.

— Você acha que eu seria capaz de fazer isso? — pergunta com falsa ofensa enquanto fazemos o nosso caminho para fora do aeroporto. Me limito a encará-lo, porque a resposta é óbvia. — Certo, eu fiz isso algumas vezes nos últimos anos, mas esse não foi o caso. A Lily está com insolação. Ela mandou a mensagem assim que o avião decolou, então só estou vendo ver agora.

Diminuindo o passo, Harv me mostra uma foto de Lily. Só é possível ver a parte de cima do seu corpo, que está muito, muito vermelho. Ela está fazendo uma careta de dor e não consigo conter a risada. Sendo amigo dela há quase dez anos, posso me orgulhar do fato de ter visto Lily em seus piores momentos.

Novamente, nós (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora