Capítulo 3

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Havia se passado um mês desde então, e a situação não poderia estar pior. Marinette tentava sutilmente afastar-se de Adrien, e até mesmo deixou de comparecer ao mais recente concerto do jovem astro.

Alya informou que ele não tocara a música nova, embora não soubesse exatamente o motivo. Teria ele também desistido de sua paixão ou apenas evitado maior constrangimento? De todo modo, a mensagem já havia sido transmitida e Adrien conseguira, afinal, confessar seu amor por Ladybug.

E este era exatamente o problema. Um deles, pelo menos.

Os heróis se encontravam normalmente ao longo dos últimos dias conforme a rotina, mas a mulher estava visivelmente mais distante. Cat Noir, por outro lado, tentou se mostrar o mais casual possível, e isto significava envolver piadas de gato ou outras facetas de seu típico bom humor. Acontece que Ladybug não estava receptiva.

— Algum problema, Bugaboo? Você está meio ausente... — ele confirmou as contas em sua cabeça, embora já soubesse a resposta de cor. — Já tem um mês.

— O quê?! — Ela se virou bruscamente e quase caiu do telhado íngreme por onde ambos caminhavam.

— Já tem um mês que você está meio distante — ele repetiu.

— Ah, não é nada, gatinho. Relaxa. — Ladybug ofereceu um sorriso que não alcançou seus olhos.

Ainda era dia, mas o final da tarde caminhava para o poente. Cat Noir suspirou.

— Você sabe que pode confiar em mim, não sabe? — jogou como quem não quer nada. Mas ele queria. E muito. Mas insistir não era de seu feitio.

— Sei. — Ela lhe dirigiu um último olhar antes de se lançar para o telhado próximo. Por sorte, aquele era plano.

Em vez de seguir adiante, ela parou.

— É que... — ela começou a dizer.

Cat Noir recolheu o bastão, diminuindo o comprimento até o limite e depois o guardou nas costas. Então se aproximou da parceira de luta e ergueu um dos braços até pousar delicadamente a mão no ombro dela em sinal de conforto.

— Diga — pronunciou suavemente.

Ela passou a língua nos lábios para umedecê-los, claramente ansiosa, a postergar a inevitável conversa.

— É só o meu coração bobo. E eu não posso dar atenção pra ele agora. Não deveria. Eu sou a heroína de Paris.

Cat Noir retirou a mão do ombro dela enquanto refletia, sem deixar de lhe oferecer um olhar carinhoso.

— Está apaixonada e não é correspondida? — tentou.

— Pior. Sou correspondida.

— Não entendo como isso pode ser algo ruim — comentou com charme; era difícil mostrar-se indiferente quando tiveram tanta intimidade somente um mês atrás.

O pânico começou a se apresentar no peito do herói; poderia ela ter se arrependido da noite de amor entre eles? Ou ela estava falando de outra pessoa e mentiu quando confessou estar apaixonada por Adrien? Seu coração se apertou até doer e a sensação de suor frio percorreu a pele.

— Nossa vida é muito complicada, gatinho.

Ela virou o rosto para fitar o horizonte, pensativa e saudosista. Sorriu.

— Para Ladybug e Cat Noir, sim — ele disse. — Para nossas identidades civis, nem tanto. Somos dois jovens com problemas comuns como qualquer outro, que sofrem da mesma forma.

Ela hesitou por um momento, então decidiu seguir. Era bom desabafar com alguém, afinal. Não teve coragem de contar pra Alya que dormira com Adrien Agreste... como Ladybug.

Je t'aime - Uma canção de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora