Três meses depois

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Metade do semestre. Estamos numa mesa no refeitório vazio. Apesar de saber o seu nome, conversarmos constantemente e de ele se sentar ao meu lado todos os dias, Klaus não se tornou menos misterioso para mim. Muito pelo contrário. 

Toda vez que ele sorri sozinho, aquele sorriso bonito e meio sonhador, perguntome qual é o motivo, e secretamente desejo que seja eu. O seu sorriso não o deixa mais alcançável. De uma forma inacreditável, ele fica ainda mais inatingível, mais alvo da minha curiosidade. 

Quando ele se vira para mim, perguntando algo, seus olhos passeiam por minha boca e sobem devagar até meus olhos, fixando-se ali. Então ele sorri e eu esqueço completamente o que ele me perguntou. Baixo a cabeça, fingindo procurar algo, mas na verdade ganhando tempo para meu coração assentar no peito. Aí respondo. 

Eu não posso ceder a este encanto. Não posso me apaixonar de novo. Não posso. 

Klaus sorri novamente, revelando uma covinha sutil na sua bochecha direita. 

– Você tem medo de mim? – Klaus murmura, aproximando sua cadeira da minha. Sua voz é aveludada, misteriosa e me faz entrar em êxtase. Por um momento, deliro, imaginando-o sussurrar coisas em meu ouvido. Fico vermelha e abaixo a cabeça. – Entendo – completo, acenando levemente com a cabeça. 

Não, você não entende, eu quero lhe dizer. Mas fico calada. 

– Você... é diferente – diz. – Não sei explicar. Desde a primeira vez que nos vimos... – Klaus se cala e procura meus olhos. Essa conexão é tão forte que parece que ele está me tocando. – Desde a primeira vez. Sinto... isso. 

Ele estende a mão, como se fosse me tocar, tocar meu rosto, mas desiste. Pegome desejando aquele toque, que ele me pegue e me puxe para si. Então, dou-me um tapa mentalmente. 

– Quero... – Klaus começa a dizer, mas se interrompe. – Desculpe. Vou lhe dar um tempo. Não quero que tenha medo de mim. 

– Não é... – finalmente falo. Na verdade, procuro uma desculpa, qualquer uma, para ele não saber da verdade. – Isso está errado... Mundos opostos. Eu não... 

– Não gosta de mim porque sou popular? – Ele não espera que eu responda. – Não é todo dia que me sinto desse jeito, Lina. Estou confuso. E sinto que só você pode me ajudar. 

– Klaus, por favor... – tento falar. 

– Não. Tudo bem. Não vou falar mais nisso. Vamos voltar aos cálculos. 

Ele abaixa a cabeça e franze a testa, enquanto resolve um difícil problema. Olhoo e me pergunto o que há de errado comigo.

Um Amor ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora