Como assim você...

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George Weasley

Há um fato sobre mim que odeio desde de minha adolescência. Algo que arrasto desde que me entendo por gente, mas que ficou ainda mais estarrecedor assim que completei 13 anos e fui convencido - por meu irmão Fred - a ir em uma festinha de começo de ano na sétima série.

Naquele dia específico lembro de estagnar na frente da casa dela, a garota que eu gostava desde o ano anterior, suando frio por debaixo da camiseta verde que mamãe insistia em dizer que combinava com nossos olhos; lembro da sensação inquietante de que ocorreria uma virada sensacional, talvez lendária e que mudaria minha vida por completo, algo que eu mesmo seria o autor, enfim o personagem principal da minha história: iria chamar Angelina Johnson para sair. 

Entrei na casa acompanhado por Fred e Lino, ambos falando pelos cotovelos sobre a última partida de futebol em que nosso time, os Galdérios, haviam finalmente vencido, normalmente eu também estaria animado com isso, participaria animadamente da conversa, mas naquele instante meu estômago parecia apenas ser capaz de pular para fora do meu corpo, tamanho o nervosismo que sentia.

A sala de estar de Angie estava semi lotada, vários colegas de classe e alunos de outras turmas se espalhavam pelo sofá turquesa e pufs da mesma cor, conversando e bebendo coca diet; no som tocava música pop, o que instigava algumas garotas mais desinibidas a dançarem coreografias complicadas em um canto mais próximo à cozinha.  

-- Andem logo manés, vamos logo falar com a anfitriã. -- disse Fred para Lino e eu, estampando o que mamãe chamava de sorriso "endemoniado". Fiquei em alerta na mesma hora, quando meu gêmeo exibia aquele sorriso significava uma coisa muito específica: tudo e todos poderiam sofrer uma pegadinha daquelas. Decidi não participar daquela vez, tinha coisas mais importantes para lidar naquele momento. 

Coisas tipo Angelina sentada em uma banqueta com os cotovelos apoiados no balcão, sorvendo um sprite pelo canudo e conversando despretensiosamente com Alicia Spinnet. Os cabelos soltos chegavam até a cintura esbarrando na calça jeans de cintura baixa, desde que a vi pela primeira vez, era fascinado pelos fios totalmente pretos e enroladinhos.

Fred sequer me deu tempo para formular um "oi", quando percebi meu gêmeo estava ali, curvado sobre a banqueta exibindo seu melhor sorriso de "sim, eu sou o melhor daqui, gata"; fiquei quieto, observando Angelina enrolar uma mecha de cabelo sorrindo graciosa para ele, mal percebendo que Lino e eu estávamos ali.

-- Que bom que veio, Weasley. -- disse mordendo o lábio inferior.

-- Não recusaria um convite seu nem que me pagassem, Angel. 

Lembro bem da sensação horrível na boca do estômago e de recuar um passo, eu já tinha visto Fred flertar, sabia o que estava acontecendo e se meu gêmeo estava no jogo eu não tinha a menor chance. 

-- Vocês querem uma bebida? -- perguntou Spinnet, educadamente.

Lino respondeu um aparvalhado "sim" e me puxou para que fôssemos até a mesa de drinques, acabei me deixando levar, ainda com o peso e certa raiva crescendo devagar dentro de mim; peguei a coca e virei sem cerimônia, do outro lado da sala, Fred segurava a mão de Angelina e acariciava seus dedos.

Pude sentir a raiva e o remorso vindo com tudo, inundando e me afogando. Não por Fred, nem por Angelina, mas por mim. Se eu não fosse tão lento, tão quieto e hesitante. Se eu fosse mais como ele e menos como eu teria falado, reagido, tomado alguma iniciativa. E com toda a certeza não iria largar o copo na mesinha e sair daquele lugar com lágrimas escorrendo pelas bochechas e me esconder o resto da tarde debaixo das minhas cobertas.

Não briguei com Fred. Ele sequer sabia que eu gostava dela e àquela altura seria inútil, quando meu gêmeo chegou em casa veio direto até mim e perguntou o porquê de eu ter saído da festa sem avisar. Falei que estava passando mal e que a maioria daquelas pessoas era chata demais para meu esforço, isso fez meu gêmeo gargalhar. 

Cavaleiro SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora