Prólogo: "O dia em que nada foi perfeito, mas aconteceu."

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As ruas de Conner Hall eram perigosas, mas na visão do garoto de sardas, aquele lugar seria sempre a sua única casa, não tinha outro lugar onde poderia ficar, ali era sua casa.

Em uma pequena casinha humilde, lá estava ele, sentado na pequena cama com alguns cadernos em mãos e uma única caneta. Era um pequeno passa-tempo que tinha para dias tediosos como esse. Tinha o costume de ir na biblioteca mais próxima para estudar sobre famosos, ciência, matemática. Tudo sozinho, e anotava cada assunto em específico em um caderno especial. Para ele, era mais do que divertido.

A chuva caía do lado de fora de uma forma grotesca, fazendo um barulho até que gostoso para dormir. Claro que estava frio, mas para o rapaz de cabelos verdes, aquilo era mais do que confortável para se deitar e dormir tranquilo.

Enquanto se focava em terminar de ler um dos livros que tinha pegado recentemente na biblioteca do centro da cidade, anotando tudo oque aprendia e achava importante no caderno, a caneta de repente parou de soltar tinta. Talvez já tinha dado a cota.

Preciso comprar uma nova... — Pensou enquanto fechava o livro, dando mais uma olhada na caneta e depois a pequena escrivaninha do lado da cama. Guardou os cadernos dentro da gaveta, e logo pegou alguns trocados de outro dia, que tinha guardado para uma situação como essa.

Sorriu enquanto colocava a blusa de cor azul escura, saindo de casa em busca da loja mais perto, e que podia estar aberta a aquela hora.

O rapaz estava mais do que ciente de que aquelas ruas eram perigosas depois de um certo horário, mas tinha que entregar o livro na tarde seguinte, e não tinha muito tempo nos dias de semana para estudar, tinha trabalho e obrigações em casa, oque era chato, por que nessas épocas de chuva, as goteiras vinham, e vinham bem fortes.

Apesar dos problemas, ele não baixava a cabeça, na verdade se erguia mais uma vez e tentava enfrentar tudo sozinho. Desde que sua mãe morreu, manteu a promessa de nunca perecer aos seus problemas. Era a única coisa que devia fazer, até a situação melhorar.

Chegando em uma pequena lojinha ali perto, tirou os trocados do bolso e entregou a mulher que entregou a caneta e outras coisinhas que tinha pedido. Se despediu da moça e saiu da loja com uma sacola pequena de plástico.

A chuva parecia estar ficando mais forte a cada momento, e com um pouco de preocupação pela sua roupa, agora molhada. O garoto de cabelos bagunçados começou a andar com mais pressa, agora seu único trabalho seria chegar em casa são e salvo e terminar de anotar oque precisava estudar no próximo final de semana.

Chegando a um beco meio assustador, o garoto de olhos verdes não se preocupou em passar normalmente por ali sem se importar com os olhares em si.

Não era a primeira vez que isso acontecia, ele morou a vida toda ali. Conhecia muito bem as pessoas daquele lugar, e podia dizer que estavam a um bom tempo com os olhos em si, talvez por ser jovem demais pra morar sozinho?

Quase perto de casa, o garoto ouviu alguns cochichos atrás de si, e logo uma mão segurando seus ombros, seu corpo pareceu gelar na hora, não gostou muito daquele contato repentino.

– Hey, Midoriya, não é? — Um homem de cabelos longos o perguntou, chegando mais perto. — Você não é muito novo pra estar nesse tipo de beco não? Se está perdido, eu posso te levar pra casa. — Ofereceu de forma questionável, o rapaz de blusa azul apenas negou com a cabeça.

– Não, obrigado... Já estou perto de casa, será que você podia me deixar ir agora? — Perguntou meio desconfiado das ações do mais velho, que se aproximava cada vez mais.

– Eu te ofereci ajuda, seria mal educado recusar. — prensou o garoto Midoriya contra a parede, que se manteu firme para não deixar suas pernas fraquejarem. — Vamos, eu não vou te fazer mal...

Não é oque parece.. — Deixou sem querer escapar, tampando a boca com as duas mãos, antes de sentir sua cabeça bater com força contra a parede fria e úmida.

– Oque foi isso?! Seu merdinha! — Levantou uma das mãos, deixando o mais novo pronto para um ataque, mas sua mão foi pega com força, por um homem que não conhecia e nunca tinha visto por aqueles cantos da cidade.

– Não te ensinaram que bater em crianças é crime? — Disse o homem de máscara, apertando com força o pulso do outro.

– Não me diz oque fazer! E me solta!

– Acho que você quem não devia me dizer oque fazer. — O olhar do outro homem ficou ainda mais aterrorizante, fazendo até o esverdeado fraquejar um pouco. — Não me leve a mal, eu odeio receber ordens. Mas se eu quiser eu posso soltar sua mão podre, depois de arrancar ela fora com as minhas próprias mãos. Oque você acha?

Em segundos de silêncio perturbador, o mais velho assente, relutante.

— Okay! Eu vou deixar o garoto em paz! Agora me solta!

O garoto Izuku encarou as orbes aparentemente vermelhas do mascarado, como se dissesse para deixá-lo ir. Odiava violência, até mesmo em situações mais graves.

– Tanto faz, mas se eu tiver lidar com gente como você denovo, prometo que não vai ser só sua mão que eu vou arrancar fora. — Colocou um tom agressivo na voz, vendo o velho ir embora.

Assim que os passos se distanciaram mais, os olhos se encontraram, momentos de silêncio desesperador se fizeram presente. E o mínimo que o sardento podia fazer agora, era agradecer.

– Obrigado por... Me defender. Eu não iria sair dessa se você não tivesse aparecido. — Sorriu minimamente, antes de abaixar um pouco o olhar.

– Não agradece, isso é o básico que qualquer ser humano tem que fazer, mas pelo visto ninguém aqui tem sentimentos e muito menos uma vida pra cuidar. — Tornou a cabeça para o lado onde tinha alguns olhares no duo, logo sendo focando em qualquer outra coisa além deles. — Você sabe o quão perigoso é esse lado da cidade, não é? — Izuku assentiu.

– Sim... Mas eu não posso evitar, aqui é o único lugar que eu tenho pra ficar. — Respondeu com um pequeno sorriso amostrando os dentes brancos. O outro apenas revirou os olhos.

– Pessoas como você não duram muito, você é ingênuo demais. — Foi a última coisa que o homem de olhos vermelhos disse antes de sair andando para a direção oposta de Izuku.

Ele estava certo, o garoto era santo demais, e aquilo era algo inaceitável na parte podre da cidade. A parte perigosa, onde as coisas funcionavam de outro jeito. Ele sabia que uma hora ou outra, deveria mudar.

Mas por enquanto, o que devia fazer tá ser grato por ter conseguido sobreviver mais um dia naquele lugar. Era a única coisa que podia fazer no momento.

𝐂𝐎𝐌𝐌𝐈𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍 - ᵇᵃᵏᵘᵈᵉᵏᵘOnde histórias criam vida. Descubra agora